O MESTRE DE AVIS
D. JOÃO I de PORTUGAL
- Príncipes de
Portugal . Suas Grandezas e Misérias.
de Aqui lino
Ribeiro
(continuação)
Com a morte do conde de Andeiro, amante
da rainha Dª Leonor Teles, criou-se um clima de grande efervescência que, aqui e ali, foi degenerando em motim.
Porto, Beja, Évora, Estremoz,
Portalegre, Elvas, Viseu, Lamego, Trancoso, ergueram o estandarte do Mestre de
Avis. Este, não obstante as suas indecisões, bem patentes na conjura contra o
conde de Andeiro que, sem a estocada de Rui Pereira, ter-se-ia acolhido ao
regaço da real amante para daí, embora ferido, tirar uma desforra implacável.
Mas esta indecisão foi compensada por
uma digna e séria porfia e um espírito sequi oso
de altos feitos que crescia em popularidade e prestígio.
Embora sendo um homem de craveira comum,
com a sua personalidade, bom senso e inteligência teve desde logo a sorte de
ser secundado por homens de valor:
-
Nuno Álvares Pereira, espada briosa e adestrada à nova estratégia;
-
João das Regras, expedito e astucioso jurisconsulto;
-
Álvaro Pais ou “Maqui avel avant la
letre” ao serviço da sua causa. Foi este que lhe ensinou a fórmula mirífica
segundo a qual, a revolução se tornou uma empresa viável.
«Dai aqui lo
que vosso não é, prometei o que não tendes e perdoai a quem vos não errou, e
ser-vos há de mui grande ajuda para o negócio em que sois posto»
Nestes princípios estava todo um
programa e o Mestre lhe deu a mais calorosa adesão.
O homem providencial ia tomando
consciência das responsabilidades, mas não menos do seu poder. Por alguma coisa
«o mui alto Senhor Deus, que em sua providência nenhuma coisa falece, tinha
disposto o Mestre ser rei, ordenando que ao conde de Andeiro o não matasse
outro senão ele»-
Como recomendava Álvaro Pais, o Mestre
subscreveu centenas de doações frisando: « Por quanto anda em nosso desserviço
com D. João, que se chama rei de Castela…» E prometia bons cargos, todos os
cargos possíveis e imagináveis para o dia de amanhã, mais as terras que havia
de confiscar e cobrar da gente que se bandeara para os inimigos, tudo talhado
honradamente na pele do lobo.
Um dos que cedo ergueram a espada em
prol do Mestre foi Nuno Álvares Pereira. Estava previsto. Quando passou
escoteiro para Lisboa, vindo do Norte, Leonor Teles, que estava em Alenquer, qui s mandá-lo prender.
-
«Viste uma tal sandice de Nuno que eu criei tamanino! Pois não largou o prior,
seu irmão, e se vai para o Mestre…»
Disseram-lhe que o propósito de Nuno
fosse outro e ela desistiu mas ele, de facto, foi ter com o rebelde:
-
«Eu me ofereço…»
O
Mestre fê-lo marechal do exército. Foi a deserção que, de todas, Leonor Teles
mais sentiu. Tinha-o como uma espécie de afilhado.
Contava-se, que anos antes, estando à
janela do Paço de Santarém, dissera, apontando um jovem cavaleiro que
transpunha a Porta do Sol a galope:
-
Quem é o gentil rapaz que além vem?
-
É Nuno, filho do Prior do Hospital, senhora.
-
Chamai-mo cá…
(continua)
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