O PS na encruzilhada: será que a lógica aparelhística vence a evidência dos factos?
Esqueçamos por momentos o “turbilhão” no PS. Esqueçamos, também por
instantes, a esperança da coligação no flop eleitoral do PS (digam o que
disserem alguns dirigentes do PS, o resultado eleitoral foi um flop).
Esqueçamos isso e outras coisas e detenhamo-nos, apenas por momentos, no
seguinte:
1. Não basta hoje aos partidos disporem de máquinas “oleadas” para atrair
eleitores e ganhar eleições. Não basta também terem um programa de governo que,
já se viu, serve de pouco. Também não basta controlarem as famosas distritais
que asseguram a eleição do líder que lhes garanta recompensas em troca da
militância local – lugares em listas para as autarquias ou para o parlamento,
ou outros onde se faz “carreira” e se vai ganhando poder e influência. Chega a
líder do partido quem agrada às “distritais”. Dá trabalho, muitos fins de semana
a calcorrear vilas e aldeias, a visitar os “camaradas” e a “conhecer” o País.
Seguro, como Passos, chegaram a líderes dos seus partidos porque cumpriram essa
via sacra. Cada um teve o seu “Marco António” que preparou o terreno para o
líder e depois exigiu, no mínimo, chegar à direcção do partido e a um lugar no
governo ou nalguma instituição pública.
É esta a lógica reinante e não se vê como poderá ser mudada. António Costa
poderá estar “disponível” para o “chamamento” de que está a ser alvo pelos
socialistas. Mas necessita de tempo e de vocação para ganhar o partido.
2. A segunda questão a colocar decorre da primeira: uma vez chegado ao poder
o líder é cercado pelo “aparelho”. Ainda que, num excepcional rasgo de
clarividência reconheça a sua fraqueza para levar o partido a bom porto, o
“aparelho” não o deixará discutir a liderança. O “aparelho” defende sobretudo as
suas próprias posições no poder interno conquistadas com a liderança vigente. A
situação fica ainda mais complicada quando se avizinham eleições. É que criticar
o líder implica poder não entrar nas listas de deputados e ficar fora dos órgãos
do poder partidário. Isso é bem visível no PS desde domingo, com o alinhamento
de certas figuras com o discurso do líder sobre a “estrondosa vitória do PS”
nestas europeias. Vidé Maria de Belém e Álvaro Beleza, a criticarem “quem desvaloriza a vitória do
PS”.
3. Resta dizer que nas sociedades contemporâneas marcadas pelo primado da
imagem e da comunicação, não basta ser uma boa pessoa, trabalhadora, dialogante,
honesta sensível, simpática e afectuosa para dirigir um partido e sobretudo o
País. António José Seguro é tudo isso, diria, mas não chega. Uma liderança
moderna necessita de muito mais. Necessita de carisma, coerência, frontalidade,
cultura, visão política, força intrínseca, capacidade de “arrasar” pelo
argumento e pela segurança que imprime às suas posições. Necessita de ser firme,
de que quando o ouçamos ele nos convença e nos leva a segui-lo, com convicção e
não apenas porque ele é o líder do momento do partido com quem nos
identificamos.
4. Não sei se o PS está consciente de que necessita de um líder capaz de em
2015 arrasar pelo voto uma coligação desastrosa que levou o País à pobreza e à
desesperança. O tempo escasseia e no domingo passado foi perdida uma
oportunidade histórica de o conseguir.
O “aparelho” do PS está contente com a vitória alcançada?
- Triste
contentamento, triste consolo. O PS precisa de mais ambição.
António Costa, se for ele a “chegar-se à frente”, não pode recuar outra
vez.
PS - António José Seguro parece querer ignorar o desafio de António Costa escudando-se atrás dos apoios que tem no aparelho do partido para não o defrontar em Congresso.
Se assim for, a imagem que deixa transparecer para todo o partido e para o país não é nada favorável para disputar o Governo em luta com Passos Coelho nas legislativas do próximo ano.
A coragem na política é essencial para a vitória.
PS - António José Seguro parece querer ignorar o desafio de António Costa escudando-se atrás dos apoios que tem no aparelho do partido para não o defrontar em Congresso.
Se assim for, a imagem que deixa transparecer para todo o partido e para o país não é nada favorável para disputar o Governo em luta com Passos Coelho nas legislativas do próximo ano.
A coragem na política é essencial para a vitória.
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