quarta-feira, junho 19, 2013

 SERÁ DEUS

UM CONSOLO?
 (Parte III)


Mas, nesse caso, por que motivo é que a oposição mais ruidosa à eutanásia e ao suicídio assistido vem das pessoas religiosas?

Não seria de esperar que as pessoas religiosas fossem as menos inclinadas a agarrar-se despudoradamente à vida?

Contudo, podemos apostar, em como são as pessoas religiosas que mais apaixonadamente são contra a eutanásia ou contra o suicídio assistido.

A razão oficial poderá ser a de que provocar a morte é sempre pecado. Mas porquê considerar isso pecado se se acredita sinceramente que se está, desse modo, a acelerar uma ida para o céu?

Mas o processo de morrer, propriamente, poderá bem ser, dependente da sorte de cada um doloroso e desagradável que é um tipo de experiência contra o qual nos habituámos a ser protegidos através de anestesia geral, como quando vamos tirar o apêndice.

Se tivermos um animal de estimação a morrer com dores seremos condenados por crueldade senão chamarmos o veterinário para lhe dar uma anestesia geral de que já não acordará mais.

Mas se o nosso médico nos prestar exactamente o mesmo misericordioso serviço se estivermos a morrer com dores, corre o risco de ser levado a tribunal acusado de assassínio.

E isto, principalmente por causa da influência da religião. Da parte daqueles que vê a morte como um fim e não como uma transição é que se poderia, francamente, esperar uma resistência à eutanásia ou ao suicídio assistido. No entanto, nós, é que somos a favor.

Uma enfermeira que conheço pessoalmente, com uma longuíssima experiência à frente de um lar de idosos onde a morte é um acontecimento habitual, referiu-me que ao longo dos anos verificou que são as pessoas religiosas as que têm mais medo da morte.

Seja isto porque for, à primeira vista, não abona muito a favor do poder da religião para reconfortar aqueles que estão à beira de morrer.

A doutrina do purgatório revela bem como a mente teológica funciona. O purgatório é uma espécie de Ellis Island (Ilha de Nova York e um dos principais pontos de entrada dos imigrantes nos E.U. entre a última década do Sec. XIX e meados do Sec. XX) divina, uma antecâmara para onde as almas vão se os seus pecados não são suficientemente maus para merecerem o inferno mas, por outro lado, ainda precisam de alguma reciclagem e de uma purga antes de poderem ser admitidas na zona livre de pecados que é o céu.

Na época medieval a igreja dava “indulgências” a troco de dinheiro. Na prática, isto traduzia-se por pagar por um certo número de dias de remissão do purgatório com a Igreja a emitir literalmente (e com uma presunção assombrosa) certificados assinados em que eram especificados o número de dias comprados.

A Igreja Católica é uma instituição para cujos lucros a expressão «mal ganho» terá sido, possivelmente inventada de propósito. E de entre todos os seus esquemas de fazer dinheiro a venda de indulgências deverá figurar entre os maiores contos-do-vigário de toda a história.

Richard Dawkins
(continua) 

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