sexta-feira, dezembro 13, 2013

Como compreender

 o cancro…
(Continuação)


Tendo-se adaptado para evitar os predadores, as populações mutantes têm de competir pelos recursos com as células normais das vizinhança, que continuam a desempenhar as suas funções.

Na maioria dos casos, a competição salda-se num empate. A população mutante permanece reduzida e com pouca importância para o organismo como um todo e nem ajuda nem prejudica.

Contudo, o relógio mutacional continua a trabalhar e outros mutantes surgem em algumas das populações que as tornam mais agressivas na competição com as células vizinhas.

Tal como algumas plantas se expandem produzindo uma toxina que elas conseguem aguentar mas as vizinhas não, as populações duplamente mutantes expandem-se agressivamente e tornam-se tumores incipientes.

Agora que os tumores incipientes evoluíram de modo a enfrentar os predadores e competidores, novos factores impedem a continuação do crescimento.

As células são alimentadas e os seus desperdícios retirados pelos vasos sanguíneos. A menos que um tumor incipiente consiga recrutar vasos sanguíneos da mesma maneira que os tecidos normais, não pode crescer para além de determinadas dimensões.

A maioria dos tumores incipientes pára aí, mas em alguns verificam-se mutações adicionais que superam este factor limitativo.

Isto pode parecer um passo grande e complicado, mas as instruções genéticas para recrutar vasos sanguíneos evoluíram há muito tempo como parte do desenvolvimento normal.

Tudo o que a mutação no tumor incipiente tem de fazer é activar essas instruções, o que é relativamente simples.

Desta maneira, os tumores adaptam-se aos desafios do seu meio ambiente, mutação a mutação, exactamente da mesma maneira que os organismos que vivem em liberdade, como as aves e os peixes, se adaptam ao seu ambiente, e os organismos da doença evoluem rapidamente dentro dos seus hospedeiros.

O facto de uma doença como o vírus da imunodeficiência humana (HIV) ser um organismo separado, enquanto o tumor deriva das nossas próprias células, não faz qualquer diferença.

Em ambos os casos, eles sobrevivem dentro do nosso corpo, não contribuem para o nosso bem-estar e vão avançando a um ritmo constante como bombas relógio mutacionais.

O HIV é particularmente perigoso por avançar a um ritmo muito rápido. Não só tem um tempo de geração curto, como também a transcrição do seu código genético assemelha-se ao trabalho de um monge desleixado, que produz cópias do texto sem verificar se há erros.

Na realidade, este desleixo é adaptativo; apesar de produzir dezenas de mutações prejudiciais, também produz a mutação benéfica seguinte mais rapidamente do que produziria noutras circunstâncias.

As mutações em tumores têm o mesmo efeito quando começam a interferir com a maquinaria sofisticada  que regula as vidas das células normais, fazendo as células tumorais crescerem mais depressa e com mais erros.

Os factores ambientais que aumentam o ritmo da mutação também têm o mesmo efeito.

Em ambos os casos, a bomba-relógio mutacional começa a avançar mais depressa. O tumor torna-se um mosaico de populações celulares que diferem umas das outras, criando um novo campo de competição. Os clones mais agressivos expandem-se à custa de outros clones, tal como o mutante original se expandiu à custa das células normais.

(continua)

Site Meter