quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Baianas do Pelourinho.

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 28


 - Esse menino é excomungado. Acaba mal.

Dª Helena apoiava. E, demais, noite que ele passasse em casa era noite em que ninguém dormia. Brigava com a mãe a noite inteira… Um inferno!

Só a Bebé gostava dele. Ele trazia-lhe caramelos e sentavam-se os dois na escada, ele a beliscar-lhe a ponta dos seios que nasciam e a morder-lhe a orelha. E ela a deixar, toda trémula. Tão bonzinho, ele…

 - Uma falta de vergonha – resmungava Dª Pombinha, moralista. Nunca se casara, coitada, e aquelas coisas irritavam-lhe os nervos. Sofria um nervoso horrível. Por causa dos seus nervos brigara com os irmãos e se sujeitara a trabalhar para viver. Ela, e Maria de Lourdes! Coitada da Maria de Lourdes! Tão nova e já tinha sofrido tanto!

Os parentes, que se irritavam com Dª Pombinha, nunca quiseram saber dela. E Lourdes acompanhava a madrinha naquele calvário que era a sua vida.

 - A minha vida é um romance, seu Horácio – repetia Dº Pombinha, ao velho servente de Banco (nas horas vagas poeta. Já publicara versos em alguns jornais da Bahia. Assinava-se com um pseudónimo: Vivaldo Moreno). Um romance… é só escrever.

Maria de Lourdes fizera então dezasseis anos. Muito bela, os olhos, uns grandes olhos tristes, pareciam feitos de névoa. Os cabelos que lhe batiam nos ombros, tinham cambiantes castanho-louros. Seios pequenos suspendiam a blusa. E uns lábios muito vermelhos que esmolavam beijos. Gozava fama de bem comportada.

Só lhe sabiam de um namorado, o Osvaldo, que desde o colégio (conheceram-se na aula primária), gostava dela. Chegaram a ser noivos. Mas ele morrera, coitado! E agora só restava dele um retrato que Maria de Lourdes guardava, última recordação do seu “inesquecível Osvaldo”… Menina infeliz, Maria de Lourdes!


VII

Paulo Rigger, naquela noite, jantara com Ricardo Braz, que se formara havia poucos dias. Tinham conversado muito. Sobre tudo. Sobre o Brasil. A revolução, de que os jornais tanto falavam.

Paulo Rigger não acreditava que a revolução melhorasse o País. Ricardo, tão pouco. Em todo o caso, piorar não podia. O Brasil estava à beira do abismo Frase retórica, mas verdadeira…

É deixá-lo cair! É deixá-lo cair” Deve ser muito engraçado o Brasil no fundo do abismo…

Gargalharam.

Ricardo achava, apesar de tudo, que, no Brasil, havia problemas interessantes, dignos de estudo.

O maior problema do Brasil é saber se escreve o seu nome com s ou com z.

Não, há problemas interessantes. O problema do norte…

Jerónimo Soares, que também viera filar os pirões de Braz, entrou na conversa:

 - A gente deve pensar também na felicidade do povo… na felicidade da Pátria…

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