terça-feira, dezembro 18, 2012


ISABELRainha Santa


Conta-se que indo ela, uma vez, de romagem a Santa Iria, virgem e mártir, que jaz na vila de Tomar, por duas vezes o rio caudaloso com o inverno que se desencadeara, parou de correr apartando-se as águas às duas margens para ela passar e voltar a Santarém.

Além de devota e clemente, dava tudo o apanhava à mão, os seus dinheiros e os do rei, as suas jóias e as iguarias da mesa, as boas palavras da sua alma e as flores frescas dos jardins, tudo o que pudesse servir de lenitivo a tristes e necessitados.

O esmoler recebera ordens terminantes: nunca negar esmola a quem a pedisse. Daí que, onde ela pousasse, acudiam como moscardos os pedintes: aleijados e vagabundos, leprosos e descarados, fradinhos de pé alceiro e ladrões dos quatro caminhos. E, reza a crónica que até de além fronteiras vinham pobres ao cheiro do maná que as mãos pródigas da rainha lançavam aos deserdados das varandas de seus paços e castelos.

Pelos pobres despojava-se de tudo, tomada do santo delírio da caridade e só não praticaria a liberalidade absoluta como Santa Eponina, porque, além do corpo lhe nascer fadado frio e incorruptível, seu espírito defendia-se da impureza como o arminho.

Relativamente às aventuras amorosas de El-Rei, seu marido, ignorava o que fosse ciúme, recebendo em sua casa os bastardos, dando de vestir, amas que os criavam e procurando mercês aos aios que os instruíam.

 O seu esposo tinha caído na devassidão mais desmedida. Não lhe bastavam as sete concubinas que tinha ao mesmo tempo por vilas e terras do reino, as açafatas do Paço e as próprias camareiras serviam a sua faminta libertinagem.

Daqui ficou o ditado que não representa apenas obediência à rima e se perpetuou:

 - «Este foi o Rei D. Dinis que fez tudo quanto quis».

A idade apaziguou-o e à semelhança do diabo que deu em ermita, entrou um dia no «caminho que devia, e sempre até à sua morte o seguiu e guardou».

Isabel gozou então de paz muros a dentro no seu Paço. Paz em seu coração de esposa, se é que alguma vez os zelos lhe abrasaram o seio que parecia inerte ao amor e a mais apetites da luxúria.

Mas Portugal, no seu tempo, dava um triste espectáculo de uma «casa da malta» envolvida em rixas reles e escarcéu.

Primeiro brigaram o Rei e o irmão. Brigaram depois pai e filho, herdeiro do trono. A boa da Rainha não compreendia os desmandos das «feras», e cada golpe, cada insulto que trocavam eram lanças em seu peito de mãe e de esposa.

Ela não fazia mais que interpor-se, desfeita em lágrimas, mãos postas, a implorar de uns e de outros que se aplacassem em sua ira e se perdoassem as injúrias de parte a parte em nome de Cristo Salvador que morrera pelos homens.

E, não é certo, que sem a sua intervenção, a história deste país não teria ficado marcada por mais crimes e violências cometidas de filhos para pais e destes para os filhos.

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