sexta-feira, março 20, 2015

A Primeira 

Gargalhada

(Parte II)











O riso é um mecanismo altamente eficaz para levar os membros de um grupo a sentirem o mesmo ao mesmo tempo.

Pensemos num sinal eléctrico a percorrer uma célula nervosa. Quando chega ao fim, provoca a libertação de substâncias químicas no minúsculo espaço (a sinapse) entre células nervosas, o que, por sua vez, faz as células adjacentes dispararem, propagando o sinal.

Agora pensemos em alguém a rir. Se o riso tem lugar num contexto apropriado, leva espontaneamente outros a rirem-se até todo o grupo estar a rir.

A propagação do sinal é quase tão rápida e automática como a propagação de um sinal eléctrico de uma parte de um determinado cérebro para outra.

Se o riso tem lugar num contexto inapropriado (por ex. num funeral), provavelmente vai provocar um olhar reprovador por parte do resto do grupo e quem ri depressa se vai dar conta do erro.

É difícil pensarmos em nós como neurónios de um cérebro de grupo, mas é isso precisamente que temos de fazer para compreender plenamente o que significa fazer parte de um organismo de grupo disperso.

Quando é apropriado, o riso provoca a boa disposição de toda a gente, como sabemos por experiência própria. Mecanicamente, o cérebro liberta um cocktail de químicos semelhantes aos que se tomam artificialmente quando se quer passar um bom bocado com o ópio ou a morfina.

Ao contrário do riso, consumir estas substâncias faz-nos sentir bem sem nos levar a agir bem.

É que ao fim de uma infinidade de anos de evolução, estes químicos só se libertam naturalmente quando nos fazem agir de uma maneira que aumenta a nossa capacidade de sobrevivência e reprodução.

No que diz respeito aos químicos do cérebro, a mãe natureza sabe o que faz...

Por que motivo a boa disposição aumentou a capacidade de sobrevivência e de reprodução dos nossos antepassados, vimos já no texto de ontem sobre este mesmo tema.

NOTA - A minha experiência da vida reconduz-me, sobre estes momentos de riso colectivo, a uma noite em que um conjunto de oficiais onde me incluía como Aspirante, se reuniu numa confraternização que era própria no fim de um treino militar de algumas semanas.

Um Tenente médico, alto, magro e de aspecto sisudo com uma imagem em tudo oposta a um contador de anedotas, que sempre tinha passado despercebido, iniciou sem que algum de nós o esperasse, uma sessão de anedotas que em tudo se assemelhou, pela reacção que despertou em todos nós, ao efeito de uma droga.

Estabeleceu-se a tal corrente eléctrica de que fala o autor que deve ser semelhante ao provocado pela marijuana ou o ópio embora o fumo existente dentro da tenda fosse apenas os dos cigarros.

Mérito do contador das anedotas que na qualidade de médico bem podia matar de riso os doentes. Uma das anedotas, coisa rara em anedotas - que depois de contadas perdem o efeito surpresa  e a graça - foi repetida a pedido de todos e o efeito foi o mesmo.

Só revelo que era a anedota da vaca que eu nunca contei a ninguém por homenagem ao seu contador. Só ele a sabia contar porque a graça era dele e não da vaca.


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