a Idade Média
Por esta altura do ano,
em Portugal, começa a haver o hábito de, em tom festivo, recriar o ambiente que
se vivia na Idade Média, repondo vestuários, jogos, repastos que procuram ser
uma imitação do que era a vida nessas épocas, talvez pelas lembranças dos
romances de cavalaria e dos muitos testemunhos da nossa história.
No entanto, esses tempos
foram difíceis e muitos aspectos relativos à vida que se levava são
desconhecidos.
O período conhecido como Idade Média começou com
a desintegração do Império Romano do Ocidente, no Século V e terminou com o fim
do Império Romano do Oriente e queda da cidade de Constantinopla no Século XV.
O modo de organização social e político da Idade Média é conhecido como Feudalismo. A economia era baseada no trabalho servil, agricultura de subsistência e escambo, que se traduzia na troca directa de produtos ou serviços. O comércio, propriamente dito, era quase inexistente.
Muitos Estados modernos como Dinamarca, França e Portugal surgiram durante a
Idade Média enquanto que a Espanha era dominada pelos mouros.
As grandes propriedades rurais pertenciam aos senhores feudais enquanto aos
servos, cabia apenas um lote para a agricultura de subsistência. Parte das
terras dos senhores era doada à igreja.
As vilas em torno dos castelos dos senhores eram extremamente pobres, pequenas
e povoadas por 60 pessoas em média.
Os servos só podiam utilizar as instalações do castelo do senhor de terras (que
comummente chamamos de “senhores feudais) mediante o pagamento de uma taxa.
A floresta pertencia a todos e era praticamente uma área livre. O detalhe é que
somente os senhores podiam caçar os grandes animais – aos servos restavam esqui los e coelhos.
Na mesa, as pessoas comiam normalmente com as mãos. Até ao início da Idade
Moderna, era comum os convidados de um jantar levarem a faca de casa para
cortar o alimento.
Banhos? Os banhos estavam longe de serem diários (era um por ano, que tal?). As
pessoas banhavam-se numa tina e o primeiro a lavar-se era o chefe da casa.
Era mais seguro beber vinho e cerveja do que água, fornecida por rios e riachos
das imediações.
Os mosteiros das várias ordens religiosas da Idade Média eram cercados de
videiras. Os monges costumavam produzir e consumir o próprio vinho - talvez por
que fosse mais seguro do que a água de péssima qualidade que se bebia na época.
Aliás, durante a Idade Média, o vinho era usado como analgésico e anti-séptico.
Os gatos pretos eram vistos como bruxas transformadas em animais. Não demorou
em serem perseguidos pela Inqui sição.
A Inqui sição foi uma espécie de
tribunal religioso criado na Idade Média (século XII) e dirigido pela Igreja
Católica Apostólica Romana. Foi fundada pelo papa Gregório IX em 1231 com o
objectivo de reprimir e castigar tudo o que fosse considerado heresia pela
Igreja.
A Inqui sição foi criada inicialmente
com o objectivo de combater os cátaros (ou albingenses), uma seita cristã com
forte influência no Sul da França e Norte da Itália.
As punições da Inqui sição iam da
privação de “benefícios espirituais” a prisões, confisco de bens, torturas e
morte na fogueira.
Na Idade Média, acreditava-se que o inferno possuía infra-estrutura e o diabo,
diversos assessores, entre eles Nergal (demónio que comandava a polícia),
Astaroth (tesoureiro do inferno), Abramalech (responsável pelo guarda-roupa de
Lúcifer) e Baalberith (secretário de Lúcifer).
Pazuzu é um antigo demónio assírio, filho do deus Hambi. Na Idade Média, era
considerado o rei dos espíritos malignos. É Pazuzu quem atormenta a menina no
filme O Exorcista.
A maior parte das perseguições às bruxas não ocorreu, ao contrário do que se
diz, durante a Idade Média, mas no início da Idade Moderna (do final do século
XIV ao início do século XVIII).
