(Na minha cidade de
Santarém)
Os portugueses vivem num "crucial dilema" de que não conseguem fugir:
-
Se não forem capazes de diminuir as Despesas do Estado não cumprem o Deficit
mas se o fizerem dão cabo da economia, baixando o “poder de compra” dos
portugueses e, consequentemente, diminuindo as Receitas e lá se vão, neste jogo
de Receitas/Despesas, as vantagens para o déficit da diminuição das despesas… crucial , terrível dilema!
Todos nós temos tendência para pensar
que a economia dos países se gere da mesma forma que a de uma família:
-
Se os rendimentos da família aumentam, por promoções, prémios, subsídios ou
lucros da empresa, gasta-se mais e vive-se melhor: mais vezes ao restaurante, mais dias de férias, compra de mais umas roupitas, enfim, um comportamento normal.
- Caso contrário, se lhe baixam o
ordenado, retiram o subsídio e o prémio, ou diminuem os resultados da
exploração da actividade, corta-se na despesa e lá vão as férias, as refeições no
restaurante, etc…
Entre uma coisa e outra: o ganhar e o
gastar, aqui lo a que o povo chama:
“chapa ganha, chapa gasta” temos ainda o poupar, que acontece quando
interrompemos a lógica do “chapa ganha, chapa batida” e depositamos uma parte
no Banco ou fazemos um seguro.
Regra essencial a respeitar será a do “equi líbrio das contas” ou seja, não se pode ou deve
gastar mais do que se tem: viver dentro das receitas, das nossas “posses”…
conselho das nossas avós… não for assim e as contas desequi libram-se
e lá vêm as dívidas que, se forem bancárias, representam mais um prato à mesa, o dos juros, ao qual a
comida nunca pode faltar…
Os meus patrícios têm pouca propensão
para poupar, o que eles gostam mesmo é de gastar… o que é compreensível numa
sociedade onde o apelo ao consumo nos “entra” por todo o lado e onde “o ter” se
transformou em quase sinónimo de felicidade.
Durante muitos anos vivemos numa
estabilidade enganadora, tentadora, que nos levou a confiar no dia de amanhã
que, se “Deus qui ser”, irá ser pelo
menos igual ao de hoje.
Para os verdadeiros imprevistos, teríamos
sempre a protecção da Srª de Fátima, genuinamente uma santa portuguesa,
reconhecida internacionalmente que até já terá salvo a vida de um Papa
desviando, miraculosamente, a trajectória fatal de uma bala assassina.
Parecia, assim, que com um pouco de fé à
mistura e estabilidade quanto baste, as dificuldade de gestão de uma família
portuguesa não passavam de simples contas de somar e subtrair, tudo por baixo
porque, é claro, sempre fomos para o pobrezinho.
Gerações atrás, num Portugal mais rural,
década de 60, tínhamos a almofada familiar, a “voz do sangue” e em último caso a
emigração... a “salto para Paris de França."
Tivemos durante 13 anos cerca de 150.000 homens
permanentemente no palco da guerra colonial - 1961 a 1973 - e outros milhares em apoio a estes. O regime considerava essa guerra como uma missão de soberania sobre o solo pátrio e a oposição ao regime acusava-o de sacrificar a vida dos cidadãos à defesa dos interesses económicos de grupos ou famílias donos de grandes explorações de café, sisal, algodão, minérios, etc...aos quais se veio juntar, por fim, o "malfadado" petróleo que havia de fazer aumentar ainda mais a cobiça por aqueles territórios...
Entretanto, a família tradicional desagregou-se. Hoje tem mais dificuldades
em responder em termos de apoio e os velhos, esquecidos e abandonados, são cada vez em maior número nos
hospitais. Ninguém aparece para os levar…
Cruel destino de uma vida!
Cruel destino de uma vida!
E ao nível do país, como se passam as
coisas?
O Estado, como uma grande família
alargada, patrão de uma considerável percentagem de cidadãos, garante de
reformas e pensões tem, como eles, Receitas e Despesas e também para ele a
regra essencial é a do Equi líbrio
das Contas.
Mas se um país durante muitos anos esteve numa espécie de marasmo, letargia, se o objectivo era viver de costas
para o progresso, ele próprio considerado perigoso para a estabilidade política
e paz social, atentatório de princípios e valores religiosos e tradicionais, como
progredir, desenvolver e melhorar as condições de futuro sem receitas de
petróleo ou minas de ouro, que senão seja pedir emprestado, criar dívida, a Soberana,
que é do Estado e de todos nós?
Esta possibilidade que rompe o equi líbrio das Contas porque
vamos gastar o que não temos, está prevista, é defensável e adoptada em grande
parte dos países mas é sempre uma decisão de risco porque atiramos com
responsabilidades para o futuro e, por isso, há pressupostos que devem ser
respeitados, caso contrário o país pode ser conduzido a uma situação de banca
rota em que para satisfazer as suas necessidades de dinheiro, numa situação em
que não tenha moeda própria, vai ao mercado financeiro e já ninguém lhe
empresta.
Aconteceu connosco, em princípios de 2011,
no segundo governo de José Sócrates, o que nos obrigou a celebrar um Memorando
de Entendimento em Maio desse ano, com representantes do Banco Central Europeu,
Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia, a Troika, para um empréstimo
de 78.000 milhões de euros a pagar em 3 anos e mediante a satisfação de
compromissos a respeitar pelo país que agora são fonte de discórdia e
contestação.
(continua no próximo Hoje é Domingo)
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