terça-feira, outubro 28, 2014

Leviana mas dona de um coração de ouro
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 83



















Ao ler as ardentes missivas, madre Ana de Jesus pecara duplamente: por tê-las lido e por tê-las restituído ao esconderijo em baixo do colchão, sem levá-las ao conhecimento da Madre Superiora: tinha uma fraqueza pela aluna, estabanada e leviana mas dona de um coração de ouro.

Madre Ana de Jesus, antes de tomar o hábito, também fora moça e namorara.

Arteira e convincente, Auta Rosa comandava. Aruza ouvia-lhe os diabólicos conselhos, fascinada.

7

Na solidão de Tocaia Grande, Fadul Abdala descabaçou Aruza Skaf em incontáveis ensejos, com brandura ou violência, paciente ou sôfrego, no sonho e na vigília.

Sozinho na cama ou cobrindo rapariga do lugar, Fadul a teve,
insaciável.

 Durou cerca de dois meses, período transcorrido entre a chegada em Ilhéus com a mosca azul zunindo na cabeça e os encantos da normalista nos olhos, no peito, na estrovenga, e a notícia dada pelo coronel Robustiano de Araújo.

 Certas noites ele a teve e a deflorou três e quatro vezes em seguida.

Temendo assustá-la ou ofendê-la, Fadul esforçava-se para ser delicado e prudente nos contactos iniciais, ao desvesti-la do uniforme azul e branco. Carícias timoratas, beijos furtivos nos ombros, no cangote, tacto cauteloso insinuando-se na descoberta de tesouros resguardados: um prazer dos deuses.

Pouco a pouco a donzela se rendia, o pudor se transmudava em desejo, Aruza consentia nos avanços de Fadul, deixava-se despir.

O corpo nu estendido sobre o magro colchão de capim seco, coberta de chitão, fedor de percevejos, no abandono de Tocaia Grande, Aruza se entregava. Seios fartos, bons de pegar e apertar com as mãos, bunda poderosa, ancas de égua e o bocetame. Tudo de conformidade com o gosto e a gula do Grão-Turco.

 Finalmente Deus se havia compadecido dele.

Modificavam-se as posições - experimentou todas – variavam o tempo, o local e o ritmo da metida, a xoxota de Aruza jamais se repetia. Na hora crucial, Fadul ouvia o grito, indispensável como o sangue: grito e sangue de Siroca.

 Por um instante, curto porém atroz, Aruza era a pequena Siroca se rendendo indefesa nos cafundós do cacau à força e à lábia do mascate.

Colhia e voltava a colher o intacto cabaço, a desfolhar a cobiçada flor da virgem. Cabaço vário e múltiplo, a flor de Aruza, mantendo-se sempre bela, apertada e quente, variava ao sabor da fantasia.

Foi farta de pêlos ou quase não os teve, tênue penugem.

Abriu-se refolhuda rosa, ofertando-se. Escondeu-se nas coxas
trancadas, recatado botão. O grelo se alteava arrogante ou receoso se encobria.

Foi a xoxota de Bernarda, a de Dalila, a da pequena Cotinha, a da imensa Maneta Quinze Arrobas, a xoxota de chupeta de Coroca, tantas e tantas outras, puras e ilibadas.

Foi o inviolado xibiu de Zezinha do Butiá, um abismo. Somente o grito não se modificou, permaneceu o lamento fatal, de dor e perdição, da moleca Siroca.

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