GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 197
Coisa mais sem gosto ela nunca assistira. O grandão
bebia água, ela começava a ter sede.
- Tou com sede…
- Psiu…
- Quando é que
acaba?
O tal doutor ia virando as folhas de papel. Demorava
um tempão lendo cada uma. Se seu Nacib também não gostava, caía de sono, porque
é que vinha? Que coisa mais esqui sita,
porque é que vinha, pagava entrada, largava o bar, no circo não ia? Entendia
não… E se zangava, virava costas, porque ela pedia para não vir. Coisa esqui sita.
Palmas e palmas, arrastar de cadeiras, todo o mundo
andando para o tablado. Nacib a levou. Apertavam a mão do homem, diziam-lhe
palavras de gabação!
- Formidável!
Maravilhoso! Que astro! Que talento!
Seu Nacib também:
- Como gostei…
Não tinha gostado, estava mentindo, ela sabia quando
ele gostava. Dormira um bocado, porquê gabação? Trocavam cumprimentos com os
conhecidos. O Doutor, seu Josué, seu Ari, o Capitão não soltavam o homem.
Tonico, com Dª Olga, tirava o chapéu, aproximava-se.
- Boa noite,
Nacib. Como vai Gabriela? – Dª Olga sorria. Seu Tonico todo circunspecto.
Esse seu Tonico, moço bonito a valer, o mais bonito de
todos, era um finório. D.ª Olga presente, parecia um santo de Igreja. Mal saía
Olga ficava todo meloso, derretido, encostava-se nela, chamava-a” beleza”
soprava-lhe beijos.
Dera-lhe para andar na ladeira, parava na sua janela
quando a via, de afilhada a tratava desde o casamento. Fora ele, dizia-lhe,
quem convencera Nacib a casar. Trazia-lhe bombons, botava-lhe uns olhos, tomava-lhe
a mão. Um moço bonito, bonito a valer.
A rua entupida de gente andando. Nacib apressado, o
bar ia encher. Ela apressada por causa do circo. Ele nem a levou à porta,
despediu-se no meio da ladeira deserta. Foi pela praia, seu Mundinho ia entrando
em casa, ficou a mirá-la. Evitou o bar andando depressa, chegou ao porto.
Era um circo miúdo, quase sem luzes. Levava o dinheiro
apertado na mão, não tinha quem vendesse entrada. Afastou o pano da porta,
entrou. A segunda parte começara, mas não viu Tuísca. Sentou no galinheiro,
prestou atenção. Aqui lo é que era
coisa de ver-se. E Tuísca chegou tão engraçado, vestido de escravo. Gabriela
aplaudiu, não se conteve, gritou:
- Tuísca!
O moleque nem ouviu. Era uma história triste de um
palhaço infeliz, a mulher ruim o havia largado.
(Click nesta imagem da "juventude desnuda")
<< Home