quinta-feira, agosto 23, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 174



 - Pra ver quem?

 - Pra ver seu Nacib.

Dizer mais não precisava, derretia-se todo. As solteironas olhavam, os homens olhavam, o padre Basílio vinha da Igreja, a bênção lhe dava:

 - Deus te abençoe, minha rosa de Jericó.

Não sabia o que era, mas era bonito. Dia gostoso, o de ir ao dentista. Na sala de espera se punha a pensar. Seu coronel Manuel das Onças, apelido engraçado, velho teimoso, mandara um recado: se ela quisesse, no nome dela botava uma roça plantada, preto no branco, no cartório.

Uma roça… Não fosse seu Nacib tão bom, e o velho tão velho, e ela aceitava. Não para ela, de que lhe servia? Roça para quê? Para ela mesmo queria não… mas para dar para Clemente, ele tanto queria… Onde andava Clemente? Ainda estaria na roça do pai da moça bonita, a do engenheiro? Mal feito bater de chicote na pobre.

Que fizera de mais? Se tivesse uma roça daria a Clemente. Que bom que seria… Mas seu Nacib não entenderia, não ia deixá-lo sem cozinheira. Se não fosse por isso, podia aceitar. O velho era feio, mas passava na roça um mundo de tempo e, nesse tempo, seu Nacib podia vir consolar, com ela deitar…

Tanta bobagem para pensar. Pensar, umas vezes era bom, outras não era. Pensar em defunto, em tristeza, gostava não. Mas de repente pensava. Nos que tinham morrido na estrada, seu tio entre eles. Coitado do tio. Lhe batia em pequena. Se meteu em sua cama, ela ainda menina. A tia arrancava os cabelos, xingava nomes, ele a empurrava, lhe dava tabefes.

Mas não era ruim, era pobre de mais, não podia ser bom. Pensar coisa alegre, isso gostava. Pensar nas danças da roça, os pés descalço batendo no chão. Na cidade iluminada onde estivera quando a tia morrera, na casa tão rica de gente orgulhosa. Pensar em Bebinho. Isso era bom…

Certa gente também só conservava tristezas. Que coisa mais tola… Dª Arminda tinha dias: amanhecia amuada, lá vinham tristezas, amarguras, doenças. Não falava outra coisa. Amanhecia contente, sua prosa era um pão. Um pão com manteiga, gostosa, só vendo. Falava das coisas, contava dos partos, os meninos nascendo. Isso era bom.

O dente curado, que pena! Dente de ouro. Seu Nacib era um santo, pagava ao dentista sem ela pedir. Um santo ele era, a dar-lhe presentes, tantos, para quê?

Quando a visse no bar, reclamaria. Tinha ciúmes… Que engraçado…

 - Que fazes aqui? Vai andando para casa…

Ia andando para casa. Vestida de fustão, enfiada em sapatos, com meias e tudo. Em frente à Igreja, na praça, as crianças brincavam brinquedos de roda. As filhas de seu Tonico, cabelos tão loiros, pareciam de milho. Os meninos do promotor, o doentinho do braço, aqueles sadios de João Fulgêncio, os afilhados do padre Basílio. E o negrinho Tuísca, no meio da roda, a cantar e a dançar:

A rosa ficou doente,
O cravo foi visitar,
A rosa teve um desmaio,
O cravo pôs-se a chorar.

(Click 2 vezes na imagem. Parece que os conceitos de beleza física têm um pouco a ver com os seus contrastes. As pessoas do Sul da Europa, mais predominantemente morenas, preferem as louras e as do Norte, pelo contrário, mais branquinhas, as morenas. A ser verdade, e parece que sim, pode concluir-se que a natureza terá feito a sua "forcinha" para misturar tudo, optando pelos híbridos, Não gosta dos "puros", lá terá as suas razões... e ela quase nunca se engana. Assim, os homens e as mulheres sentem-se mais atraídos pelos seus contrários. Eu, que tenho olhos azuis-esverdeados, nunca trocaria esta morena por nenhuma loira...)

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