"AS FORÇAS DO MEL"
Na cozinha da rainha
abriu a caça à massa,
ao passo que na minha,
foi a farinha que, de avental,
gritou para o quintal ser
inimiga da formiga.
Entretanto, a vizinha, em
conversa com a galinha,
disse-lhe que tanto lhe faz
ter um rapaz ou um ananás.
"O que importa", concluiu, "é a
horta não estar morta".
"Couve é que nunca lá ouve",
sussurrou o velho abade,
ao ouvido de um feijão frade
"nem crescem lá sinos, nem mesmo meninos",
retorquiram, em coro, os pepinos.
Foi, então que o jasmim
lá do fundo do jardim,
resolveu pedir à cereja
que fosse num instante à igreja
implorar ao sacristão, para que
falasse com os nabos, recem-promovidos
a cabos, e com os palermas dos pimentos,
ufanos da sua condição de sargentos, e os
convencesse a não imitar as sementes,
que armadas em tenentes,
agrediram o atum
sem motivo nenhum
e trataram as turfas como se fossem putas.
Melhor seria que fizessem como o defunto
presunto,
ou o malogrado tomate,
infelizmente caídos em combate,
numa luta sem quartel
contra as forças do mel.
Paulo Abrunhosa
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