Jubiabá no Bar Lanterna |
JUBIABÁ
Episódio Nº 33
Mas o negrinho ainda
acompanha o homem. É que o charuto que ele fuma já está a mais de meio. E
António Balduíno é doido por uma ponta de charuto.
O homem vai pensando em
tudo o que o negro disse. Será então verdade o que esses pedintes todos dizem
pela cidade? O homem vê a cara zangada de todos eles. De repente tem medo, joga
o charuto fora, abotoa o paletó novamente e entra num botequi m para beber e criar coragem.
António Balduíno se
apossou da ponta de charuto e abre a mão onde está o níquel jogado pelo homem.
É uma prata de dois mil réis. O negro a atira para o ar, apara na mão rápida e
sai, correndo para junto dos outros que estão conversando sobre futebol.
- Adivinhe quanto, negrada…
- Quinhentos réis…
António Balduíno ri às
gargalhadas altas:
- Uma águia…
- Dois mil réis?
- Caiu que nem um patinho – António Balduíno
faz um gesto de desprezo – Eu cá sei cantar…
Agora riem todos em
risadas claras e soltas. Os homens que passam vêm apenas um grupo de meninos
negros, brancos e mulatos que mendigam. Mas
na verdade é o imperador da cidade e a sua guarda de honra.
Quando vinham grupos de
mulheres elegantes, vestidas de seda cara, rostos pintados espalhando sorrisos,
António Balduíno soltava um assobio especial e o grupo se juntava todo.
Ficavam em fila. O Gordo desta vez ia na
frente porque tinha uma voz triste de esfomeado. E uma cara parada de idiota. O
Gordo botava as mãos no peito, fazia uma cara muito compungida e se dirigia ao
grupo de mulheres.
Parava diante delas, impedindo que elas continuassem o
passeio, os negros as cercavam e o Gordo cantava:
“Esmola para sete ceguinhos…
eu sou o mais velho,
esse é o segundo, os outros estão em casa.
Papai é aleijado,
Mamãe é doente,
Me dê uma esmola pra sete orfãozinhos,
São todos ceguinhos…”
O gordo quando acabava
estava quase chorando, muito contrito, uns olhos tristes, parecendo mesmo um
ceguinho, com seis irmãos ceguinhos, a mãe doente, o pai aleijado, sem ter
comida na casa pobre. E não parava:
“Esmola para sete ceguinhos…
eu sou o mais velho…
Esticava o dedo para o que estava mais
perto:
“esse é o segundo…
No fim estendia as mãos gordas
abrangendo o grupo e berrava:
“… sete orfãozinhos
São todos ceguinhos…
Os outros faziam coro:
“são todos ceguinhos…
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