terça-feira, maio 26, 2015

Eme ngateletele...
No Tempo em

que os Animais

Falavam...

















Não, não é uma parábola de La Fontaine. Esta foi-me ensinada na disciplina de Kimbundu, língua falada no Noroeste de Angola, província de Luanda, por cerca de 3 milhões de pessoas, hoje deverão ser mais, e que eu aprendi vai para 55 anos, no Ano Lectivo 1960/61, do meu Curso de Estudos Ultramarinos, era assim que se chamavam nesse tempo, depois de terem sido Coloniais...

Começava assim, e cito de memória: “Eme negateletele kolombolo dia sangi...” o que, traduzido para português, significava: “Eu costumava contar repetidas vezes a história de um galo acasalado com uma galinha...”

Pois bem, nesse tempo em que os animais falavam as raposas não atacavam os galos até ao dia em que...

- Uma raposa encontrou - se com um galo e meteram conversa. Palavra puxa palavra a raposa foi conduzindo o assunto ao seu jeito, conquistando a confiança e o à vontade do galo que, descontraído, estava já disposto a todas as confidências deste mundo...

E a raposa “atacou”:

 - Diz-me lá, amigo galo, que arma é essa que vocês têm aí na cabeça?

 - A raposa sempre tivera medo da crista dos galos, vermelha, serrilhada, lá bem no alto da cabeça com todo o aspecto de arma secreta para, nos momentos decisivos, aniquilar os inimigos. Por isso, até aí, as raposas nunca tinham atacado os galos.

O galo, ufano, envaidecido pela curiosidade que a sua crista despertara na raposa, respondeu desplicentemente:

 - Ora, não é arma nenhuma. Isto são "carnes somente"... - "xixitu ngó - ... e a raposa comeu o galo.

Como se lembram, as parábolas escondiam ensinamentos, por vezes preciosos, daqueles que podem salvar vidas e se o galo conhecesse esta de que ele próprio foi autor talvez, ainda hoje, galos e raposas se respeitassem. 

Moral da história, perdão, da  parábola:

- Nunca devemos contar aos amigos as nossas fraquezas porque esses amigos poderão um dia ser inimigos e aproveitar-se-ão do conhecimento que lhes revelámos sobre as nossas fraquezas para nos atacarem.

Todos nós, os mais velhos, com mais experiência da vida, se aperceberam do valor deste ensinamento expresso nesta parábola da cultura kimbundu do galo e da raposa:

- ”Eme ngateletele kolombolo dia sangi...” = "eu costumava contar repetidas vezes a história de um galo acasalado com uma galinha..."


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