SEXOS
(continuação)
Os gâmetas cada vez maiores ter-se-iam
tornado imóveis porque, de qualquer forma, seriam sempre procurados activamente
pelos “astutos”, e os gâmetas de tamanho intermédio ficaram condenados.
- A “estratégia astuta” com a aposta em
gâmetas cada vez mais pequenos e velozes venceu a batalha e os gâmetas maiores
tornaram-se óvulos e os mais pequenos espermatozóides.
Como um macho, teoricamente, pode
produzir espermatozóides suficientes para servir um harém de 100 fêmeas poderíamos
supor que o número de fêmeas deveria exceder o dos machos nas populações
animais na proporção de 100 para 1.
Isto significa reconhecer que para a
espécie, o macho é mais “dispensável” e a fêmea mais “valiosa”.
Para dar um exemplo extremo, entre as
populações de leões marinhos, 4% dos machos são responsáveis por 88% das
cópulas observadas, o que significa, neste caso e em muitos outros, um excesso
evidente de machos solitários que nunca terão oportunidade de copular durante
toda a sua vida.
Em tudo o resto estes machos excedentes
levam vidas normais e comem os recursos alimentares da população com o mesmo
apetite que os outros.
Do ponto de vista do “bem da espécie”
regista-se um desperdício terrível e estes machos celibatários bem poderiam ser
considerados parasitas sociais.
A teoria de “selecção de grupo” tem
dificuldade em explicar porque se chegou a esta situação mas a teoria do “gene
egoísta” não tem qualquer dificuldade em explicar a existência de uma
percentagem tão grande de machos que não se reproduzem, e essa explicação foi
formulada, pela primeira vez, por Ronald Fisher, apontado por Richard Dawkins o
maior dos sucessores de Darwin:
- O problema de quantos machos e fêmeas
nascem é um caso particular de um problema de “estratégia parental”.
- Será melhor confiar os genes preciosos
a filhos ou a filhas?
- Aqui lo
que Fisher mostrou é que, em circunstâncias normais, a proporção óptima entre
os sexos é 50:50 e para vermos porquê é preciso começar primeiro pela mecânica
da determinação dos sexos a qual, nos mamíferos, é da seguinte forma:
1º - Todos os óvulos são capazes de se
desenvolverem em machos ou fêmeas;
2º- São os espermatozóides que
transportam os cromossomas que irão determinar o sexo do indivíduo;
3º- Metade dos espermatozóides produzidos
poderá originar mulheres – os espermatozóides X – e a outra metade –
espermatozóides Y - .
4º - X e Y apenas diferem um do outro em
relação a um cromossoma.
Um indivíduo não pode, literalmente,
escolher o sexo dos seus filhos mas é possível haver genes com tendência para
ter filhos de um sexo ou de outro, e se os houver, terão eles probabilidade de
se tornarem mais numerosos na pool de genes do que os seus alelos que favorecem
uma proporção igual entre os sexos?
Suponhamos, que entre a tal população de
leões-marinhos, surge um gene “mutante” que tende para fazer com que os pais
tenham principalmente filhas.
Como não há falta de machos na população,
as filhas não teriam problemas para encontrarem parceiros sexuais e o gene, o
tal que era “mutante”, tem condições para se expandir e, a partir daqui , estava aberto o caminho para que a proporção
entre os sexos naquela população começasse a desviar-se na direcção de um maior
número de fêmeas.
Do ponto de vista do bem da espécie,
isso seria bom, pois, como já vimos, só 4% da população dos machos fornece a
totalidade dos espermatozóides necessários e, assim, o gene produtor das filhas
continuar-se-ia a espalhar até que a proporção entre os sexos estaria tão desequi librada que os pouco machos restantes, esgotados
completamente, não pudessem já dar conta do recado.
Richard Dawkins
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