segunda-feira, novembro 03, 2014

A cena da separação das águas que permitiu a fuga dos judeus....
MOISÉS
(Richard Dawkins)




















Falar do antigo Testamento sem uma palavra para Moisés não faria sentido e Richard Dawkins atribui-lhe a importância que ele realmente tem considerando-o um modelo com mais probabilidades do que Abraão para atrair seguidores entre as três religiões monoteístas.

Abraão pode até ser considerado o Patriarca primacial, mas, se alguém merece a designação de fundador doutrinal do Judaísmo e das religiões dele derivadas, esse alguém é Moisés.

O Deus de Abraão e de Moisés era terrivelmente ciumento relativamente a outros deuses e isso é recorrente ao longo de todo o Antigo Testamento e quando o seu povo se desviava do seu culto a vingança era sempre terrível.

O episódio do bezerro de ouro e Baal, o deus seu eterno rival, sedutor dos adoradores volúveis, são reveladores desse ciúme que teria estado, de resto, na origem do 1ºe dos 3 seguintes dos 10 Mandamentos:

1º-Eu sou o Senhor teu Deus, não terás outros deuses além de Mim;

2º- Não farás para ti esculturas nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou em baixo sobre a terra, ou nas águas debaixo da terra: não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás cultos.

3º- Não pronunciarás em vão o nome do Senhor teu Deus.

4º- Lembra-te de santificar o dia de descanso; trabalharás durante 6 dias e farás toda a tua obra. Mas no 7º dia – Que é um repouso em honra do Senhor teu Deus, não farás trabalho algum.

Parece, realmente, que Deus só estava verdadeiramente preocupado consigo, com o seu poder único e indiscutível, muito mais importante do que qualquer outra coisa que aos homens dissesse respeito…

No episódio do bezerro de ouro…Moisés estava longe, em segurança, no monte Sinai conversando com Deus e recebendo dele as Tábuas de pedra gravadas mas o povo, lá em baixo, vendo que Moisés demorava a descer o monte não perdeu tempo, reuniu-se à volta de Aarão e disse-lhe:

“ Vamos! Façamos para nós um deus que caminhe à nossa frente pois a Moisés, esse homem que nos persuadiu a sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido” (Êxodo 32:1)

Então, Aarão, pôs toda a gente a reunir o ouro que tinham e fundindo-o fez um bezerro de ouro e para esta nova divindade construiu um altar para que todos pudessem começar a oferecer sacrifícios.

A verdade é que deviam ter pensado duas vezes antes de se porem com folestrias nas costas de Deus pois, mesmo estando no cimo da montanha apercebeu-se de tudo, não esqueçamos que ele era omnisciente, e despachou Moisés monte abaixo, à pressa, transportando as Tábuas de pedra em que gravara os 10 Mandamentos.

Quando chegou e viu o bezerro de ouro ficou tão furibundo que deixou cair as Tábuas que se partiram tendo Deus substituindo-as por outras.

Moisés agarrou no bezerro de ouro, queimou-o, reduziu-o a pó, misturou-o com água e obrigou o povo a engoli-lo.

Depois mandou a tribo sacerdotal passar a fio de espada tantos quantos pudessem e isso resultou em 3000 mortos que se julgaria suficiente para acalmar os ciúmes de Deus. Mas não, Deus ainda não estava satisfeito.

No último versículo deste terrível capítulo, o seu gesto de despedida foi lançar uma praga sobre o que restava do povo “por ter instigado Aarão a fazer o bezerro”.

No capítulo 25 do Livro de Números muitos judeus foram seduzidos pelas mulheres moabitas a oferecerem sacrifícios ao deus Baal.

Mais uma vez Deus reagiu com a fúria característica, ordenando a Moisés:

“Reúne todos os chefes do povo e manda-os enforcar diante do Senhor, em pleno dia; depois a ira do Senhor se afastará de Israel”.

Tendo prometido expulsar das suas terras os infelizes dos Amorreus, Cananeus, Heteus, Ferezeus, Heveus e Jebuseus, Deus passa, por fim, ao que realmente lhe interessa: a rivalidade com deuses!

“…derrubareis os seus altares, quebrareis os seus monumentos e cortareis as suas árvores sagradas. Não adorareis nenhum outro deus, pois o Senhor chama-se zeloso; é um Deus Zeloso.

