PREVISÕES OU FUTUROLOGIA
A reboque dos tempos que correm, lembrei-me de vos falar do exercício da futurologia, mais prosaicamente, a adivinhação, numa linguagem mais moderna, previsões.
O difícil, aliciante e irresistível neste
exercício é que as nossas previsões não traduzam, mesmo inconscientemente, os
nossos desejos, correspondam aos nossos interesses materiais ou ideológicos,
condicionando e enviesando o comportamento dos outros na tentativa de “driblar”
o futuro.
Jesus Cristo, por exemplo, confundiu os
seus desejos com a realidade futura e enganou-se. Acreditou no fim do mundo e
na vinda do Reino de Deus… afirmou-o, prometeu-o. Por isso, ou por um simples e
ingénuo desejo de justiça igualitária, alguns dos seus seguidores, os ricos,
venderam tudo o que tinham, distribuíram os bens pelos pobres e ficaram em paz
a aguardar o fim do mundo prometido pelo mestre.
Mesmo enganando-se nas previsões de fim
do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus Cristo, terá sido
o homem que mais influenciou os destinos de toda a humanidade. Falhou como
futurologista, acertou em cheio com a mensagem.
Depois de Jesus Cristo, muitos outros
têm previsto o fim do mundo (a mais apocalíptica das previsões…) e se
continuarmos nesta senda corremos o risco de, com previsão ou sem ela, ele
acabar mesmo, pelo menos tal como o conhecemos hoje.
Na realidade, todos os dias o mundo acaba para
os que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens que se
alteram, mas isso já não é futurologia…
Governar é prever e, se olharmos para a
história, ficamos alarmados com as consequências para a humanidade pelos erros
cometidos no campo das previsões.
Ainda há poucos dias, João Cravinho, um
dos responsáveis por obras de infra estruturas deste país, ao nível de pontes e
auto estradas, construídas com o recurso às Parecerias Público Privadas (PPP),
admitia que todas as previsões que serviram de base aos pressupostos que
levaram à construção dessas obras com os encargos financeiros delas
resultantes, estavam errados, falharam completamente.
Vamos ter que pagar pontes e auto
estradas com escasso tráfego e ficámos, para além das dívidas, com o país
rasgado, montes e vales separados, as aldeias isoladas, esquecidas e os automóveis nos
stands à espera de futuros donos que tenham dinheiro ou crédito para os comprar, a eles, à
gasolina e às portagens, tudo porque falharam as previsões para o futuro…
Menos perigoso, quase ingénuo ou
inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões
sobre aqui lo que teria sido o
presente se tivéssemos podido alterar o passado, história ainda mais
complicada…
Por exemplo: como teria sido a vida dos
portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos
Cravos, em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem
morrido num estranho acidente de avioneta na noite fatídica de 4 de Dezembro de
1980?
Como estaríamos nós agora se não
tivessem descoberto e posto em prática essa “engenharia” das PPP (Parcerias
Público Privadas) que é uma maneira de hipotecar o futuro como se o mundo
acabasse amanhã?
Mas nesta história do se… abre-se agora
uma nova janela, aliciante, que nos permitirá regressar ao passado e alterá-lo
criando um outro futuro mais ao nosso jeito, pelo menos diferente deste. E
como?
-
Cavalgando um Neutrino.
-
Ah!, os meus amigos não sabem o que é um Neutrino? É uma partícula subatómica
que os físicos europeus já afirmam ser mais rápida que a luz (o que diria
Einstein…) o que, a ser verdade e em hipótese, permitir-nos-á viajar no tempo, regressar
ao passado, andar para trás, “voltar lá…”, estão a perceber…
Cavalgando um Neutrino, meteríamos os Drs. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa num avião como deve ser e não aquele “cangalho desafinado e a cair de velho” ou então não teríamos permitido que um criminoso lhe colasse uma bomba antes dele levantar voo.
Teríamos, igualmente, impedido as PPP daquela maneira desenfreada que nos vão custar não sei quantos milhões, lá para 2017 (o que faz de Portugal o campeão europeu das PPP), etc… etc…”
Cavalgando um Neutrino, meteríamos os Drs. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa num avião como deve ser e não aquele “cangalho desafinado e a cair de velho” ou então não teríamos permitido que um criminoso lhe colasse uma bomba antes dele levantar voo.
Teríamos, igualmente, impedido as PPP daquela maneira desenfreada que nos vão custar não sei quantos milhões, lá para 2017 (o que faz de Portugal o campeão europeu das PPP), etc… etc…”
É esta capacidade que a nossa espécie,
Homo Sapiens Sapiens, tem e mais nenhuma outra possui: fazer voar a imaginação,
sonhar através dela, recriar a realidade, construir só para nós uma outra onde
seremos felizes para sempre… como nas histórias da nossa avózinha!
Numa entrevista com um físico japonês
especialista nas Teorias de Einstein perguntaram-lhe:
-
Bem, e se pudermos viajar no tempo, regressar ao passado e alterá-lo como fica
depois a realidade?
-
Ficarão duas realidades, a que estava continua e começa outra a partir dos
factos alterados… respondeu ele.
Ou seja, digo eu, teríamos um Portugal
sem Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, que já conhecemos, que o vivemos
inclusivamente, e um outro resultante da continuação entre nós daqueles dois
grandes políticos que começaria no exacto momento, 4 de Dezembro de 1980, em
que interferíamos no passado impedindo-os de entrarem no calhambeque voador e
assassino…
A confusão seria tanta que o preferível
é mesmo o Neutrino aceitar a velocidade da luz estabelecida por Einstein como a
velocidade máxima… e deixar à imaginação o que é da imaginação e à realidade o
que é da realidade.
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