sexta-feira, fevereiro 22, 2013


MESTRE DE AVIS -
D. JOÃO I DE PORTUGAL
E O SEU CONDESTÁVEL
(continuação)

O Mestre mandava cunhar moeda com prata que lhe vinha de todas as procedências, sinagoga, corporações, clero, contributo avaliado em 287 marcos de prata de cálices, castiçais, cruzes, da catedral e de vinte igrejas da diocese.

Dª Leonor, equivocada com a insurreição popular, não tomava bem a sério o Mestre. – “Mestre?” – dizia ela - «Não sei se he mestre de trons, se de bombardas!» E atiçava o Rei de Espanha a pôr cerco a Lisboa, como fez.

Este cerco e o de Almada são dois capítulos, dignos da Odisseia, à conta do herói e infeliz povo da capital. Esfomeado, quase não tendo uma côdea para roer, do alto das muralhas cantavam as raparigas para os castelãos, gordos, nédios, com o arraial bem provido de tudo, até de «ruas de mundanárias» por uma pá velha:

Esta he Lisboa prezada
Mirala e deixalla

Valeu ao Mestre de Avis a peste começar a dizimar o exército castelhano. Tiveram de levantar o cerco e encetar a guerra de movimentos e aí pôde o Mestre mostrar a sua firmeza, raça e um grande coração animado pelo desejo de cavaleiros feitos.

Cabia agora a Nuno Álvares tomar o lugar de relevo com a estratégia nova aprendida com tácticos estrangeiros.


Algumas vezes, os homens de armas vinham conjurar Nuno a que não cometesse tal ou tal empresa, que havia azar. Assim pretenderam demovê-lo de atravessar o Tejo quando a frota castelhana cercava Lisboa pelo rio.

 - Não vedes, senhor – dizia-lhe um bom escudeiro – que sonhei que vos prendiam…

E Nuno responde:

 - Pois ficai vós em paz com o vosso sonho; eu cá vou…

E, embarcando, passava a luz das estrelas por entre os batéis inimigos, sem desmancho, imune a agouros.

Aljubarrota foi a hora culminante de Portugal e a batalha que sagrou definitivamente um reino, uma nacionalidade e uma autarquia política na Península ibérica.

Era véspera de Santa Maria de Agosto e a manhã estava límpida se bem que desabrida. Soprava do mar um vento agreste que erguia o pó das terras aradas e cirandava no ar.

Os portugueses esperavam a pé quedo, formados em quadrilátero no local onde hoje se ergue a capela de São Jorge, ao centro os carros, nos flancos a infantaria portuguesa e inglesa mais ou menos couraçada, em que se integrava uma boa parte da cavalaria, para o que os cavaleiros haviam desmontado e os pajens seguravam os cavalos à rédea, prontos para o que desse e viesse, e ainda esquadrões em forma, atentos à voz de carregar.

O exército português apoiava a sua manga direita e um pequeno curso de água seco que riscava o terreno como uma cicatriz, a sinistra descia a falda de um cerro, e tinha a frente voltada para Leiria.

Mas os espanhóis não atacaram por ali. Flagelava-os o vento e, no intuito de lhes voltarem as costas, descreveram um arco de circo que os levou até Aljubarrota.
(continua)                                   

Site Meter