Não façais aliança alguma com os habitantes desta terra porque, quando se prostituem aos seus deuses e lhes oferecem sacrifícios, poderiam aliciar-te e comerias as vítimas dos seus sacrifícios; poderias também escolher, entre as suas filhas, mulheres para os teus filhos e essas mulheres, prostituindo-se aos seus deuses, arrastariam os teus filhos que também se prostituiriam a esses deuses. Não farás para ti deuses de metal fundido”. (Êxodo 34: 13-17).


A limpeza étnica iniciada nos tempos de Moisés é levada a um extremo sanguinolento no Livro de Josué, um texto marcante pelos massacres sanguinários que relata e pelo prazer xenófobo com que o faz. Como reza o velho e encantador cântico, «Josué lutou na batalha de Jericó e as muralhas desabaram…Não há ninguém como o bom velho Josué – é da batalha de Jericó».

O bom velho Josué não descansou enquanto não «passaram ao fio da espada quando nela encontraram, homens, mulheres, crianças, velhos e os bois, as ovelhas e os jumentos» (Josué 6:21).

E não se pense, já agora, que a personagem de Deus, presente em toda esta história alberga quaisquer dúvidas ou escrúpulos acerca dos massacres e genocídios de que a ocupação da Terra Prometida se fez acompanhar.

Pelo contrário, as suas ordens, por exemplo, em Deuterenómio 20, são implacavelmente explícitas relativamente aquelas tribos que tinham o infeliz azar de já habitarem o «lebensraum», uma espécie de espaço vital da terra prometida: «quanto às cidades daqueles povos que o Senhor, teu Deus, te há-de dar por herança, não deixarás subsistir nelas nem uma só alma. Votarás à destruição, o heteu, o amorreu, o cananeu, o farezeu, o heveu e o jebuseu como te ordenou o Senhor, teu Deus.»

Será que as pessoas que apontam a Bíblia como inspiração para a rectidão moral têm a mais pequena noção no que, na realidade lá está escrito?

Exemplo:

No Livro de Números 15, os filhos de Israel encontram um homem no deserto a apanhar lenha num sábado, dia proibido.

Levam-no e perguntam a Deus o que fazer com ele.
Acontece que nesse dia Deus não está para meias medidas.

“Então o Senhor disse a Moisés: “Esse homem será morto, toda a assembleia o apedrejará, fora do acampamento”. De facto, toda a assembleia o fez sair do acampamento, apedrejando-o e foi morto”.

Teria este inofensivo homem que apanhava lenha, uma mulher e filhos para lhe chorarem a morte? Teria gritado de dor enquanto a fuzilaria lhe esmagava a cabeça?

O que choca nesta história não é o facto de ter acontecido, até porque, provavelmente, não aconteceu.

O que surpreende é as pessoas hoje basearem as suas vidas num modelo de comportamento medonho como é o de Jeová e, pior ainda, que tentem mandar em nós impingindo-nos o mesmo monstro maligno.

Claro que os tempos mudaram e nenhum líder religioso da actualidade (tirando os talibãs ou os seus equivalentes entre os cristãos norte americanos) pensa como Moisés mas um Bispo da actualidade sobre os 10 Mandamentos do Antigo Testamento diz «que eles contêm a maior base da moralidade, retêm princípios fundamentais sem os quais seria impossível a existência de qualquer sociedade humana, sendo uma espécie de Carta Magna da humanidade».

Já agora, para que não fiquem incompletos os 10 Mandamentos das tábuas que Deus deu a Moisés, para além dos 4 primeiros já transcritos e que apenas se preocupam com a blindagem total do seu próprio poder, eles completam-se com:

5º - Honra o teu pai e a tua mãe para que os teus dias se prolonguem sobre a terra;

6º - Não matarás;

7º - Não cometerás adultério;

8º- Não furtarás;

9º- Não levantarás falsos testemunhos contra o teu próximo;

10º - Não cobiçarás a mulher do teu próximo e não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem nada que lhe pertença.

Não sei se há 3.500 anos este conjunto de regras representavam algum avanço em termos de justiça social ou se já nesse tempo eram uma “espécie de chover no molhado”.

Serem consideradas, hoje, a Magna Carta da humanidade diz muito sobre a actualidade do pensamento de alguns Bispos da Igreja.

Mais, se levássemos a sério os 10 Mandamentos, classificaríamos a adoração de falsos deuses e a construção de ídolos em primeiro e segundo lugares na lista de pecados.

Em vez de condenarmos o inqualificável vandalismo dos talibãs, que fizeram explodir os Budas de Bamyan, estátuas de 45 metros de altura localizadas nas montanhas do Afeganistão, louvá-los-íamos pela sua justa devoção porque aquilo que tomamos por vandalismo seria, sem dúvida, motivado por sincero zelo religioso. 

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