quarta-feira, julho 30, 2014

Não dêem a César nada do que ele pede: nem a reverência nem o imposto.
“A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR” 


"A DEUS O QUE É DE DEUS"


Uma Questão Delicada e 

Uma Resposta Radical










A frase "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22,15-22, Mc 12,13-17, Lc 20,20-26) é uma das mais repetidas pelos políticos e eclesiásticos de todos os sectores mas é também das frases de Jesus mais manipulada e mal interpretada. 

É apresentada nos evangelhos para separar a fé da política, ou reforçando a ideia de que a religião é independente de qualquer compromisso político e social, limitada a orações e sacrifícios, dando a entender que a política é alheia à crítica ética.

No entanto, uma das mais frequentes causas das revoltas populares na Palestina foram os impostos. Foi justamente a recusa em pagar impostos a Roma, a faísca que acendeu a guerra Judaica em 70 DC quando Jerusalém foi arrasada e destruída e a população judaica começou sua diáspora.

Neste contexto, a pergunta que faziam a Jesus se deviam ou não pagar impostos era particularmente sensível e delicada. Os zelotas se recusavam pagar como forma de resistência activa à Roma. As classes colaboracionistas, saduceus (seita sacerdotal pertencente à classe dominante e diferente dos fariseus) e sacerdotes, recomendavam o pagamento. Os fariseus tinham dúvidas. Teoricamente, eram contra, eram muito nacionalistas, mas, na prática, acabavam pagando.

Esta frase é frequentemente interpretada como evidência de que Jesus respeitou a autoridade constituída e comprometeu-se á separação de deveres para com Deus e para com a autoridade terrena, assumindo assim que Jesus era da opinião de Paulo, que diria mais tarde, depois de Jesus, que a autoridade deve sempre ser obedecida, porque toda autoridade vem de Deus (Rm 13,1-4).
Jesus tinha de falar sobre impostos, um tema recorrente no seu país e no seu tempo e que tanto afectou os pobres. Mas achamos que a sua opinião sobre este assunto, condensada nesta frase foi modificada em transcrições posteriores da tradição oral das primeiras comunidades, todas elas efectuadas nos tempos ainda do Império Romano quando o poder dos seus imperadores era muito poderoso e assustador.

É impossível acreditar que Jesus, que repelia a deificação de César e que tão bem conhecia os abusos dos romanos, respeitasse a sua autoridade. Em vez disso, aproveitou a delicada questão que lhe puseram para dar uma resposta radical:

 -  "Não dêem a César nada do que ele pede: nem a reverência, nem o imposto."

Não tivesse sido esta a posição de Jesus da Nazaré relativamente aos impostos que eram cobrados pelos romanos, potência ocupante do território da Palestina,  e toda a concepção do papel histórico  de Jesus teria que ser revisto e, inclusivamente, a sua morte, assassinado pelos romanos, deixaria de fazer sentido.

Site Meter