GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 172
Para experimentá-lo,
pediu-lhe que fizesse por fazer os salgados e doces para o bar e a comida para
ele, Nacib. Novamente botou as mãos na cabeça. A comida ficava caríssima, os
salgados também.
O Chefe de cuisine adorava
latas de conservas: azeitonas, peixes, presuntos. Cada bolinho custava-lhe
quase o preço de venda. E eram pesados, com muita massa. Que diferença, meu
Deus! Entre as empadas de Fernand e as de Gabriela.
Umas de pura massa a
entrar pelos dentes, a pegar no céu da boca. As outras picantes e frágeis,
dissolvendo-se na língua, pedindo bebida. Nacib balançava a cabeça.
Convidou João Fulgêncio,
Nhô-Galo, o Doutor, Josué e o Capitão para um almoço preparado pelo nobre
chefe.
Maioneses, caldo verde,
galinha à milanesa, file com fritas. Não é que fosse má comida, não era. Como
compará-la, porém, com os pratos da terra, temperados, cheirosos, picantes,
coloridos? Como compará-la com a comida da Gabriela?
Josué recordava: eram
poemas de camarão e dendé de peixe e leite de coco, de carnes e pimenta. Nacib
não sabia como tudo aqui lo iria
acabar. Aceitariam os fregueses esses pratos desconhecidos, esses molhos
brancos? Comiam sem saber o que estavam comendo, se era peixe, carne ou galinha.
O Capitão resumia numa frase:
- Muito bom mas não presta.
Quanto a Nacib, esse
brasileiro nascido na Síria, sentia-se estrangeiro ante qualquer prato que não
fosse baiano, à excepção de qui be.
Era exclusivista em matéria de cozinha.
Mas, que fazer? O homem
estava ali, ganhando ordenado de príncipe, impando de importância e
impertinência, a cacarejar em
francês. Punha uns olhos lânguidos em Chico moleza, o
rapazola já o ameaçara com uns trancos.
Nacib temia pela sorte do
restaurante. No entanto, havia grande curiosidade, falava-se do chef como de
uma figura importante, dizia-se ter dirigido famosos restaurantes,
inventavam-se histórias. Sobretudo a respeito das aulas de culinária, ditadas
por ele às cabrochas vindas para ajudá-lo.
As pobres não entendiam
nada, a sergipana, enciumada, dera-lhe o apelido de «capitão carijó».
Finalmente, tudo ficou
pronto e a inauguração foi anunciada para um domingo. Um grande almoço seria
oferecido pelos proprietários do Restaurante do Comércio às personagens locais.
Nacib convidou todos os
notáveis de Ilhéus, todos os bons fregueses do bar. À excepção de Tonico
Bastos, é claro. O chefe de cuisine estudou um cardápio dos mais complicados.
Nacib pensava nas
insinuações de Dª Arminda. Não havia cozinheira como Gabriela. Infelizmente
impossível, fora de cogitação. Uma lástima.
Do camarada do campo de
batalha
Quando a lua surgia por detrás da pedra do Rapa, rasgando o negrume da
noite, as costureiras viravam pastoras. Dora se transformava em rainha, a casa
de Dora em barco de vela.
<< Home