segunda-feira, setembro 17, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 194




Até quando Gabriela persistiria recusando-se á vida social, a conduzir-se como uma senhora da sociedade de Ilhéus, como sua esposa?

Afinal ele não era um pobre diabo qualquer, era alguém o Sr. Nacib A. Saad, com crédito na praça, dono do melhor bar da cidade, com dinheiro no banco, amigo de toda a gente importante, secretário da Associação Comercial. Agora falavam em seu nome até para a directoria do Clube Progresso.

E ela metida em casa, saindo apenas para o cinema com Dª Arminda, ou com ele aos Domingos, como se nada houvesse mudado em sua vida, fosse ainda aquela Gabriela sem sobrenome que ele encontrara no «mercado dos escravos», não fosse a Srª Gabriela Saad.

Para convencê-la para não ir levar a marmita ao bar fora uma luta, ela até chorara. Para calçar sapatos era um inferno. Para não falar alto no cinema, não mostrar intimidade com as empregadas, não ir debochada, como antes, para cada freguês do bar encontrado por acaso. Para não usar, quando saíam a passear, rosa atrás da orelha! Deixar conferência por um circo mais mambembe…

Gabriela encolheu-se, perdida. Porque seu Nacib se zangara? Estava zangado, virado de costas, sem tocá-la sequer. Sentia falta do peso da sua perna na anca. E dos carinhos habituais, da festa no leito.

Estaria zangado por Tuísca ter-se contratado de artista sem consultá-lo? Tuísca era parte do bar, ali tinha sua caixa de engraxar, ajudava nos dias de muita freguesia. Não era com Tuísca, não, que ele estava zangado. Era com ela. Não a queria no circo, porquê?

Queria levá-la para ouvir doutor na sala grande da Intendência. Gostava não! No circo podia ir com os velhos sapatos onde cabiam seus dedos esparramados. Na Intendência tinha de ser vestida de seda, de sapato novo, apertado. Toda aquela lordeza, reunida, aquelas mulheres que a olhavam de cima, que riam dela. Gostava não. Porque seu Nacib fazia tanta questão?

No bar ele não a queria, tanto ela gostava de ir… Tinha ciúmes, era engraçado. Não ia mais, fazia a vontade, não queria ofendê-lo, tomava cuidado. Mas porque obrigá-la a fazer tanta coisa sem graça, enjoada? Não podia entender.

Seu Nacib era bom, quem podia duvidar? Quem podia negar? Porque então ficava zangado, virava as costas, só porque ela pedira para ir ao circo? Dizia que ela era uma senhora, a Srª Saad.

Não era não, era só Gabriela, de alta-roda gostava não. Dos moços bonitos da alta-roda gostava sim. Mas não reunidos em lugar importante. Ficavam tão sérios, não diziam gracinhas, não sorriam para ela.

Gostava de circo, não havia no mundo coisa tão boa. E mais com Tuísca contratado de artista… Morreria de pena se não fosse… Nem que fugisse.

Dormindo. Inquieto, Nacib passou-lhe a perna sobre a anca. Seu sono sossegou. Ela sentiu o peso habitual, não queria ofendê-lo.
(Esta era a postura que seu Nacib gostaria de ver em Gabriela... mas para quê procurar onde não existe?)

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