Pouco depois da noite do temporal... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 180
Antes de acompanhar o marido e a
procissão de moradores em direcção ao morro, Zilda entregou a Coroca um par de
chinelas cara-de-gato com pompom vermelho, prenda de luxo vinda de Ilhéus, e a
Bernarda um pequeno embrulho contendo roupinhas de neném: camisola de pagão,
sapatos de crochê, touca azul com fita branca, tudo feito por ela, jeitosa como
não havia outra.
A barriga de Bernarda estufara. Vai ver
são mabaças, brincou Zilda tocando o ventre da afilhada. Buchuda, pernas
inchadas, não deu para Bernarda acompanhar a madrinha na escalada.
Manejando os facões, Lupiscínio e
Balbino alargavam a trilha recém-aberta.
Natário não voltara ao cimo da colina
desde que ali subira com Venturinha interessado nas minúcias
do acontecido, havia anos.
Pouco depois da noite de temporal, a noite da
tocaia, da Tocaia Grande.
O POVOADO.
A VELHA JACINTA COROCA SE INICIA
NO
CONCEITUADO OFÍCIO DE PARTEIRA
1
- Quem te viu e quem te vê... Assunte no
movimento, dona Coroca... Benza Deus! - O carpina Lupiscínio referia-se às
mudanças ocorridas em
Tocaia Grande.
Dirigiam-se ao descampado, ele e Jacinta
Coroca. Aos domingos pela manhã os lavradores expunham em frente ao barracão de
palha produtos da terra e animais de criação, trazidos na canoa cavada por
Bastião da Rosa e por ele próprio, Lupiscínio, num tronco de vinhático que Ambrósio
e os filhos haviam abatido a golpes de machado.
Naquele princípio do mundo os mestres de
ofício, pedreiros ou carpinas, não enjeitavam encomenda, faziam de um tudo;
todavia a partir do último inverno ninguém podia se queixar da falta de
trabalho.
Sendo os ajustes de boca, maioria no fiado,
acontecia com frequência o pagamento se atrasar, mas a palavra dada bastava
como aval. No mais das vezes a tarefa contava com a ajuda colectiva: a troca de
serviços era moeda corrente no lugar.
Na pisada dos sergipanos de Maroim, duas
outras famílias haviam se estabelecido na margem oposta do rio, lavrando e
plantando, criando galinhas, cabras e porcos. Devido à abundância de cobras
venenosas, construíam as moradias sobre estacas, em baixo instalavam os
chiqueiros.
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