quinta-feira, junho 20, 2013

António Balduíno
JUBIABÁ

Episódio Nº 47


Antes de morrer casou com a amásia, para que ela pudesse herdar o já afreguesado café. Ela o vendeu a seu António, que de há muito estava de olho nele, devido ao ponto que era óptimo.

António não gostava do nome do botequim. Não via razão para aquele título esquisito. E, dias após a realização, a tabuleta apareceu mudada.

A nova trazia o desenho mal feito de uma caravela da época das descobertas portuguesas e por baixo um nome – «Café Vasco da Gama».

Porém aconteceu que os fregueses olhavam espantados o novo nome do botequim e não entravam. Com aquela tabuleta nova e a limpeza, que havia sido feita dentro da sala, eles não reconheciam o sujo porto de descanso, onde bebiam cachaça e conversavam nas noites do cais.

Seu António era supersticioso. E no dia seguinte foi buscar aos fundos da casa a velha tabuleta que voltou ao seu lugar. Guardou a que tinha uma caravela portuguesa para quando possuísse um café no centro da cidade.

Com a tabuleta de «lanterna dos Afogados», voltou também a mulata escura que fora amante do marinheiro e que continuou a fazer arroz-doce para os fregueses e bóia para os estivadores e a dormir na mesma cama que antigamente.

Só que agora dormia com um português conversador em vez de um marinheiro silencioso. Quando seu António montasse um Café no centro da cidade, e botasse nele o nome de «Vasco da Gama» e uma tabuleta com caravelas descobridoras, ela ficaria na «Lanterna dos Afogados», fazendo arroz doce para os fregueses, bóia para os estivadores e dormiria na mesma cama com o novo proprietário.

Os fregueses voltaram para a «Lanterna dos Afogados». Lá discutiam longos cruzeiros marinheiros e negros. Mestres saveiros conversavam sobre as feiras de recôncavo para onde levariam os seus barcos cheios de frutas.

Tocavam violão, cantavam sambas, contavam histórias de arrepiar nas noites imensas de estrelas. E mulheres desciam da Ladeira do Taboão para a «Lanterna dos Afogados».

António Balduíno, Zé Camarão e o Gordo eram dos mais assíduos. E até Jubiabá aparecia às vezes.


Se no jogo da capoeira o negro António Balduíno fora o melhor discípulo de Zé Camarão, no violão cedo ele bateu o mestre e se tornou tão célebre quanto ele.

Muitas vezes quando andava pelas ruas da cidade nos seus passeios malandros, ele começava a bater no chapéu de palha uma música que inventava e ia cantando uma letra, tudo tirado da sua cabeça. Depois cantava o samba novo para os amigos do morro:

«Vida de negro é bem boa, mulata…
Tem festa todos os dia
Baticum lá no terreiro
Morena para a folia…»

Fazia sucesso nas festas.

«Senhor do Bonfim é meu santo
Ele faz feitiço forte,
eu sou é malandro, mulata
E você minha desgraça…»

Não havia cabrocha que não se apaixonasse.


Uma tarde um homem muito bem vestido apareceu no morro e perguntou por António Balduíno.

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