segunda-feira, junho 16, 2014

O Palácio de Ianukovitch transformou-se em atracção turística.
Os

Homenzinhos

Verdes












De regresso ao Ukrainska Pravda,de Kiev, continuamos a transcrever o artigo sobre a “Invasão dos anõesinhos verdes”, a propósito da guerra estranha a que assistimos e a que  poderíamos chamar de “ocupação criminosa da Ucrânia”.

A leste, este exército, apressou-se a deitar a mão a bombas de gasolina e mercados, pontos estratégicos da economia local. Em Slaviansk, cobra comissões sobre quiosques e lojas tudo para “o poder do povo” e foi anunciado que elas irão subir, tudo em nome de “paz para o povo, guerra aos palácios” slogan que parece sair da revolução de 1917.

Acontece que ninguém se recorda de que, em 1917, o povo tenha acabado por conseguir terra, palácio ou paz. Ficou na berma da estrada da civilização e nunca de lá saíu...

Este exército de Ianukovitch, o Novo, em movimento constante e reforçado em cada cidade pela população local, pode chegar a Kiev e Leviv sem dificuldade, deixando atrás de si os regimentos e as brigadas ucranianas que intervêm a leste, à espera “da chegada dos russos”.

Kiev perdeu o controle efectivo da região de Donbass (no extremo leste do país). O governo continua a pagar salários e reformas, mas as forças do Estado são incapazes de garantir a segurança dos cidadãos.

As emissões da televisão ucranianas já não estão no ar, os postos de fronteira são incapazes de conter a onda de “voluntários” vindos da Federação Russa.

A região transforma-se rapidamente numa espécie de Mordor (alusão ao reino das trevas da obra de J.R.R. Tolkien) dominada por criminosos, liderada por assassinos e bandidos de todas as facções russas, das auto-proclamadas “República Popular de Donetsk” (RPD) e “República Popular de Luhansk” (RPL).

É evidente que tudo isto é o resultado de operações de tropas especiais, minuciosamente preparadas com cinismo a partir do país vizinho que beneficiou das corruptas elites locais acusadas de não terem prestado contas ao país da sua má gestão.

Em suma, estas operações nunca poderiam ter tido sucesso sem o apoio incondicional da população da região. Esta gente está pronta, muitas vezes por razões ideológicas, a bloquear as colunas blindadas ucranianas e a servir de escudos humanos aos “homenzinhos verdes” já que toda a gente sabe que as forças ucranianas não disparam sobre civis.

A mentalidade específica de Donbass, que tem as suas raízes na época do caótico povoamento desta região industrial, transformou a região numa “Vendeia Ucraniana” (alusão à região francesa que foi a base da reacção armada realista à revolução francesa de 1789 que viria a ter um impacto duradouro no futuro da França e de todo o continente, com o colapso das monarquias absolutistas).

Aqui foi feudo dos comunistas e, depois, do Parido das Regiões do deposto Presidente Viktor Ianukovitch.

Nos últimos tempos, todas as sondagens revelam que mais de metade da população é a favor da integridade da Ucrânia, havendo apenas um terço de secessionistas mas, com as condições criadas pela operação especial russa, essa minoria deu provas de paixão e agressividade, enquanto a maioria ficou passiva e apavorada.

O ponto de não retorno não foi a ocupação dos edifícios da administração local, nem a entrada dos “homenzinhos verdes” em Slaviansk mas o facto de, em meados de Março, a polícia local ter deixado três centenas de bandidos, armados com bastões e barras de ferro, acabar violentamente com uma manifestação de vários milhares de pessoas que, no centro de Donetsk, defendiam uma Ucrânia Unida.


(continua)

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