"Porquê insistir na representação do
Profeta, que se sabe ofender os muçulmanos?", perguntou a eurodeputada. Não estou de acordo. Não em meu nome.”
(Ana Gomes, socialista, eurodeputada, ex-diplomata)
O
partido socialista silenciou em sinal de reprovação mas eu entendo
perfeitamente. A eurodeputada não abdica da liberdade de imprensa, basta
conhecer o seu passado, mas aceita uma auto censura que tem a ver com o
respeito que lhe merece a maneira de sentir dos seguidores do Profeta,
especialmente os mais fervorosos.
Ela
foi também diplomata e como tal entende que não se provocam problemas e muito
menos guerras quando são desnecessárias e escusadas.
Vejamos,
no entanto, a situação numa outra perspectiva. Os acontecimentos trágicos
chamaram a atenção do mundo inteiro para uma revista que tinha uma tiragem
semanal de 60.000 exemplares e os seus redactores e caricaturistas eram todos
ateus e, como tal, pensavam e reagiam como ateus, assumidos, militantes, que
são de opinião que a religião e os religiosos, como tais, são objecto de um
respeito imerecido.
Por
isso, ridicularizavam os símbolos religiosos como o fariam com os políticos,
artistas, cientistas, pensadores, porque a sua função era fazer rir ou sorrir
por essa forma.
Quem
não gostasse não compraria a revista ou não olharia para ela nos escaparates
dos qui osques onde se vendiam para
não se sentirem ofendidos com os seus desenhos.
Esta
é a liberdade em vigor nos países europeus onde ninguém reprova ou desaconselha
os desenhos que procuram fazer humor com qualquer outro tema que não seja a
religião, que esse ganhou direito a um tratamento especial mas imerecido, na
maneira de pensar dos ateus.
O
ponto de partida é o de que a fé religiosa é particularmente vulnerável à
ofensa e deve ser protegida por uma invulgar grossa muralha de respeito,
respeito esse diferente daquele que qualquer ser humano deve ter para com o seu
semelhante.
Douglas
Adams que foi um escritor e comediante britânico, ateu, famoso por ter escrito
os textos para a série televisa Monty Python’s, num discurso improvisado em Cambridge,
pouco antes da sua morte exprimiu-o tão bem que todos vão entender:
- “A religião tem no seu âmago algumas ideias
a que chamamos sagradas ou santas ou seja lá o que for. O que significa é o
seguinte:
- Aqui
está uma ideia ou uma noção sobre a qual não nos é permitido falar mal, pura e
simplesmente. Porquê? – Porque não.
Se
alguém vota num partido sobre o qual não concordamos somos livres de discuti-lo
tanto quanto nos apetecer, cada um terá algo para dizer mas ninguém se sentirá
agastado por isso. O mesmo se pode afirmar relativamente aos impostos ou
qualquer outro tema.
Mas,
se por um qualquer preceito religioso, não se deve rodar o botão do interruptor
para acender uma lâmpada ao sábado, logo se diz: “eu respeito isso”.
Trata-se
de um respeito pretensioso da nossa sociedade pela religião."
As
pessoas desfilaram aos milhões por toda a Europa para afirmarem o direito da
sua imprensa ironizar com o profeta, como já o tinham feito com Cristo, o
Menino Jesus ou o Papa, independentemente de muitos discordarem, não gostarem
ou terem medo.
A
liberdade sempre teve um preço e a eurodeputada socialista experimentou noutros
tempos, com toda a coragem, esse preço.
Os
cartoonistas do Charlie Hebdo pagaram agora esse preço. A causa foi outra, foi
a deles e não a de Ana Gomes.
Quando
se ironiza com o Profeta, este ou qualquer outro, o objectivo não é o insulto
pelo insulto, é o humor e esta diferença, nas sociedades democratas e laicas é
perfeitamente compreendida.
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