quarta-feira, dezembro 19, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 168

 - Ora, porquê… por causa da biblioteca da Associação Comercial, dos bailes do Progresso, da linha de marinetes, dos trabalhos da barra… Por causa do filho quase doutor, da morte de Ramiro Bastos e por causa de Mundinho Falcão…

Silenciou um instante, Nacib atendia a outra mesa:

 - Por causa de Malvina, por causa de Nacib.

As janelas fechadas da ex – casa de Glória eram uma nota melancólica na paisagem da praça. O Doutor reflectiu:

 - Sinto falta, devo confessar, de sua estampa emoldurada na janela. Já estávamos acostumados.

Ari Santos suspirou recordando os seios altos como uma oferta, o constante sorriso, os olhos de dengue.

Quando voltasse ela de Itabuna (para onde viajara em companhia de Josué, por uns dias), onde iria morar, em que janela se debruçaria, para que olhos exibiria seios e sorrisos, lábios carnudos e olhos molhados?

 - Nacib! - chamou João Fulgêncio. – Você precisa de tomar providências, meu caro. Providências urgentes! Mudar de cozinheira e conseguir a casa de Coriolano para nela novamente instalarmos Glória. Sem o que, ó preclaro descendente de Maomé, esse bar vai à garra…

Nhô-Galo sugeriu uma subscrição dos fregueses para pagar o aluguer da casa e nela repor, em meio de grande festa, a carnação de Glória.

 - E a elegância de Josué, quem vai pagar? - Lançou Ari.

Pelo que parece será o nosso Ribeirinho… – disse o Doutor.

Nacib ria mas estava preocupado. Dando um balanço em seus negócios, necessário em vista da próxima inauguração do restaurante, botara as mãos na cabeça. Talvez para constatar ainda a possuir, tanto a perdera nesses meses. É natural que, nas semanas iniciais após a descoberta de Tonico nu em seu quarto, não ligasse para o bar, esquecesse o projecto do restaurante.

Viveu aqueles dias a ganir de dor, vazio com a ausência de Gabriela, sem pensar. Mesmo depois, porém, só fizera besteiras.

Aparentemente, tudo voltara ao normal. Os fregueses lá estavam, jogando dama e gamão, conversando, rindo, bebendo cerveja, bebericando aperitivos antes do almoço e do jantar. Ele se refizera por completo, a ferida cicatrizada no peito, já não cercava Dª. Arminda para saber de Gabriela, ouvir notícias das propostas recebidas e recusadas.

Os fregueses, porém não consumiam tanta bebida como antes, não gastavam tanto como no tempo de Gabriela. A cozinheira mandada vir de Sergipe, passagem paga por ele, era um blefe dos maiores. Não ia além do trivial, tempero pesado, comida gordurosa, doces açucarados.

Os salgados para o bar, uma porcaria. E exigente, querendo ajudantes, reclamando o trabalho, uma peste. Ainda por cima um espantalho de feia, com verrugas e cabelos no queixo. Não servia, evidentemente, nem para o bar quanto mais para chefiar a cozinha do restaurante.

Eram os salgados e os doces o incentivo à bebida, prendendo os fregueses, fazendo-os repetir as doses. O movimento do bar não decrescera, continuava intenso, a simpatia de Nacib mantinha firme a freguesia.

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