A noite inteirinha com ela? Ai, benza Deus! |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 125
Bernarda segurara o choro no fundo da
garganta, tinha prática de trancar lágrimas e soluços na caixa do peito; riu melhor
pois riu por último ao decifrar motivo e consequência.
Na ida mensal à Boa Vista o capitão
Natário da Fonseca aparecia no meio da manhã; na volta para a Atalaia apeava da
mula no meio da tarde.
Ensejo breve e dividido: todos queriam vê-lo, trocar
dois dedos de prosa, saber as novidades; entretinha-se um tempão no cavaco com
Fadul.
De manhã ou de tarde, enquanto Bernarda
e o Capitão se fartavam e refartavam na cama de campanha, Coroca passava um
café adoçado com rapadura para servir bem quente durante os minutos de
conversação que precediam o bota-fora.
Ao chegar da Atalaia, Natário referia notícias
da família, de Zilda e dos meninos: sua madrinha mandou a bênção e esse pedaço
de pano que é pra tu fazer uma saia. No regresso da Boa Vista, não tinha outro
assunto além das roças recém-plantadas.
Discorria entusiasmado sobre o satisfatório
crescimento das mudas, perspectivas optimistas: contente, Bernarda batia
palmas. Se, ao contrário, ele especulava sobre as chuvas, cuja duração podia
modificar as previsões afogando os brotos, Bernarda conjurava os maus augúrios,
anunciava o sol.
Não esquecia de mandar pedir a bênção à
madrinha na hora da partida. Hora penosa, arrenegada: teria de arrastar um
infindável mês para tê-lo de novo contra o peito, minguados segundos para o
desmedido anseio.
Quando demoraria com ela uma noite
inteira, das sombras do crepúsculo à alva do dia? Quando, Padrinho?
Pois não é que, numa daquelas distantes
tardes de outrora, ao saborear o cafezinho de Coroca, o
padrinho informara inesperadamente que daí a qui nze
dias regressando da festa de casamento de uma filha de Lourenço Batista, chefe
da estação de Taquaras, pernoitaria em Tocaia Grande , viria esquentar a cama da
afilhada?
A noite inteirinha com ela? Ai, benza
Deus! Notícia mais apetecida e grata, custava acreditar fosse verdade.
Acendida, sem caber em si, pediu que o
padrinho repetisse o dia certo. Não havia como errar: passado o próximo
domingo, o outro, menos de duas semanas. A noite inteira.
Não havia como errar, reafirmou Coroca
depois que Natário esporeou a mula e ganhou a estrada. As páginas impressas
em preto no bloco da folhinha indicavam os dias da semana, de segunda a sábado,
mas o de domingo destacava-se em vermelho, para diferenciar o dia santo, dia de
festa.
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