sexta-feira, agosto 24, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 175


Gabriela ia andando, aquela canção ela a cantara em menina. Parou a escutar a ver a roda a rodar. Antes da morte do pai e da mãe, antes de ir para a casa dos tios.

Que beleza os pés pequeninos no chão a dançar! Seus pés reclamavam, queriam dançar. Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar.

Arrancou os sapatos, largou na calçada, correu prós meninos. De um lado Tuísca, do outro lado Rosinha. Rodando na praça, a cantar e a dançar:

Palma, palma, palma
Pé, pé, pé.
Roda, roda, roda…
Caranguejo peixe é.

A cantar, a rodar, as palmas bater, Gabriela menina.


Das Flores e dos Jarros


Atingira a luta política também as eleições da confraria de São Jorge, em plena Catedral. Muito desejara o Bispo conciliar as correntes, repetir o tento lavrado por Ataúlfo Passos. Gostaria de ver reunidos em torno do santo guerreiro os fiéis dos bastos e os entusiastas de Mundinho. Todo Bispo que era, de barrete vermelho, não conseguiu.

A verdade era que Mundinho não levava a sério aquela história da confraria. Pagava por mês e acabou-se. Disse ao Bispo estar disposto a votar, se lá fosse votar, no nome que ele indicasse. Mas o Doutor, de olho na presidência, fez pé firme. Começou a cabalar. Dr. Maurício Caíres, devoto e devotado, era candidato à reeleição. E a deveu sobretudo ao engenheiro.

Repercutira intensamente na cidade o agitado fim do namoro. Apesar de o diálogo na praia, entre Melk e Rómulo, não ter sido ouvido por ninguém, existiam dele pelo menos uma dez versões, cada qual mais violenta, menos simpática ao engenheiro. Até de joelhos o puseram junto ao banco da avenida, a suplicar piedade.

Transformaram-no num monstro moral, de vícios inconfessáveis, aliciando mulheres, pavoroso perigo para a família ilheense. O Jornal do sul dedicou-lhe um dos seus artigos mais longos – toda a primeira página, continuando pela segunda – e mais grandiloquentes. A moral, a Bíblia, a honra das famílias, a dignidade dos Bastos, sua vida exemplar, a devassidão de todos os oposicionistas a começar pela do seu chefe, Anabela e a necessidade de conservar ilhéus à margem da degradação de costumes que ia pelo mundo, faziam desse artigo uma página antológica. Aliás, várias páginas.

Para a Antologia da imbecilidade… - dissera o Capitão.

Paixão política. Porque em Ilhéus o saborearam, sobretudo as solteironas, quando o Dr. Maurício Caíres repetiu grandes trechos do artigo como discurso de posse, reeleito que fora para a presidência da Confraria: “… aventureiros vindos dos centros de corrupção, a pretexto de discutíveis e inúteis trabalhos, querem perverter a alma incorruptível do povo de ilhéus…”

(Click na imagem: Vamos beber à saúde?... mas de quem? - À nossa, á dos  meus amigos e, porque não, à dela que foi da idéia?)

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