Directamente para a boca do crocodilo... |
*O sonho de
Pedro Passos Coelho*
Pedro Passos Coelho*
(Um discurso com a faca nos dentes…)
«"Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, a
Se qui séssemos
matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há
gente muito piegas, que não
percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e
que, se nos livrarmos de um terço, os
outros vão ficar melhor.
É por isso que
nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros
grupos. E as estatísticas
já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca
se desmanchar. Não são
os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa
que mais mal faz à saúde?
Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A
tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada
vez mais o acesso aos tratamentos.
A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística.
Um dia lá chegaremos, o que é importante
é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é
preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos
salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não
pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem
com nada, que não têm deveres.
Estas tretas da democracia e da
educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de
milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há
cretinos que ainda não perceberam que,
para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.
Que há um terço que tem de ir à vida
não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos
todos e que não contribuem.
Tem de haver equi dade. Se gastam e
não contribuem, tenho muita
pena... os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais
diziam que estamos com um milhão de analfabetos.
O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento?
Só vão engrossar a
massa dos parasitas, a viver à conta.
Portanto, são: os analfabetos,
os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos
porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os
sem-abrigo, os
pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se
não tiverem uma família que possa
suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não
era justo. E temos de promover
a justiça social.
O outro terço temos de os pôr com
dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de
pensarem que mandam no
país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente.
Não digo voltar à
escravatura - é outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade
é que as sociedades evoluíram muito
graças à escravatura. Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação
para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam.
A chatice de não
podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas
chatas e, para mais (por
enquanto), votam - ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em
nós.
O que é preciso é acabar com esses direitos
garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e
vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aqui lo
que os comunistas dizem que eles são: proletários.
Acabar com os
direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda.
Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem
trabalho e passar a ser sub-humanos,
de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e /reality shows/ para os anestesiar e
para pensarem que os filhos
deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.
O outro terço são profissionais e
técnicos, que produzem serviços
essenciais, médicos e engenheiros, mas
estes estão no papo. Já os
convencemos de que combater a desigualdade
não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem
viver com conforto não há outra alternativa que não seja liqui dar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que
para pagar a saúde deles
não podemos pagar a saúde dos pobres.
Com um terço da população exterminada,
um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é que a pegada
ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não
poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou
ficar em Massamá a vida toda.
O Ângelo diz que, "se continuarmos a portar-nos
bem, um dia nós também vamos poder pertencer à
elite."»
José Victor
Malheiros - Jornalista do Público
*«um
bom pastor deve tosqui ar as suas
ovelhas, mas não esfolá-las».*
*"A estupidez é infinitamente mais fascinante que a
inteligência; a inteligência
tem seus limites, a estupidez não!" *
(Claude Chabrol)
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