... se ofendera, já não a queria de xodó. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 127
- Afastou-se deixando a porta livre, o aço do parabelo cintilou no bruxuleio do
fifó.
- Pelo amor de Deus, não atire, Capitão!
Arrebanhou as calças e a camisa,
disparou porta afora, sumiu no mato, só parou de correr quando se considerou a
salvo.
Muita sorte tivera: enxergara o Capitão
antes de cometer a loucura de meter-lhe a mão na cara e condenar-se à morte.
Com aquela desvairada, por melhor fêmea
que fosse - e era! -não voltaria a se
deitar, nem de graça, Deus o livre e guarde.
Bernarda pôs-se de pé, atarantada, sem
palavras, nem bênção lhe pediu. Natário guardou a arma, o rosto impenetrável, a
voz severa, rigorosa:
- Avisei que vinha dormir aqui no dia de hoje. Se esqueceu?
- Padrinho disse que ia vir no domingo.
Inda hoje espiei na folhinha de seu Gerino.
Do outro quarto chegou a voz de Coroca:
-
É deveras, fui junto com ela, marcava qui nta-feira.
- Tendo dito, voltou a seus cuidados: tranqui lizar
o parceiro.
Apavorado que propunha pagar e ir-se
embora: — Fique descansado, moço, não tenha medo.
O Capitão sentou na cama, retirou o
cinturão, começou a descalçar as botas:
-
Vá se lavar.
Bernarda saiu disparada em direcção ao
rio mas voltou do meio do caminho na mesma correria em busca do sabão: a água não
bastava para limpar a pele do suor e da lembrança do cagão.
Ao regressar molhada e imaculada, pronta
e feita para as
núpcias com o padrinho, encontrou-o
dormindo aparentemente a sono solto, nem sequer tirara a calça.
Bernarda ficou baratinada sem saber o
que fazer. Sentou-se na viga da cama, tocou-lhe o rosto de leve com os dedos húmidos.
Sem abrir os olhos, o padrinho virou-lhe as
costas. Estaria realmente adormecido ou desapiedado a repelia? Na fumaça da
candeia ele a enxergara debaixo de outro, se ofendera, já não a queria de xodó.
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