quinta-feira, abril 03, 2014

No ponte de comando, apoiado no seu canhão....
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio Nº 45











Em seu cavalo pampa, a fulgente espada na mão, os olhos ferozes, o Major Vasco Moscoso de Aragão era a própria imagem da guerra e da vitória.

Rápida seria sua carreira nos campos de batalha, de heroísmo a heroísmo, de promoção a promoção, chegando a general em alguns meses e várias batalhas, morrendo glorioso no fim da guerra, ao entrar em Buenos Aires em meio ao fogo e à metralha, a bala perdida atingindo-o no peito.

Nem assim caía do seu cavalo pampa, debruçava-se na sela, o peito roto, mas a vontade inflexível levando-o até o Palácio do Governo. Seu nome transformado em legenda, aprendido pelas crianças nas escolas.

Mas, como aquela guerra travava-se nos campos e nos mares, sobretudo nos mares, o navio sob o comando do Almirante Vasco Moscoso de Aragão, o mais jovem da Marinha de Guerra (começara capitão-de-corveta ao iniciar-se o conflito bélico), rompia a barreira da Frota Argentina e sozinho bombardeava Buenos Aires, silenciava os fortes da cidade inimiga, entrava no porto a bordo de seu cruzador com a bandeira da jovem República Brasileira a tremular

 Na ponte de comando, apoiado a um canhão, o almirante dava ordens: “Cada um em seu posto para morrer pelo Brasil!”

Frase um pouco pessimista. Era melhor modificá-la: “Cada um em seu posto, pronto para dar a vida pela vitória do Brasil!” Assim estava melhor, mais vibrante.

Tomava do binóculo, examinava as posições argentinas. Sua voz firme ordenava: “Fogo!” e os canhões cuspiam a morte na orgulhosa cidade.

Botava a pique, um a um, em manobras rápidas e jamais vistas de tão intrépidas, os buquês portenhos. Destruía os fortes, rasgava as defesas e, entre a fumaça e o clarão dos incêndios, na torre do seu navio entrava no porto conquistado, pondo fim à guerra, o Comandante Vasco Moscoso de Aragão.

A mulher movimentava-se na cama, abria os olhos sonolentos, reconhecia o quarto e o leito, tivera a sorte de ser escolhida na noite anterior, precisava agradá-lo, talvez até ele se enrabichasse. Estendia os braços, a voz mole de sono e de dengue:

- Seu Aragãozinho . ..

Rompia e despedaçava o sonho, que é a liberdade do homem, a que jamais pode ser domada, oprimida ou roubada, aquela que é seu último e definitivo bem. Arrancava o Comandante Vasco Moscoso de Aragão da torre do seu navio.


Onde volta a aparecer a besta do narrador tentando impingir-nos um livro


Permitam-me interromper a narrativa das aventuras do comandante, na versão de Chico Pacheco, destinada a tão graves consequências em Periperi, para afirmar solenemente, plantado na viva experiência, não ser nenhuma brincadeira essa questão de títulos e patentes.


Ainda hoje, quando os tempos mudaram, uma coisa é um doutor ou um oficial, outra, muito diferente, é um infeliz sem diploma. 

Para os primeiros, todos os privilégios e regalias, para os demais a dura lei. Até direito a prisão especial possuem os diplomados, sem falar nos oficiais, presos no cassino do quartel, mera formalidade.

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