Um psicólogo, fingiu ser varredor durante 1 mês e viveu como um ser invisível.
O psicólogo social FB da Costa vestiu a farda de varredor durante 1 mês e
varreu as ruas da Universidade de São Paulo, onde é professor e investigador,
para concluir a sua tese de mestrado sobre "invisibilidade pública".
Ele
procurou mostrar com a sua investigação a existência da "invisibilidade
pública", ou seja, uma percepção humana totalmente condicionada pela divisão
social do trabalho, onde se valoriza somente a função social e não a pessoa em si. Quem não está bem
posicionado sob esse critério, torna-se uma mera sombra social.
Constatou que, aos olhos da sociedade, os trabalhadores braçais são "seres
invisíveis, sem nome".
Ele trabalhava apenas meio dia como varredor, não recebia o salário de R$ 400
como os colegas, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
- “Descobri que
um simples BOM DIA, que nunca recebi como varredor, pode significar um sopro de
vida, um sinal da própria existência”, explica o investigador. Diz que sentiu
na pele o que é ser tratado como um objecto e não como um ser humano. “Os meus
colegas professores que me abraçavam diariamente nos corredores da Universidade
passavam por mim e não me reconheciam por causa da farda que eu usava.”
- O que sentiu, trabalhando como varredor?
Uma profunda angústia.
Uma vez, um dos varredores convidou-me para almoçar no refeitório central.
Entrei no Instituto de Psicologia para levantar dinheiro, passei pelo piso
térreo, subi as escadas, percorri todo o segundo andar, passei pela biblioteca
e pelo centro académico, onde estava muita gente conhecida. Fiz todo esse
percurso e ninguém EM ABSOLUTO ME RECONHECEU. Fui inundado de uma
indescritível tristeza.
- E depois de um mês a trabalhar como varredor? Isso mudou?
- Fui-me habituando a ser ignorado. Quando via um colega professor a aproximar-se
de mim, eu até parava de varrer, na esperança de ser reconhecido, mas nem um
sequer olhou para mim.
- E quando voltou para casa, para o seu mundo real, o que mudou?
Mudei substancialmente a minha forma de pensar. A partir do momento em que se
experiencia essa condição social, não se esquece nunca mais.
Esta experiência
mudou a minha vida, curou a minha doença burguesa, transformou a minha mente. A
partir desse dia, nunca mais deixei de cumprimentar um trabalhador. Faço
questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe, que é importante, que
tem valor.
Aprendi, verdadeiramente, com esta experiência o valor da dignidade.
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