quarta-feira, julho 17, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 61


Aí o negro quis saber toda a vida do branco. Quando soube que ele vivia correndo o mundo, vendo as coisas todas se entusiasmou. Quem sabe se um dia aquele homem não escreveria seu A B C?

O branco se despediu depois de dizer a Jubiabá que aquilo fora a coisa mais bonita que ele já vira. O estudante foi com ele e os negros como que respiraram.

Agora podiam conversar, discutir suas coisas, falar no que gostavam, mentir à vontade.

O Rosado falou para António Balduíno:

 - Você já viu a tatuagem nova que eu fiz?

 - Não.

O Rosado era um marinheiro que passava na Baía de quando em vez, e que um dia trouxera notícias de Zé Casquinha que navegava em mares distantes, e que até já falava língua de gringo.

O Rosado trazia as costas inteiramente tatuadas com nomes de mulheres, um vaso de flores, um punhal. E agora mandara botar mais uma cabeça de touro e um chicote.

Ficou rindo. António Balduíno admirou com uma certa inveja:

 - Tá bonito…

 - Tem um americano no navio que tem um mapa nas costas. Uma beleza, rapaz…

António Balduíno se lembrou do homem branco. Ele devia ver aquilo. Mas ele fora embora e parecia que ia fugindo porque os negros estavam com vergonha dele.

António Balduíno vai mandar fazer uma tatuagem nas costas. Mas não sabe ainda o que há-de mandar botar. Pelo seu gosto botaria o mar e o retrato de Zumbi dos Palmares.

Tem um negro no cais que traz tatuado em toda a extensão das costas o nome de Zumbi.

Damão, um negro velho, sorri.

 - Ocês querem ver costa marcada?

Jubiabá faz um gesto para ele não mostrar. Mas ele já arrancou a camisa e apareceram as costas. Todos vêm que a sua carapinha já é branca.

Nas suas costas estão as marcas do chicote. Fora surrado nas fazendas. Andara nos troncos no tempo da escravidão. António Balduíno viu logo abaixo das chicotadas uma marca de queimaduras:

 - Que foi isso, meu tio?

Quando Damião compreende que ele fala da queimadura fica de repente envergonhado e cobre as costas. Fica sem falar, olhando a cidade lá em baixo iluminada.

Maria dos Reis sorri para António Balduíno. Também os velhos que foram escravos podem ter um segredo.


Como Joana tinha ido embora, sozinha, cheia de ciúmes, e Maria dos Reis também se retirasse para casa de sua mãe, António Balduíno desceu com o Gordo e Joaquim. Levava o violão para fazer uma farra.

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