As crianças são felizes e saudáveis. |
À conversa com
um
bosquímane…
Vale a pena contar uma pequena história relatada por um
bosquímane, membro da tribo !Kung San ( o ponto de exclamação indica um
estalido produzido com a língua e que não tem equi valente
em línguas europeias).
Os bosquímanes, juntamente com os pigmeus, são o povo mais
antigo do mundo, aquele que está mais próximo dos nossos antepassados remotos.
Numa entrevista ao antropólogo Richard Lee, na
década de setenta, o bosquímane explica os costumes do seu povo:
- «Imagine um homem que andou a caçar. Ele não pode voltar para casa
e anunciar como um fanfarrão: “Matei uma coisa grande no mato”.
Não, primeiro tem de se sentar em silêncio até eu ou outra pessoa
qualquer chegar ao pé da fogueira dele e perguntar: “Que viste hoje?”
Então ele responde
calmamente: “Ah, eu não sou nada bom a caçar. Não vi nada de nada…talvez só uma
coisinha pequena”. Depois, eu sorrio de mim para comigo porque fiquei a saber
que ele matou qualquer coisa grande».
A conversa brincalhona continua enquanto vão buscar o animal
morto:
- “Quer dizer que nos
arrastaste a todos até aqui para nos
obrigares a levar para casa o teu monte de ossos? Ah, se eu soubesse que era
assim tão magro não teria vindo. E pensar que abdiquei de um belo dia à sombra
para isto…Em casa podemos ter fome, mas pelo menos temos água fresca para
beber.”
Qual o objectivo desta conversa? - O entrevistado explica:
- “Quando um jovem caça e consegue muita carne, passa a ver-se como
um chefe ou um homem importante e pensa em nós como seus servos ou inferiores.
Não podemos aceitar isso. Recusamos quem é fanfarrão, pois um dia o seu orgulho
levá-lo-á a matar alguém. Por isso falamos sempre dos animais que ele caça como
se fossem uma coisa insignificante. Desta maneira, esfriamos-lhe o coração e
tornamo-lo simpático.”
Os bosquímanes estavam conscientes do desejo de afirmação do
jovem através do animal que conseguira abater para alcançar uma posição de
superioridade na sociedade, e sabiam que isso poderia torná-lo perigoso para os
restantes membros do grupo.
A “receita” foi uma lição de
humildade com o objectivo de garantir uma sociedade onde todos eram iguais
independentemente dos animais que cada um conseguia matar.
Num deserto, onde aparentemente nada
existe, este povo não só conseguiu sobreviver como, ainda por cima, ser a gente
mais feliz e bem disposta do mundo.
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