D. JOÃO I de PORTUGAL
(continuação)
Voltava com o irmão de fazer o
reconhecimento das forças castelhanas que apareceram de rompante, rente ao rio,
em direcção à capital, que se propunham cercar. Mal completara treze anos, o
irmão, Diego Álvares, atingira então a puberdade.
Não era missão cómoda averiguar do número, qualidade e moral da gente que desabava sobre Lisboa. Um passo em falso, e
esmagaria ao imprudente o poder deste mundo e do outro, como sempre quando
investia o leão de Castela.
Ofereceram-se os dois irmãos. E lá foram.
Na idade deles, em cima de bons cavalos galgazes, tinham de passar, e passaram
de longe e ao perto fugidios que nem centauros. Viram tudo sem que ninguém os
visse. Pelo menos sem que os embargassem.
Voltaram com notícias amplas e exactas do
inimigo e Dª Leonor, que admirava a coragem e o garbo, havendo gostado de Nuno,
criado até ali em casa do Prior com grande viço, pediu licença ao rei para tomá-lo
como pagem. Que não lhe concedia o rei enamorado e coração de cera? Ele, por
sua vez, tomou Diego Álvares, para que não ficasse a chorar.
Nuno passou a viver debaixo da telha real.
A sua ocupação era exercitar-se no manejo das armas. No intervalo lia, que
aprendera algumas letras com o capelão, lia ou ouvia ler romances de cavalaria
e, naquelas idades, em que tudo o que é singular fala à imaginação e seduz a
vontade generosa, nos altares jurou ao Deus dos cavaleiros do Santo Graal,
ficar casto e jamais olhar para mulher que não fosse para defesa da sua honra
ou de causa justa.
Mas o seu pai, o Prior do Hospital, homem
prático, é que não esteve pelos ajustes. Com um rebanho de filhos e filhas,
dote a uma, prenda a outra o que ficava do seu património era pouco.
Soube que havia entre Douro e Minho, uma
dona que acabara de enviuvar, rica, com terras, honrada e de boas manhas. Não
foi fácil vencer as resistências de Nuno, pouco apegadiço ao mulherio e fiel
aos juramentos de castidade feitos ao Deus dos cavaleiros do Santo Graal.
Mas em casa da viúva os dobrões mediam-se à
rasa e isso era o principal para o Prior, paternidade previdente e olho
atilado, mandou-lhe um alcoviteiro para acometê-la para o filho. Tão bem se desempenhou
o homem, comendador da Flor da Rosa que obteve a aqui escência
da viuvinha, Dª Leonor de Alvim, filha de algo.
Nuno recusou, fiel às juras feitas mas o
Prior, que em cada terra por onde passava, punha um filho, como o cuco põe os
ovos e tinha mais amantes do que cabelos na cabeça, no foro íntimo devia rir-se
do anjinho do filho mas, o sorriso, porém, nunca aflorou aos seus lábios de político
astucioso provavelmente, descobrindo no filho um porfiado e sisudo Aristides,
homem antes quebrar do que torcer e muito pouco para graças.
Recorreu a tudo quanto foram pessoas
influentes e amigas íntimas de Nuno e tanto malharam, uns de uma banda, outros
de outra, tanto azoinaram o moço, que levaram a água ao seu moinho e foi em
Bonjardim, terra da Ordem do Hospital, que Nuno, ia completar dezassete anos,
conheceu a boa da mulher e, ó maravilha, topou-a como a mãe a botara ao mundo,
donzela que não dona, por incapacidade física, ao que se veio a dizer, do
Barroso, primeiro marido.
Entraram em suas terras de Entre-Douro-e- Minho. A
casa era rica de tudo e servida, sem falar dos servos da gleba e vilões de todo
o jaez, qui nze escudeiros e trinta
homens de pé, gente que fazia gosto ver pau para toda a obra. Além disso, solar
mais buliçoso que o próprio paço.
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