António Balduíno |
JUBIABÁ
Episódio Nº 47
Antes de morrer casou com
a amásia, para que ela pudesse herdar o já afreguesado café. Ela o vendeu a seu
António, que de há muito estava de olho nele, devido ao ponto que era óptimo.
António não gostava do
nome do botequi m. Não via razão para
aquele título esqui sito. E, dias
após a realização, a tabuleta apareceu mudada.
A nova trazia o desenho
mal feito de uma caravela da época das descobertas portuguesas e por baixo um
nome – «Café Vasco da Gama».
Porém aconteceu que os fregueses
olhavam espantados o novo nome do botequi m
e não entravam. Com aquela tabuleta nova e a limpeza, que havia sido feita
dentro da sala, eles não reconheciam o sujo porto de descanso, onde bebiam
cachaça e conversavam nas noites do cais.
Seu António era
supersticioso. E no dia seguinte foi buscar aos fundos da casa a velha tabuleta
que voltou ao seu lugar. Guardou a que tinha uma caravela portuguesa para
quando possuísse um café no centro da cidade.
Com a tabuleta de
«lanterna dos Afogados», voltou também a mulata escura que fora amante do
marinheiro e que continuou a fazer arroz-doce para os fregueses e bóia para os
estivadores e a dormir na mesma cama que antigamente.
Só que agora dormia com um
português conversador em vez de um marinheiro silencioso. Quando seu António
montasse um Café no centro da cidade, e botasse nele o nome de «Vasco da Gama»
e uma tabuleta com caravelas descobridoras, ela ficaria na «Lanterna dos
Afogados», fazendo arroz doce para os fregueses, bóia para os estivadores e dormiria
na mesma cama com o novo proprietário.
Os fregueses voltaram para
a «Lanterna dos Afogados». Lá discutiam longos cruzeiros marinheiros e negros.
Mestres saveiros conversavam sobre as feiras de recôncavo para onde levariam os
seus barcos cheios de frutas.
Tocavam violão, cantavam
sambas, contavam histórias de arrepiar nas noites imensas de estrelas. E
mulheres desciam da Ladeira do Taboão para a «Lanterna dos Afogados».
António Balduíno, Zé
Camarão e o Gordo eram dos mais assíduos. E até Jubiabá aparecia às vezes.
Se no jogo da capoeira o
negro António Balduíno fora o melhor discípulo de Zé Camarão, no violão cedo
ele bateu o mestre e se tornou tão célebre quanto ele.
Muitas vezes quando andava
pelas ruas da cidade nos seus passeios malandros, ele começava a bater no
chapéu de palha uma música que inventava e ia cantando uma letra, tudo tirado
da sua cabeça. Depois cantava o samba novo para os amigos do morro:
«Vida de negro é bem boa,
mulata…
Tem festa todos os dia
Baticum lá no terreiro
Morena para a folia…»
Fazia sucesso nas festas.
«Senhor do Bonfim é meu
santo
Ele faz feitiço forte,
eu sou é malandro, mulata
E você minha desgraça…»
Não havia cabrocha que não
se apaixonasse.
Uma tarde um homem muito
bem vestido apareceu no morro e perguntou por António Balduíno.
<< Home