CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 195
No outro dia, ao sair, ele
lhe avisou:
- Depois do aperitivo da tarde, venho jantar
em casa, me preparar para a conferência. Quero te ver toda elegante, vestido
bonito, de fazer inveja a qualquer outra.
Sim, porque lhe comprara e
continuava a comprar vestidos de seda, sapatos, chapéus, até luvas. Dera-lhe
anéis, colares verdadeiros, pulseiras, não medira dinheiro.
Queria-a tão bem vestida
como a senhora mais rica, como se isso apagasse o seu passado, as queimaduras
do fogão, o sem jeito de Gabriela. Vestidos pendurados no armário, em casa ela
andava de chita, em chinelas ou descalça, às voltas com o gato e com a cozinha.
Que adiantavam as duas
empregadas? A arrumadeira mandara embora, para que prestava? Consentira em
entregar a lavagem da roupa, mas fora para ajudar a mãe de Tuísca. A menina na
cozinha de pouco servia.
Não queria ofendê-lo. A
conferência estava marcada para as oito horas, o circo também. D.ª Arminda lhe
disse que essa tal de conferência não durava mais de uma hora e Tuísca só
aparecia na segunda parte do espectáculo. Era uma pena perder a primeira, o
palhaço, o trapézio, a moça no arame. Mas não queria ofendê-lo, não queria
magoá-lo.
Pelo braço de Nacib enfiado
na roupa azul do casamento, vestida como uma princesa, os sapatos doendo,
atravessou as ruas de Ilhéus e subiu, desajeitada, as escadas da Intendência.
O árabe parava para
cumprimentar amigos e conhecidos, as senhoras olhavam para Gabriela de alto a
baixo, cochichavam e sorriam. Ela sentia-se sem jeito, atrapalhada, com medo.
No salão nobre, muitos homens de pé; ao fundo, senhoras sentadas.
Nacib a levou para a segunda
fila de cadeiras, fê-la sentar-se, saíu para o lado onde estavam Tonico,
Nhô-Galo e Ari a conversar. Ela ficou sem saber que fazer. Perto dela, a mulher
do doutor do doutor Demóstenes, empertigada, de “lorgnon” e capa de pele – com
aquele calor! – a mirou de relance, virou a cabeça. Palestrava com a mulher do promotor. Gabriela
começou a olhar o salão, era uma beleza, até doía na vista.
Em certo momento voltou-se
para a esposa do médico, perguntou:
- Que hora acaba?
Riram em redor. Ficou mais sem
jeito, porque seu Nacib a fizera vir? Gostava não.
- Ainda não começou.
Finalmente, um homem grandão
e de peito estufado, subiu, junto com o Dr. Ezequi el,
no estrado, onde tinham posto duas cadeiras e a mesa com moringa de vidro e um
copo.
Todo o mundo bateu palmas.
Nacib sentara-se a seu lado, Dr. Ezequi el
levantou-se, pigarreou, encheu o copo de água.
- Excelentíssimas senhoras, meus senhores:
hoje é um dia marcado com vermelho na folhinha da vida intelectual de Ilhéus.
Nossa culta cidade hospeda, com orgulho e emoção o estro inspirado do poeta
Argileu Palmeira, consagrado…
(Click na imagem desta jovem que procura segurar a roda da vida naquele momento mágico em que ela é linda e jovem)
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