Episódio Nº 181
Os interesses dos operários seriam entregues ao
senhor. O senhor é moço, tem uma bela carreira na sua frente. O parlamento o
espera. O país espera muito do seu talento,
Veja bem que os intuitos da companhia são dos mais
nobres. Muita gente pensa que a companhia não se interessa pela sorte dos
trabalhadores. Engano… A prova de que não é assim está aí: convida o paladino
deles para ser advogado da casa.
Assim os operários terão na própria directoria um
defensor. E que defensor… Por aí o senhor pode ver a boa fé com que a companhia
age…
O automóvel é macio. Zuleika vive pedindo um
automóvel. Com a companhia na mão ele chegará ao parlamento na próxima
legislatura.
O americano é prático:
- Os honorários
são de oito contos por mês, doutor.
Mas Gustavo protesta que esta questão do dinheiro o
interessa pouco, que só lhe interessa defender os operários que podem ser
excessivos, ele não diz o contrário, mas que têm as suas razões.
Se aceitar será para ser mais uma sentinela avançada dos
direitos dos operários. É claro que não apoio excessos, isso é claro…
Quando findam o jantar o doutor Guedes diz:
- Pois pode
levar as boas novas aos operários, doutor. Que aquelas crianças (sim, são umas
simples crianças – afirma Gustavo – fáceis de contentar) voltem amanhã ao
trabalho.
Têm 50% de aumento e devem isso à irradiante simpatia
do doutor Gustavo…
Quando ele sai o americano cospe.
- Já vi
sujeitos nojentos…
O velho Guedes ri e pede champanhe para comemorar o
fim da greve:
- Por conta da companhia, hei?...
Um automóvel para a mulher, deputação, uma casa em
Copacabana, possivelmente uma fazenda de cacau. Cinquenta por cento de aumento
era muita coisa. Cem por cento como queriam os operários era exigir demais.
Alem disso se pede cem para conseguir dez. Ele
conseguira cinquenta por cento para os operários. Uma vitória, sim senhor. E
ainda impedira que o nome da pátria fosse enxovalhado no estrangeiro.
No sindicato o negro António Balduíno faz o seu
terceiro discurso do dia só para que o filho do doutor Gustavo Barreiras não
seja escravo como ele é, como todos os negros e brancos operários do cais, das
padarias, da companhia de bonde, luz e telefone.
Mariano entra em casa de cabeça baixa. Quando ele saíu
a mulher ainda não sabia que a greve tinha sido declarada. E só à noite ele
teve coragem de voltar para casa, de rever os olhos febris da mulher zangada,
os olhos mortos da filha doente. Mal ele entra a mulher grita:
- Você está
metido nisso Mariano?
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