Cruz Sensual |
As Religiões
e o Sexo
Há
religiões que aceitam o corpo, outras desprezam-no mas nenhuma o ignora. Para
além disso, todas têm tendência para controlarem as principais funções do
corpo: o alimento e a sexualidade. Esta última, por constituir um impulso tão
vital, ocupa um lugar primordial em todas as religiões.
Nas religiões ancestrais da
humanidade abundavam os ritos que exaltavam a fertilidade e o princípio
feminino como símbolo do divino e do sagrado. Com o avanço das religiões
patriarcais – que são todas as actuais religiões – as coisas mudaram.
O mito de Adão e Eva e do pecado
original – mito fundacional da cultura judaica-cristã – expressa já uma visão
profundamente patriarcal.
Este mito foi apresentado pelo
cristianismo, desde muito cedo, como a explicação para a origem de todos os
sofrimentos e males do mundo, como a prova de que nascemos maus e contaminados
pelo pecado, como a raiz da inferioridade do corpo face ao espírito, como base
para a descriminação das mulheres portadoras de um corpo que é tentação, risco e
veículo de pecado.
A mulher é a “porta do diabo” dizia Tertuliano. (Um dos mais
importantes escritores eclesiásticos da antiguidade, nascido por volta de 155
da era cristã e convertido ao cristianismo em 193. Violento, enérgico,
fanático, lutador empedernido, colocou todas estas características e a erudição
ao serviço da sua fé.)
Estas ideias, já presentes no
judaísmo mas alheias à mensagem de Jesus, encontraram eco na doutrina dos
padres da Igreja que tinham uma visão muito negativa da sexualidade, em especial
da feminina.
O sexo e a relação sexual deixaram de
ser expressão de um prazer sagrado, um veículo excelso da comunicação humana,
uma metáfora do amor de Deus, para se converter em algo sujo, negativo e
degradante. Por oposição, a abstinência sexual, a recusa do contacto com o
corpo das mulheres, era uma virtude sublime que aproximava a Deus e levava à
perfeição.
Todas as culturas exerceram, de uma
forma ou de outra, controle sobre a sexualidade, vista com admiração, como
mistério, mas também com temor: uma actividade cheia de contradições.
E Jesus, terá sido casado?
- Não se sabe se Jesus casou ou não, se era viúvo, quantas vezes se
enamorou e de quem, e se teve filhos mas é difícil imaginá-lo solteiro pois,
na cultura de Israel, um homem e uma mulher sós e sem descendência eram seres
estranhos.
Mas não o sabemos e jamais o saberemos. O que sabemos é que em
qualquer uma das hipóteses nada muda na sua mensagem. A quem escreveu os
Evangelhos o “estado civil” de Jesus terá parecido um detalhe não importante
relativamente à importância da sua mensagem e por isso nada aclararam nos seus
relatos.
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