segunda-feira, fevereiro 18, 2013


O MESTRE DE AVIS
D. JOÃO I de PORTUGAL

- Príncipes de Portugal . Suas Grandezas e Misérias.
 de Aquilino Ribeiro
 (continuação)


Com a morte do conde de Andeiro, amante da rainha Dª Leonor Teles, criou-se um clima de grande efervescência que, aqui e ali, foi degenerando em motim.

Porto, Beja, Évora, Estremoz, Portalegre, Elvas, Viseu, Lamego, Trancoso, ergueram o estandarte do Mestre de Avis. Este, não obstante as suas indecisões, bem patentes na conjura contra o conde de Andeiro que, sem a estocada de Rui Pereira, ter-se-ia acolhido ao regaço da real amante para daí, embora ferido, tirar uma desforra implacável.

Mas esta indecisão foi compensada por uma digna e séria porfia e um espírito sequioso de altos feitos que crescia em popularidade e prestígio.

Embora sendo um homem de craveira comum, com a sua personalidade, bom senso e inteligência teve desde logo a sorte de ser secundado por homens de valor:

 - Nuno Álvares Pereira, espada briosa e adestrada à nova estratégia;

 - João das Regras, expedito e astucioso jurisconsulto;

 - Álvaro Pais ou “Maquiavel avant la letre” ao serviço da sua causa. Foi este que lhe ensinou a fórmula mirífica segundo a qual, a revolução se tornou uma empresa viável.

«Dai aquilo que vosso não é, prometei o que não tendes e perdoai a quem vos não errou, e ser-vos há de mui grande ajuda para o negócio em que sois posto»

Nestes princípios estava todo um programa e o Mestre lhe deu a mais calorosa adesão.

O homem providencial ia tomando consciência das responsabilidades, mas não menos do seu poder. Por alguma coisa «o mui alto Senhor Deus, que em sua providência nenhuma coisa falece, tinha disposto o Mestre ser rei, ordenando que ao conde de Andeiro o não matasse outro senão ele»-

Como recomendava Álvaro Pais, o Mestre subscreveu centenas de doações frisando: « Por quanto anda em nosso desserviço com D. João, que se chama rei de Castela…» E prometia bons cargos, todos os cargos possíveis e imagináveis para o dia de amanhã, mais as terras que havia de confiscar e cobrar da gente que se bandeara para os inimigos, tudo talhado honradamente na pele do lobo.

Um dos que cedo ergueram a espada em prol do Mestre foi Nuno Álvares Pereira. Estava previsto. Quando passou escoteiro para Lisboa, vindo do Norte, Leonor Teles, que estava em Alenquer, quis mandá-lo prender.

 - «Viste uma tal sandice de Nuno que eu criei tamanino! Pois não largou o prior, seu irmão, e se vai para o Mestre…»

Disseram-lhe que o propósito de Nuno fosse outro e ela desistiu mas ele, de facto, foi ter com o rebelde:

 - «Eu me ofereço…»

 O Mestre fê-lo marechal do exército. Foi a deserção que, de todas, Leonor Teles mais sentiu. Tinha-o como uma espécie de afilhado.

Contava-se, que anos antes, estando à janela do Paço de Santarém, dissera, apontando um jovem cavaleiro que transpunha a Porta do Sol a galope:

 - Quem é o gentil rapaz que além vem?

 - É Nuno, filho do Prior do Hospital, senhora.

 - Chamai-mo cá…
 (continua)  

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