segunda-feira, junho 10, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 38


António Balduíno se aproximou do homem que estava de sobretudo no Verão. O grupo ficou espiando na esquina:

 - Uma esmola por amor de Deus…

 - Vá trabalhar malandro…

Desta vez a rua estava deserta. Ninguém passava por aquele beco. E o homem de sobretudo ia apressado. Levava uma flor vermelha na lapela. António Balduíno se aproximou mais. O grupo também:

 - Me dá um níquel…

- Te dou é um tabefe aqui, moleque…

O grupo veio pela frente:

 - O senhor é rico. Pode dar uma prata…

O homem não disse mais nada, porque agora estava cercado pelo grupo.

O rosto de António Balduíno estava bem perto do seu rosto. E o negrinho tinha uma mão escondida. Apareceu uma navalha:

 - Uma nota…

 - Ladrões, hein? – o homem teve coragem de dizer – Começam assim meninos, vão longe…

António Balduíno riu, abriu a navalha. Os outros cercavam o homem de sobretudo.

 - Tomem ladrões…

 - Olhe que a gente pode se encontrar um dia…

 - Amanhã vou à polícia…

Mas eles já estavam acostumados com a ameaça e não ligaram. António Balduíno pegou os dez mil réis, guardou a navalha e o grupo todo abriu na carreira, se espalhando pelas ruas próximas.

Faziam estas violências quando estava próximo o carnaval, a Festa de Bonfim, as Festas do Rio Vermelho.


Um dia Rozendo caiu doente. Uma febre alta, delirava à noite, não comia nada. Na primeira noite ria, dizia.

 - Não vai ser nada … Isso passa…

Os outros o olhavam e riam também. Mas na segunda noite Rosendo começou a ter medo. Quando não delirava ficava a gemer em voz baixa. E pedia aos outros:

 - Eu vou morrer… Vão chamar Mamãe… Mamãe…

Os outros espiavam sem saber o que fazer, inquietos, uma tristeza nos olhos alegres. Balduíno perguntava:

 - Onde mora sua mãe?

 - Sei lá. Quando fugi morava no Porto da Lenha. Mas já se mudou… Procure ela, Baldo… Procure, eu quero Mamãe…

 - Vou procurar, Rosendo…

Viriato era quem tratava do doente. Dava-lhe remédios estranhos que só ele sabia. Arranjou, ninguém sabia onde, um cobertor para estender na porta onde Rosendo dormia. E contava histórias ao doente, casos engraçados, mais engraçados ainda porque contados por Viriato, o Anão, que raramente falava e quase nunca ria.

Viriato perguntou:

 - Como é o nome de sua mãe?

 - Ricardina… É amigada com um carroceiro… É uma negra ainda moça, bem conservada.

O doente se agitou falando da mãe:

 - Quero mamãe, quero ela… Eu vou morrer…

 - Deixe estar que amanhã eu e Baldo trazemos ela…

Filipe chorava e desta vez suas lágrimas não eram fabricadas. O Gordo rezava, misturando pedaços de orações e António Balduíno apertava a figa que trazia no pescoço.

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