quinta-feira, setembro 20, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 197

Coisa mais sem gosto ela nunca assistira. O grandão bebia água, ela começava a ter sede.

 - Tou com sede…

 - Psiu…

 - Quando é que acaba?

O tal doutor ia virando as folhas de papel. Demorava um tempão lendo cada uma. Se seu Nacib também não gostava, caía de sono, porque é que vinha? Que coisa mais esquisita, porque é que vinha, pagava entrada, largava o bar, no circo não ia? Entendia não… E se zangava, virava costas, porque ela pedia para não vir. Coisa esquisita.

Palmas e palmas, arrastar de cadeiras, todo o mundo andando para o tablado. Nacib a levou. Apertavam a mão do homem, diziam-lhe palavras de gabação!

 - Formidável! Maravilhoso! Que astro! Que talento!

Seu Nacib também:

 - Como gostei…

Não tinha gostado, estava mentindo, ela sabia quando ele gostava. Dormira um bocado, porquê gabação? Trocavam cumprimentos com os conhecidos. O Doutor, seu Josué, seu Ari, o Capitão não soltavam o homem. Tonico, com Dª Olga, tirava o chapéu, aproximava-se.

 - Boa noite, Nacib. Como vai Gabriela? – Dª Olga sorria. Seu Tonico todo circunspecto.

Esse seu Tonico, moço bonito a valer, o mais bonito de todos, era um finório. D.ª Olga presente, parecia um santo de Igreja. Mal saía Olga ficava todo meloso, derretido, encostava-se nela, chamava-a” beleza” soprava-lhe beijos.

Dera-lhe para andar na ladeira, parava na sua janela quando a via, de afilhada a tratava desde o casamento. Fora ele, dizia-lhe, quem convencera Nacib a casar. Trazia-lhe bombons, botava-lhe uns olhos, tomava-lhe a mão. Um moço bonito, bonito a valer.

A rua entupida de gente andando. Nacib apressado, o bar ia encher. Ela apressada por causa do circo. Ele nem a levou à porta, despediu-se no meio da ladeira deserta. Foi pela praia, seu Mundinho ia entrando em casa, ficou a mirá-la. Evitou o bar andando depressa, chegou ao porto.

Era um circo miúdo, quase sem luzes. Levava o dinheiro apertado na mão, não tinha quem vendesse entrada. Afastou o pano da porta, entrou. A segunda parte começara, mas não viu Tuísca. Sentou no galinheiro, prestou atenção. Aquilo é que era coisa de ver-se. E Tuísca chegou tão engraçado, vestido de escravo. Gabriela aplaudiu, não se conteve, gritou:

 - Tuísca!

O moleque nem ouviu. Era uma história triste de um palhaço infeliz, a mulher ruim o havia largado.
(Click nesta imagem da "juventude desnuda")

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