Venerava-se quase tudo que tivesse relação com os mártires (santos) da igreja e
com Jesus. A obsessão por relíqui as
cristãs durante o período medieval permitiu o surgimento de inúmeras
falsificações. Qualquer objecto que tivesse relação com a história e o corpo de
Jesus era reinvindicado pelas comunidades religiosas. A manjedoura era propriedade
da Igreja de Santa Maria Maior, em Roma.
A Basílica de São João Latrão, também em Roma,
dizia ser proprietária do umbigo sagrado e prepúcio divino. O chicote que
supostamente teria açoitado Jesus estava na Basílica de São Bento, na cidade
italiana de Subiaco. Isso sem contar os espinhos da coroa, que estavam
espalhados por centenas de lugares diferentes.
A peste negra, epidemia que assolou a Europa no final da Idade Média foi tão
devastadora que 1/3 da população européia do século XIV foi dizimada no curto
período de quatro anos, entre 1347 e 1351.
Dos 140 monges de um convento em Montpellier, na França, apenas sete
sobreviveram à peste. Aliás, o medo do contágio era tamanho que o papa
suspendeu a extrema unção aos mortos.
Ninguém suspeitou que a peste negra tivesse relação com a morte de milhares de
ratos. Acreditava-se que ela era provocada pelo “ar ruim”, contra o qual
receitava-se aspersão de água de rosas e queima de ervas.
Para variar, a epidemia acabou provocando xenofobia e aumentando o preconceito
religioso. As cidades eram fechadas para os forasteiros e os judeus e
muçulmanos acusados de propagarem a doença. Dezenas de comunidades judaicas
foram atacadas e milhares de judeus afogados ou queimados.
Na Idade Média, as pessoas dormiam nuas. Quer dizer, nem tão nuas assim: elas
usavam gorros para se protegerem do frio. Marido, mulher, filhos e mesmo as
visitas compartilhavam o mesmo leito.
O sexo era considerado pecado. O namoro, então, era praticamente inexistente.
As uniões eram arranjadas e o noivo e a noiva da nobreza se conheciam no dia do
casamento – antes disso, só podiam se conhecer através de retratos pintados à
óleo.
As meninas se casavam logo após a primeira menstruação e os meninos, com a
idade aproximada de 18 anos. A família da noiva costumava pagar um dote a do
noivo.
Ainda em relação ao sexo: a homossexualidade era proibida e passível de pena de
morte. A prostituição também era condenada, apesar de… acreditem, metade do
lucro das prostitutas ir para o clero.
Mais uma sobre o sexo: o cinto da castidade foi inventado durante a Idade
Média.
Talvez lhe pareça estranho, mas um dos locais mais animados nesta época era o
cemitério. A população passeava, brincava e dançava entre os túmulos. Também
era possível fazer compras (o açougueiro era apenas um dos comerciantes a
dispor sua mercadoria sobre os jazigos) e participar de diversas cerimónias
públicas.
Os
cemitérios serviam ainda para juízes comunicarem sentenças, padres darem o
sacramento, pregadores itinerantes exortarem o povo ao arrependimento, ao
prefeito informar suas medidas e, claro, de vez em quando, alguém ser
sepultado.
Uma das figuras mais emblemáticas do período
medieval é a do cavaleiro. Os cavaleiros geralmente pertenciam à nobreza.
Começavam a ser iniciados aos 7 anos e aos 10, começavam a servir aos senhores
“feudais”. O reconhecimento como cavaleiro só acontecia aos 20 anos. O ritual
da sagração ocorria num combate simulado durante uma festa.
Durante
as cruzadas, os cavaleiros transformaram-se em defensores da fé contra infiéis
e hereges.
As conhecidíssimas Cruzadas ocorreram durante a Idade Média. Foram nove, a
primeira em 1096 e a última, em 1272.
Por falar em Cruzadas, já ouviram falar na Cruzadas das Crianças? Pois reza a
lenda que em 1212 cerca de 40 mil crianças foram encaminhadas a Jerusalém a fim
de conqui star a cidade para os
cristãos mas… a maioria morreu ou foi escravizada no caminho.
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