HOJE É
DOMINGO
DOMINGO
(Da minha cidade de Santarém)
Reconheço que interiorizei a crise em
que o país vive e tal como um qualquer vírus ele entrou em mim, já não sou o
mesmo. Sinto e reajo de maneira diferente embora, pessoalmente, não me deva
queixar. É certo que já não conto com os meus subsídios de Férias e de Natal mas
já há uns tempos me tinha percebido que eles estavam a mais na minha vida e a
menos nas possibilidades do país. Por isso, há muito que os venho guardando…um
dia, por este andar, o governo não vai poder pagá-los, temia eu...
Na quarta-feira passada, penúltima do
mês, fui, como é hábito, a Lisboa almoçar com os meus colegas de curso – a
minha neta chama-lhe o almoço dos velhotes - numa agradável viagem de comboio
que a CP me serve por metade do preço atendendo que já passei dos sessenta e
cinco anos. Os impostos dos meus concidadãos pagam a outra metade…
A meio da manhã, quando cheguei, a minha
cidade natal estava linda e do lado esquerdo da estação dos comboios de Santa
Apolónia, estavam atracados enormes e luxuosos paquetes de cruzeiros que já
tinham despejado milhares de turistas muitos deles, acredito que a maior parte,
visitavam Lisboa pela primeira vez.
O sol estava radioso mas de que valeria
se ele não brilhasse naquele céu tão azul, naquela luminosidade ímpar tão rica e cheia de contrastes com o relevo da cidade, o encarnado vivo dos telhados das casas e as águas verde-azuladas do
estuário do Tejo?
Do alto do Parque Eduardo VII, deixando
correr a vista por ali abaixo, desfrutava-se a mais linda cidade da Europa. Num
primeiro plano, o verde e as flores do jardim ladeadas pelas calçadas que descem
até à Rotunda em que o Marquês de Pombal é rei e senhor.
De um lado e do outro colinas, ou não
fosse Lisboa a “cidade das sete colinas…”, mas o vale continua pela Av. da
Liberdade, Praça dos Restauradores, Rossio, Rua do Ouro e finalmente abre-se,
através do Arco da Rua Augusta, para o Largo do Terreiro do Paço, no centro do
qual, D. José I, imponente, do alto do seu cavalo aceita a vassalagem que as
águas do estuário do Tejo lhe prestam.
O trânsito estava entupido por causa das
obras que decorriam na Rua da Ribeira das Naus, disse-me o motorista do táxi.
Ainda bem, pensei eu: “haja alguém que dê trabalho mesmo que depois fiquemos
pendurados no trânsito.” Noutros tempos teria pensado: “Que chatice, só obras,
só obras…”
Chegado ao Rossio cruzei-me com
autocarros descapotáveis carregados com turistas dos cruzeiros, cabecinhas
loiras ao sol de Lisboa.
Diz Chris, prestes a regressar:
“Passámos por Cannes, Barcelona, Málaga e esta é a melhor cidade.” Elogia as
nossas muitas Igrejas, o “espírito relaxado das pessoas”, os “taxistas
amigáveis” e o nosso vinho do Porto. “Vamos voltar em Dezembro”.
Que bem me sabe ouvir estes comentários.
Estamos frágeis, sentimos o risco que o nosso futuro encerra e estas palavras
são um alento, um estímulo, uma promessa velada de “estamos convosco”.
Foram 9.500 passageiros em viagem de
cruzeiros de luxo que nesse dia nos visitaram e terão deixado cerca de 500.000
euros no comércio lisboeta mas, quase tão importante, foi a sua presença, as suas
palavras.
Vivemos “demasiados” anos em segurança,
acostumámo-nos a uma estabilidade que julgávamos para sempre mas que afinal apenas
existia nos discursos de políticos enganadores e fraudulentos.
Mas esta bela Lisboa faz parte do nosso
património perene, não é vendável nem penhorável, está a salvo. Pena, os
prédios degradados, as janelas entaipadas, os vidros partidos, as pinturas
destruídas e os graffitis de mau gosto. Se um dia mandasse em Lisboa com
poderes discricionários proibiria a construção de novos prédios enquanto
houvesse um, bastava um, que estivesse degradado porque aqui lo
que ofende a minha vista como sinal de desleixo e falência colectiva não passa
despercebido aos nossos visitantes.
Entretanto, Cascais, a “capital” da
linha do Estoril, a mais linda e extensa linha de costa de todo o litoral
europeu, ponto de partida para uma visita a Sintra com o seu incomparável palácio
e jardins, recebeu o Seven Seas Mariner, o primeiro de 11 cruzeiros de luxo que
vêm à baía de Cascais até ao fim de 2013 num projecto vencedor de um concurso
de ideias e negócios.
Percorrer a linha de costa de Lisboa a
Cascais com um saltinho, mais à frente, à Boca do Inferno, era um dos passeios
que em criança a minha família me proporcionava e de que fiquei admirador
incondicional para o resto da vida.
(Click na imagem do painel de azulejos do antigo e desavtivado quartel de bombeiros, situado no centro da cidade e que aguarda melhores tempos para receber outro destino. Por enquanto, e desconfio que por muitos anos, vamos-nos revendo no velhinho painel de azulejos)
(Click na imagem do painel de azulejos do antigo e desavtivado quartel de bombeiros, situado no centro da cidade e que aguarda melhores tempos para receber outro destino. Por enquanto, e desconfio que por muitos anos, vamos-nos revendo no velhinho painel de azulejos)
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