quinta-feira, maio 29, 2014

O PS na encruzilhada: será que a lógica aparelhística vence a evidência dos factos?


Foto de João Xavier
Foto de João Xavier


Esqueçamos por momentos o “turbilhão” no PS. Esqueçamos, também por instantes, a esperança da coligação no flop eleitoral do PS (digam o que disserem alguns dirigentes do PS, o resultado eleitoral foi um flop).
Esqueçamos isso e outras coisas  e detenhamo-nos, apenas por momentos, no seguinte:

1. Não basta hoje aos partidos disporem de máquinas “oleadas” para atrair eleitores e ganhar eleições. Não basta também terem um programa de governo que, já se viu, serve de pouco. Também não basta  controlarem as famosas distritais que  asseguram a eleição do  líder que lhes garanta  recompensas em troca da militância local –  lugares em listas para as autarquias ou para o parlamento, ou outros onde se faz “carreira” e se vai ganhando poder e influência. Chega a líder do partido quem agrada às “distritais”. Dá trabalho, muitos fins de semana a calcorrear vilas e aldeias, a visitar os “camaradas” e a “conhecer” o País. Seguro, como Passos, chegaram a líderes dos seus partidos porque cumpriram essa via sacra. Cada um teve o seu “Marco António” que preparou o terreno para o líder e depois exigiu, no mínimo, chegar à direcção do partido e  a um lugar no governo ou nalguma instituição pública.
É esta a lógica reinante e não se vê como poderá ser mudada. António Costa poderá estar “disponível” para o “chamamento” de que está a ser alvo pelos socialistas. Mas necessita de tempo e de vocação para ganhar o partido.

2. A segunda questão a colocar decorre da primeira: uma vez chegado ao poder o líder é cercado pelo “aparelho”. Ainda que, num excepcional rasgo de clarividência reconheça a sua fraqueza para levar o partido a bom porto, o “aparelho” não o deixará discutir a liderança. O “aparelho” defende sobretudo as suas próprias posições no poder interno conquistadas com a liderança vigente. A situação fica ainda mais complicada quando se avizinham eleições. É que criticar o líder implica poder não entrar nas listas de deputados e ficar fora dos órgãos do poder partidário. Isso é bem visível no PS desde domingo, com o alinhamento de certas figuras  com o discurso do líder sobre a “estrondosa vitória do PS” nestas europeias. Vidé Maria de Belém e Álvaro Beleza, a criticarem “quem desvaloriza a vitória do PS”.

3. Resta dizer que nas sociedades contemporâneas marcadas pelo primado da imagem e da comunicação, não basta ser uma boa pessoa, trabalhadora, dialogante, honesta  sensível, simpática e afectuosa para dirigir um partido e sobretudo o País. António José Seguro é tudo isso, diria, mas não chega. Uma liderança moderna necessita de muito mais. Necessita de carisma,  coerência, frontalidade, cultura, visão política, força intrínseca, capacidade de “arrasar” pelo argumento e pela segurança que imprime às suas posições. Necessita de ser firme, de que quando o ouçamos ele nos convença e nos leva a segui-lo, com convicção e não apenas porque ele é o líder do momento do partido com quem nos identificamos.

4. Não sei se o PS está consciente de que necessita de um líder capaz de em 2015 arrasar pelo voto uma coligação desastrosa que levou o País à pobreza e à desesperança. O tempo escasseia e no domingo passado foi perdida uma oportunidade histórica de o conseguir.
O “aparelho” do PS está contente com a vitória alcançada?  

- Triste contentamento, triste consolo. O PS precisa de mais  ambição.

António Costa, se for ele a “chegar-se à frente”, não pode recuar outra vez.



PS - António José Seguro parece querer ignorar o desafio de António Costa escudando-se atrás dos apoios que tem no aparelho do partido para não o defrontar em Congresso.

Se assim for, a imagem que deixa transparecer para todo o partido e para o país não é nada favorável para disputar o Governo em luta com Passos Coelho nas legislativas do próximo ano.

A coragem na política é essencial para a vitória.

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