Episódio Nº 38
António Balduíno se
aproximou do homem que estava de sobretudo no Verão. O grupo ficou espiando na
esqui na:
- Uma esmola por amor de Deus…
- Vá trabalhar malandro…
Desta vez a rua estava
deserta. Ninguém passava por aquele beco. E o homem de sobretudo ia apressado.
Levava uma flor vermelha na lapela. António Balduíno se aproximou mais. O grupo
também:
- Me dá um níquel…
- Te dou é um tabefe aqui , moleque…
O grupo veio pela frente:
- O senhor é rico. Pode dar uma prata…
O homem não disse mais
nada, porque agora estava cercado pelo grupo.
O rosto de António
Balduíno estava bem perto do seu rosto. E o negrinho tinha uma mão escondida.
Apareceu uma navalha:
- Uma nota…
- Ladrões, hein? – o homem teve coragem de
dizer – Começam assim meninos, vão longe…
António Balduíno riu,
abriu a navalha. Os outros cercavam o homem de sobretudo.
- Tomem ladrões…
- Olhe que a gente pode se encontrar um dia…
- Amanhã vou à polícia…
Mas eles já estavam
acostumados com a ameaça e não ligaram. António Balduíno pegou os dez mil réis,
guardou a navalha e o grupo todo abriu na carreira, se espalhando pelas ruas
próximas.
Faziam estas violências
quando estava próximo o carnaval, a Festa de Bonfim, as Festas do Rio Vermelho.
Um dia Rozendo caiu
doente. Uma febre alta, delirava à noite, não comia nada. Na primeira noite
ria, dizia.
- Não vai ser nada … Isso passa…
Os outros o olhavam e riam
também. Mas na segunda noite Rosendo começou a ter medo. Quando não delirava
ficava a gemer em voz baixa. E pedia aos outros:
- Eu vou morrer… Vão chamar Mamãe… Mamãe…
Os outros espiavam sem
saber o que fazer, inqui etos, uma
tristeza nos olhos alegres. Balduíno perguntava:
- Onde mora sua mãe?
- Sei lá. Quando fugi morava no Porto da Lenha.
Mas já se mudou… Procure ela, Baldo… Procure, eu quero Mamãe…
- Vou procurar, Rosendo…
Viriato era quem tratava
do doente. Dava-lhe remédios estranhos que só ele sabia. Arranjou, ninguém
sabia onde, um cobertor para estender na porta onde Rosendo dormia. E contava
histórias ao doente, casos engraçados, mais engraçados ainda porque contados
por Viriato, o Anão, que raramente falava e quase nunca ria.
Viriato perguntou:
- Como é o nome de sua mãe?
- Ricardina… É amigada com um carroceiro… É
uma negra ainda moça, bem conservada.
O doente se agitou falando
da mãe:
- Quero mamãe, quero ela… Eu vou morrer…
- Deixe estar que amanhã eu e Baldo trazemos
ela…
Filipe chorava e desta vez
suas lágrimas não eram fabricadas. O Gordo rezava, misturando pedaços de
orações e António Balduíno apertava a figa que trazia no pescoço.
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