segunda-feira, novembro 10, 2014

Mandou vir rapariga de Itabuna, seu Fadu?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 94



















Não podia se expor, cair na boca do mundo por botar chifres em defunto: não tendo feito Kalil Rabat cabrão em vida, sentia-se na obrigação de respeitar sua memória e tinha necessidade de agir assim para não dar o que falar ao povo.

Jamais conhecera outro homem além do marido, Fadul fora o primeiro e o último e por uma única vez quando, cega de paixão, perdera a cabeça e se entregara.

 Não, não voltaria a suceder! De novo na cama, fosse nos braços dele a quem amava, fosse nos braços de outro, de um cidadão trabalhador e decente que lhe propusesse casamento - não havia de faltar - somente depois dos papéis passados, nunca antes como viera de acontecer.

 Esposa, sim, amante não. Ai, pobre de mim!

Tocou o cavalo pampa, seguida pelo serelepe, na pressa de chegar a Itabuna e espalhar as boas novas. Se Fadul não fora explícito, se não assumira compromisso categórico, Jussara sabia ler nas entrelinhas, descobrir as intenções na inflexão da voz e não tinha dúvidas de que o turco viria correndo no seu rastro.

Deixara-lhe na pele, na boca, no peito, na borduna, o seu gosto inesquecível, dali para diante indispensável, o desinfeliz já não saberia viver sem possuí-la. Não tinha dúvidas, podia encomendar o padre e o juiz.

Sobre Fadul Abdala, noivo à vista, obtivera anteriormente, em casual conversa com amiga de infância, duas informações precisas: comerciante trabalhador e capaz igual a ele não havia outro; tampouco pé-de-mesa que se comparasse ao dele.

Acabara de comprovar a verdade daquelas referências. Para ganhar dinheiro nos tacanhos cafundós de Tocaia Grande, era preciso ser negociante de muita esperteza e diligência: No que se refere à estrovenga, a viúva a empunhara com as duas mãos, aferira na própria carne, louvado seja Deus!

O sol ainda não se escondera nas águas do rio, quando Jussara sumiu no rumo de Taquaras, antes da primeira tropa de burros despontar no caminho. Ninguém a vira chegar, ninguém a viu partir.

 Excepto Coroca que, ao aparecer para comprar querosene, assinalou:

 - Mandou vir rapariga de Itabuna, seu Fadu?

6

Em sossegado fim de tarde na jovem e afarista cidade de Itabuna, tendo depositado o saco de viagem no quarto de Zezinha do Butiá na pensão alegre de Xandu e tomado um banho de tina - Zezinha esquentara água na chaleira e lhe esfregara as costas com bucha seca e cheiroso sabonete, maravilhas da civilização! - Fadul Abdala se dispunha, no galante dizer da bela, a dar comida à rola.

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