Eu sou do tempo em que era costume as
famílias receberem visitas, de pessoas da própria família ou simplesmente amigas. Algumas aconteciam mesmo em determinados dias da semana ou do mês com
carácter de regularidade.
Era de “bom tom”, sinal de classe, de
reconhecimento social pela pessoa que visitava e pela que era visitada, uma
espécie de culto social.
Era tudo convencional, quase que uma
obrigação daqueles tempos em que as senhoras, especialmente viúvas e
solteironas, não tinham nada que fazer, um frete, um preço a pagar que
aproveitava á coscuvilhice.
Era o cházinho, o pão-de-ló feito pela
dona da casa,... “mais uma fatiazinha que está tão bom”...tudo formalidades,
palavras de conveniência e no tempo certo para as visitas olhava-se para o relógio
como indicação que era o momento das despedidas.
Para minha desgraça e do meu irmão, a
visita lá de casa, tenho uma vaga idéia que era às qui ntas-feiras, era a da nossa professora de instrução primária, a Srª Dª. Ludovina, mais
temida que respeitada.
Dia mau para nós lá em casa. As ameaças
começavam cedo: “portem-se bem, meninos, não se esqueçam que hoje é o dia da
visita da vossa professora...” e o recado estava dado, já não havia disposição
para nenhuma brincadeira que tivesse jeito.
Aquela mulher de corpo avantajado
encimado por uma cabeça onde se destacava um carrapito, pulsos grossos com
muitas pulseiras que tilintavam umas nas outras, incapaz de uma palavra para as
crianças que não fosse ordem ou reprimenda, que castigava severamente com o
apoio dos pais e do regime, era o nosso terror.
Se a visita se arrastava até ao jantar, a sopa era devorada em silêncio e rapidamente mesmo que fosse o “odiado
caldo verde”... marchava tudo.
Hoje já ninguém visita ninguém. Combinam-se
por vezes almoços em restaurantes de bairro mas os encontros foram substituídos
por emails, Sms e conversas de telemóvel intermináveis de jovens que se ligam às
máqui nas doentiamente.
Mas a minha pior visita, aquela que mais
me doeu e não mais esqueci, foi a que fiz à minha mãe, lavada em lágrimas, num
corredor do Tribunal de Tutoria da Infância no contexto de um divórcio de “faca
e alguidar” sem uma coisa nem outra mas com muito ódio à mistura por parte do
meu pai. Era eu ainda um jovem muito novo.
Vem esta visita a propósito daquela que
os filhos de José Sócrates gostariam de fazer ao pai, agora preso na cadeia de Évora,
sem se tornarem espectáculo de televisão apanhados por operadores de câmara e
jornalistas colocados de atalaia à porta da prisão sem respeito por sentimentos
filiais ou de amizade.
Dizem que é por causa da “liberdade de imprensa”... desculpa para tudo.
Dizem que é por causa da “liberdade de imprensa”... desculpa para tudo.
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