quinta-feira, março 07, 2013


O (meu) Open do Estoril

e a Tenda dos VIPs



Há uns anos atrás, precisamente em 2006, aceitei um convite do meu genro para me levar à boleia ao Torneio de Ténis do Open do Estoril.

Todos os jogos começam por ser formas de entretenimento adquirindo mais tarde a dignidade de quem com eles se entretém e, porque assim é, alguns passam a ser procurados como forma de promoção social porque sempre fica bem brincarmos da mesma forma que as pessoas ricas e importantes brincam para nos parecermos e confundir-mo-nos com elas.


O ténis, jogado inicialmente nos campos que os ricos mandavam construir por entre os jardins das suas casas apalaçadas estava destinado, por esta razão, a desporto de elite e quando havia torneios era coisa para “inglês” ver porque também ninguém percebia um desporto em que os pontos em vez de se contarem normalmente: um, dois, três e por aí fora…começam em quinze, trinta e quarenta, vantagens para aqui, vantagens para ali, jogo, set, partida… mesmo coisa que só podia ser inventada por ricos para confundir a cabeça dos pobres.



Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade de Santarém entrar no Café numa manhã de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola de futebol, mas já lá os vi a passearem a raquete de ténis debaixo do braço.

Foi assim que nasceu a história dos Vips associada ao ténis.



Não fora o 25 de Abril e o Poder Autárquico a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens e ainda hoje os havíamos de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”.


De certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além de terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha Espanha, para já não falar nos Alpes Suíços.

Salvou-se a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, já sem as raquetes debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, pulôvers de marca por cima dos ombros, displicentemente, taça de champanhe na mão, chegando-se “como quem não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque com tantos fotógrafos há sempre a hipótese de ficarem num “boneco”.

E eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável Scolari, com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares Francos e o Joaquim de Almeida, com o seu novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo Dutti acompanhado por um grupo musical que abrilhantava o acontecimento com música típica do sul de Itália onde entrava o nosso familiar e saudoso acordeão a fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos cinquenta.

E os jovens modelos, estilizados, - ou eram marionetas?… -  não reparei bem, lá iam desfilando como autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a cordas. Passavam a dois passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como quando os vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão, nem humanidade e eu pergunto a mim próprio se é preciso aquilo para vender umas camisolas ou umas calças. Naturalmente… é.

À saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado no lado direito, três senhores, refastelados em três cadeirões tremiam tanto que mais pareciam acometidos de ataques epilépticos mas, afinal, era apenas um teste numa máquina de massagens daquelas que dispensam o massagista e logo uma jovem, completamente industriada em curso intensivo, se aproximou para me elucidar das vantagens das massagens. Respondi-lhe que não estava interessado nos cadeirões apenas tinha parado porque me pareceu que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…

No que respeita ao “desportivo” propriamente dito, tive oportunidade de assistir à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 do Ranking mundial com um russo de dois metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e 220 de tal forma que o Gil tinha que ir esperar a bola a mais de três metros da linha da linha de fundo.


Mas o gigante começou a enervar-se porque o Gil deslocava-se muito lentamente entre os pontos esgotando todos os segundos regulamentares e o público começou a mandar “bocas” e ele, em vez de pontos, começou a somar asneiras.

Os Torneios de Ténis vistos ao vivo são dois espectáculos: um, que tem a ver com a sociaty e outro, o desportivo, entre as quatro linhas.


Prefiro, naturalmente, este último. Às feiras de vaidades prefiro antes as feiras da aldeia dos meus avós, quando era miúdo.
  

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