Episódio Nº 56
Reverenciavam o santo:
- Ôkê! Ôkê!
E Omolu, que dançava entre as “feitas”,
veio e reverenciou António Balduíno. Depois reverenciou pessoas da assistência
que podiam entrar para a casa. Reverenciou o Gordo, reverenciou o estudante
negro que era geralmente simpatizado, reverenciou o homem calvo, reverenciou
Roque e vários outros.
Agora todos estavam excitados e queriam
dançar. Omolu vinha e tirava mulheres da assistência para dançar. António
Balduíno movia o tronco como estivesse remando. Estavam os braços saudando o
santo.
Um ar de mistério se espalhava pela sala
e vinha de toda a parte, dos santos, da música, dos cânticos e, principalmente
de Jubiabá, centenário e pequenino.
Cantavam em coro outra canção da
macumba:
-
Êôlô biri ô b’ajá gbá a pénhindá
E estavam dizendo que «o cachorro quando
anda mostra o rabo». Também Oxossi, o deus da caça, veio para a festa da
macumba de pai Jubiabá.
Vestia de branco, verde e um pouco de
vermelho, um arco, distendido com a sua flecha, pendurado de um lado do cinto.
Do outro lado conduzia um aljava. Trazia daquela vez, além do capacete de metal
com casco de pano verde, um espanador de fios grossos. E não é sempre que
Oxossi, o deus da caça, o grande caçador, traz o seu espanador de fios grossos.
Os pés descalços das mulheres batiam no
chão de barro, dançando. Requebravam o corpo ritualmente, mas esse requebro era
sensual e dengoso como corpo quente de negro, como música dengosa de negro.
O suor corria e todos estavam tomados
pela música e pela dança. O Gordo tremia e não via mais nada senão figuras
confusas de mulheres e santos, deuses caprichosos da floresta distante. O homem
branco batia com os sapatos no chão e disse para o estudante:
-
Eu caio já na dança…
Jubiabá era reverenciado pelo santo.
Braços em ângulos agudos saudavam Oxossi, o deus da caça. Havia quem apertasse
os lábios e mãos que tremiam, corpos que tremiam no delírio da dança sagrada.
Foi quando, de súbito, Oxalá, que é o
maior de todos os Orixás, e que se divide em dois – Oxodiian, que é o moço,
Oxolufâ, que é o velho – apareceu derrubando Maria dos Reis, uma pretinha dos
seus qui nze anos, de corpo virgem e
roliço.
Ele apareceu Oxolufâ, Oxalá velho,
alquebrado, arribado a um bordão com lantejoulas. Quando saiu da camarinha
vinha totalmente de branco e recebeu a saudação da assistência que se curvou
ainda mais:
-
Ôkê! Ôkê!
Foi só então que a mãe do terreiro
cantou:
-
É inunn ô ôjá l’a ò jô, inun a ô Iô.
Ela estava avisando:
-
O povo da feira que se prepare. Vamos invadi-la.
E a assistência em coro:
-
« Érô ójá é para môn, ê inun ójá li a ô
Iô.
-
« Povaréu, cuidado, entraremos na feira.
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