quinta-feira, dezembro 05, 2013

Já vi sujeitos nojentos...
JUBIABÁ

Episódio Nº 181


Os interesses dos operários seriam entregues ao senhor. O senhor é moço, tem uma bela carreira na sua frente. O parlamento o espera. O país espera muito do seu talento,

Veja bem que os intuitos da companhia são dos mais nobres. Muita gente pensa que a companhia não se interessa pela sorte dos trabalhadores. Engano… A prova de que não é assim está aí: convida o paladino deles para ser advogado da casa.

Assim os operários terão na própria directoria um defensor. E que defensor… Por aí o senhor pode ver a boa fé com que a companhia age…

O automóvel é macio. Zuleika vive pedindo um automóvel. Com a companhia na mão ele chegará ao parlamento na próxima legislatura.

O americano é prático:

 - Os honorários são de oito contos por mês, doutor.

Mas Gustavo protesta que esta questão do dinheiro o interessa pouco, que só lhe interessa defender os operários que podem ser excessivos, ele não diz o contrário, mas que têm as suas razões.

Se aceitar será para ser mais uma sentinela avançada dos direitos dos operários. É claro que não apoio excessos, isso é claro…

Quando findam o jantar o doutor Guedes diz:

 - Pois pode levar as boas novas aos operários, doutor. Que aquelas crianças (sim, são umas simples crianças – afirma Gustavo – fáceis de contentar) voltem amanhã ao trabalho.

Têm 50% de aumento e devem isso à irradiante simpatia do doutor Gustavo…

Quando ele sai o americano cospe.

 - Já vi sujeitos nojentos…

O velho Guedes ri e pede champanhe para comemorar o fim da greve:

- Por conta da companhia, hei?...


Um automóvel para a mulher, deputação, uma casa em Copacabana, possivelmente uma fazenda de cacau. Cinquenta por cento de aumento era muita coisa. Cem por cento como queriam os operários era exigir demais.

Alem disso se pede cem para conseguir dez. Ele conseguira cinquenta por cento para os operários. Uma vitória, sim senhor. E ainda impedira que o nome da pátria fosse enxovalhado no estrangeiro.

No sindicato o negro António Balduíno faz o seu terceiro discurso do dia só para que o filho do doutor Gustavo Barreiras não seja escravo como ele é, como todos os negros e brancos operários do cais, das padarias, da companhia de bonde, luz e telefone.


Mariano entra em casa de cabeça baixa. Quando ele saíu a mulher ainda não sabia que a greve tinha sido declarada. E só à noite ele teve coragem de voltar para casa, de rever os olhos febris da mulher zangada, os olhos mortos da filha doente. Mal ele entra a mulher grita:

 - Você está metido nisso Mariano?

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