GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 168
- Ora, porquê… por causa da biblioteca da Associação
Comercial, dos bailes do Progresso, da linha de marinetes, dos trabalhos da
barra… Por causa do filho quase doutor, da morte de Ramiro Bastos e por causa
de Mundinho Falcão…
Silenciou um instante,
Nacib atendia a outra mesa:
- Por causa de Malvina, por causa de Nacib.
As janelas fechadas da ex –
casa de Glória eram uma nota melancólica na paisagem da praça. O Doutor
reflectiu:
- Sinto falta, devo confessar, de sua estampa
emoldurada na janela. Já estávamos acostumados.
Ari Santos suspirou
recordando os seios altos como uma oferta, o constante sorriso, os olhos de
dengue.
Quando voltasse ela de
Itabuna (para onde viajara em companhia de Josué, por uns dias), onde iria
morar, em que janela se debruçaria, para que olhos exibiria seios e sorrisos,
lábios carnudos e olhos molhados?
- Nacib! - chamou João Fulgêncio. – Você
precisa de tomar providências, meu caro. Providências urgentes! Mudar de
cozinheira e conseguir a casa de Coriolano para nela novamente instalarmos
Glória. Sem o que, ó preclaro descendente de Maomé, esse bar vai à garra…
Nhô-Galo sugeriu uma
subscrição dos fregueses para pagar o aluguer da casa e nela repor, em meio de
grande festa, a carnação de Glória.
- E a elegância de Josué, quem vai pagar? -
Lançou Ari.
Pelo que parece será o
nosso Ribeirinho… – disse o Doutor.
Nacib ria mas estava
preocupado. Dando um balanço em seus negócios, necessário em vista da próxima
inauguração do restaurante, botara as mãos na cabeça. Talvez para constatar
ainda a possuir, tanto a perdera nesses meses. É natural que, nas semanas
iniciais após a descoberta de Tonico nu em seu quarto, não ligasse para o bar,
esquecesse o projecto do restaurante.
Viveu aqueles dias a ganir
de dor, vazio com a ausência de Gabriela, sem pensar. Mesmo depois, porém, só
fizera besteiras.
Aparentemente, tudo
voltara ao normal. Os fregueses lá estavam, jogando dama e gamão, conversando,
rindo, bebendo cerveja, bebericando aperitivos antes do almoço e do jantar. Ele
se refizera por completo, a ferida cicatrizada no peito, já não cercava Dª.
Arminda para saber de Gabriela, ouvir notícias das propostas recebidas e
recusadas.
Os fregueses, porém não
consumiam tanta bebida como antes, não gastavam tanto como no tempo de
Gabriela. A cozinheira mandada vir de Sergipe, passagem paga por ele, era um
blefe dos maiores. Não ia além do trivial, tempero pesado, comida gordurosa,
doces açucarados.
Os salgados para o bar,
uma porcaria. E exigente, querendo ajudantes, reclamando o trabalho, uma peste.
Ainda por cima um espantalho de feia, com verrugas e cabelos no queixo. Não
servia, evidentemente, nem para o bar quanto mais para chefiar a cozinha do
restaurante.
Eram os salgados e os
doces o incentivo à bebida, prendendo os fregueses, fazendo-os repetir as
doses. O movimento do bar não decrescera, continuava intenso, a simpatia de
Nacib mantinha firme a freguesia.
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