sexta-feira, janeiro 16, 2015

ANA GOMES













"Porquê insistir na representação do Profeta, que se sabe ofender os muçulmanos?", perguntou a eurodeputada. Não estou de acordo. Não em meu nome.”
(Ana Gomes, socialista, eurodeputada, ex-diplomata)


O partido socialista silenciou em sinal de reprovação mas eu entendo perfeitamente. A eurodeputada não abdica da liberdade de imprensa, basta conhecer o seu passado, mas aceita uma auto censura que tem a ver com o respeito que lhe merece a maneira de sentir dos seguidores do Profeta, especialmente os mais fervorosos.

Ela foi também diplomata e como tal entende que não se provocam problemas e muito menos guerras quando são desnecessárias e escusadas.
Vejamos, no entanto, a situação numa outra perspectiva. Os acontecimentos trágicos chamaram a atenção do mundo inteiro para uma revista que tinha uma tiragem semanal de 60.000 exemplares e os seus redactores e caricaturistas eram todos ateus e, como tal, pensavam e reagiam como ateus, assumidos, militantes, que são de opinião que a religião e os religiosos, como tais, são objecto de um respeito imerecido.

Por isso, ridicularizavam os símbolos religiosos como o fariam com os políticos, artistas, cientistas, pensadores, porque a sua função era fazer rir ou sorrir por essa forma.

Quem não gostasse não compraria a revista ou não olharia para ela nos escaparates dos quiosques onde se vendiam para não se sentirem ofendidos com os seus desenhos.

Esta é a liberdade em vigor nos países europeus onde ninguém reprova ou desaconselha os desenhos que procuram fazer humor com qualquer outro tema que não seja a religião, que esse ganhou direito a um tratamento especial mas imerecido, na maneira de pensar dos ateus.

O ponto de partida é o de que a fé religiosa é particularmente vulnerável à ofensa e deve ser protegida por uma invulgar grossa muralha de respeito, respeito esse diferente daquele que qualquer ser humano deve ter para com o seu semelhante.

Douglas Adams que foi um escritor e comediante britânico, ateu, famoso por ter escrito os textos para a série televisa Monty Python’s, num discurso improvisado em Cambridge, pouco antes da sua morte exprimiu-o tão bem que todos vão entender:

 - “A religião tem no seu âmago algumas ideias a que chamamos sagradas ou santas ou seja lá o que for. O que significa é o seguinte:

- Aqui está uma ideia ou uma noção sobre a qual não nos é permitido falar mal, pura e simplesmente. Porquê? – Porque não.

Se alguém vota num partido sobre o qual não concordamos somos livres de discuti-lo tanto quanto nos apetecer, cada um terá algo para dizer mas ninguém se sentirá agastado por isso. O mesmo se pode afirmar relativamente aos impostos ou qualquer outro tema.

Mas, se por um qualquer preceito religioso, não se deve rodar o botão do interruptor para acender uma lâmpada ao sábado, logo se diz:  “eu respeito isso”.

Trata-se de um respeito pretensioso da nossa sociedade pela religião."

As pessoas desfilaram aos milhões por toda a Europa para afirmarem o direito da sua imprensa ironizar com o profeta, como já o tinham feito com Cristo, o Menino Jesus ou o Papa, independentemente de muitos discordarem, não gostarem ou terem medo.

A liberdade sempre teve um preço e a eurodeputada socialista experimentou noutros tempos, com toda a coragem, esse preço.

Os cartoonistas do Charlie Hebdo pagaram agora esse preço. A causa foi outra, foi a deles e não a de Ana Gomes.

Quando se ironiza com o Profeta, este ou qualquer outro, o objectivo não é o insulto pelo insulto, é o humor e esta diferença, nas sociedades democratas e laicas é perfeitamente compreendida.

Site Meter