sexta-feira, fevereiro 07, 2014

A GUERRA

DOS 

SEXOS

(continuação)




Os gâmetas cada vez maiores ter-se-iam tornado imóveis porque, de qualquer forma, seriam sempre procurados activamente pelos “astutos”, e os gâmetas de tamanho intermédio ficaram condenados.

- A “estratégia astuta” com a aposta em gâmetas cada vez mais pequenos e velozes venceu a batalha e os gâmetas maiores tornaram-se óvulos e os mais pequenos espermatozóides.

Como um macho, teoricamente, pode produzir espermatozóides suficientes para servir um harém de 100 fêmeas poderíamos supor que o número de fêmeas deveria exceder o dos machos nas populações animais na proporção de 100 para 1.

Isto significa reconhecer que para a espécie, o macho é mais “dispensável” e a fêmea mais “valiosa”.

Para dar um exemplo extremo, entre as populações de leões marinhos, 4% dos machos são responsáveis por 88% das cópulas observadas, o que significa, neste caso e em muitos outros, um excesso evidente de machos solitários que nunca terão oportunidade de copular durante toda a sua vida.

Em tudo o resto estes machos excedentes levam vidas normais e comem os recursos alimentares da população com o mesmo apetite que os outros.

Do ponto de vista do “bem da espécie” regista-se um desperdício terrível e estes machos celibatários bem poderiam ser considerados parasitas sociais.

A teoria de “selecção de grupo” tem dificuldade em explicar porque se chegou a esta situação mas a teoria do “gene egoísta” não tem qualquer dificuldade em explicar a existência de uma percentagem tão grande de machos que não se reproduzem, e essa explicação foi formulada, pela primeira vez, por Ronald Fisher, apontado por Richard Dawkins o maior dos sucessores de Darwin:

- O problema de quantos machos e fêmeas nascem é um caso particular de um problema de “estratégia parental”.

- Será melhor confiar os genes preciosos a filhos ou a filhas?

- Aquilo que Fisher mostrou é que, em circunstâncias normais, a proporção óptima entre os sexos é 50:50 e para vermos porquê é preciso começar primeiro pela mecânica da determinação dos sexos a qual, nos mamíferos, é da seguinte forma:

1º - Todos os óvulos são capazes de se desenvolverem em machos ou fêmeas;

2º- São os espermatozóides que transportam os cromossomas que irão determinar o sexo do indivíduo;

3º- Metade dos espermatozóides produzidos poderá originar mulheres – os espermatozóides X – e a outra metade – espermatozóides Y - .

4º -  X e Y apenas diferem um do outro em relação a um cromossoma.

Um indivíduo não pode, literalmente, escolher o sexo dos seus filhos mas é possível haver genes com tendência para ter filhos de um sexo ou de outro, e se os houver, terão eles probabilidade de se tornarem mais numerosos na pool de genes do que os seus alelos que favorecem uma proporção igual entre os sexos?

Suponhamos, que entre a tal população de leões-marinhos, surge um gene “mutante” que tende para fazer com que os pais tenham principalmente filhas.

Como não há falta de machos na população, as filhas não teriam problemas para encontrarem parceiros sexuais e o gene, o tal que era “mutante”, tem condições para se expandir e, a partir daqui, estava aberto o caminho para que a proporção entre os sexos naquela população começasse a desviar-se na direcção de um maior número de fêmeas.

Do ponto de vista do bem da espécie, isso seria bom, pois, como já vimos, só 4% da população dos machos fornece a totalidade dos espermatozóides necessários e, assim, o gene produtor das filhas continuar-se-ia a espalhar até que a proporção entre os sexos estaria tão desequilibrada que os pouco machos restantes, esgotados completamente, não pudessem já dar conta do recado.

Richard Dawkins

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