quinta-feira, novembro 15, 2012

A beleza  femenina parece não ter limites...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 140


Ali estava a história romântica em todos os seus detalhes, com abundância de citações de autores e de versos de Teodoro. Folheto que veio coroar de glória a venerável cabeça do ilustre ilheense.

É bem verdade que um crítico da capital, invejoso certamente, achou o magro volume ilegível, de uma “bestice além de todos os limites admissíveis”. Mas tratava-se de indivíduo de maus bofes, esfomeado rato de redacção, autor de mordazes epigramas contra as mais lídimas glórias baianas.

Em compensação, de mundo novo, onde se dedicava a construir uma quarta família, o eminente vate Argileu Pereira escreveu também para o jornal da Baía seis páginas laudatórias onde cantou a paixão de Ofenísia «precursora do amor livre no Brasil». Outra observação curiosa, apesar do seu carácter literário, fez Nhô-Galo conversando, na Papelaria, com João Fulgêncio.

 - Já reparaste, João, que a nossa avó Ofenísia mudou um pouco de físico na brochura do Doutor? Antes, me lembro muito bem, era uma magricela, parca de carnes como um pedaço de jabá. No livrinho engordou, leia a página catorze. Sabe com quem parece o retrato de agora? Com Gabriela…

Riu João Fulgêncio, seu riso inteligente e sem maldade.

 - Quem não se apaixonou por ela na cidade? Se ela fosse candidata a Intendente, derrotaria o Capitão e Maurício, até os dois juntos. Todo o mundo votava nela.

 - Não as mulheres…

 - Mulher não tem direito a voto, compadre. Ainda assim, algumas votavam. Ela tem qualquer coisa que ninguém tem. Você não viu no baile de Ano Novo?

Quem arrastou todo o mundo para a rua, para dançar reisado?

Creio que é essa força que faz as revoluções, que promove as descobertas. Para mim não há nada que eu goste tanto como ver Gabriela no meio de um bocado de gente. Sabe o que eu penso? Numa flor de jardim, verdadeira, exalando perfume, no meio de um bocado de flores de papel…

Aqueles dias, porém, da publicação do livro do Doutor foram dias de Ofenísia, e não de Gabriela. Uma nova onda de popularidade envolveu a memória da nobre Ávila a suspirar apaixonada pelas barbas reais. Dela falou-se nas casas, na hora do jantar, no Clube Progresso – agora em constante animação de «assustados» e chás dançantes – entre rapazes e moças nos passeios vespertinos e actualmente habituais pela avenida na praia, nas marinetes, nos trens, em discursos e em versos, nos jornais e nos bares.

Até nos cabarés. Certa espanhola novata, de nariz adunco e olhos negros, apaixonou-se perdidamente por Mundinho Falcão. Mas o exportador estava ocupado com uma cantora de música popular que trouxera do Rio em sua última viagem, após o ano Novo. Ante os suspiros da espanhola, seus perdidos olhares, logo um engraçado qualquer a apelidou de Ofenísia.

E o nome pegou, ela o levou consigo mesmo após partir de Ilhéus para os garimpos de Minas Gerais.

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