quinta-feira, maio 28, 2015

Uma rua em Pompeia
POMPEIA














Em 22 de Abril de 2008, na sequência de uma viagem de passeio a Itália que incluía a visita a Pompeia, coloquei aqui no meu blog este texto. Sete anos depois reponho-o novamente e peço a todos que tenham a possibilidade de fazer essa viagem e gostem de coscuvilhar na vida dos outros que viveram há dois mil anos, façam também esta visita e oxalá que tenham a sorte de serem acompanhados de uma Guia turística tão boa como aquela que me acompanhou.
Vão aprender mais do que aquilo que estudaram durante anos sobre os romanos ou melhor, vão aprender coisas diferentes ou, melhor ainda, vão conhecê-los. As nossas raízes culturais e civilizacionais estão ali...


Pompeia


Visitar Pompeia é dar um salto a um passado, ao nosso passado, com 2 mil anos que não é possível fazer em mais nenhum sítio do mundo.


Dezoito mil pessoas, 80% da população de uma cidade que fervilhava de vida, tiveram uma morte horrível sacrificadas no altar da história pelas cinzas de um vulcão para que hoje nos seja possível, com toda a sem cerimónia, vasculhar nas suas vidas.

As ruínas de Pompeia constituem uma espécie de cápsula do tempo e eu estou feliz por ter podido, na semana passada, ainda que por um reduzido período de tempo, sentir o impacto de uma cidade à qual apenas faltam pouco mais que as estruturas de madeira e que permaneceu escondida debaixo de 7 metros de cinzas vulcânicas aguardando que a destapassem para que de novo pudesse voltar à luz do sol.

A história de Pompeia é conhecida de todos, muito em especial dos europeus, pois ela aconteceu numa cidade do sul da Europa e na orla do Mediterrâneo onde se desenvolveu a cultura greco-romana que mais influenciou aquilo que somos hoje como povo.

Mas saber, ver fotografias ou documentários é muito diferente do que estar presente, olhar e sentir, calcorrear ruas e passeios, entrar dentro das casas, observar os trilhos feitos pelos rodados nas lajes das ruas ao longo dos séculos, ruas que numa cidade situada numa encosta que ia dar praia, se transformavam em leitos de pequenos rios que escoavam até ao mar as águas das chuvas.


 Por esta razão, de tantos em tantos metros, pedras mais altas 30 ou 40 centímetros colocadas de atravessado sem impedirem a passagem das viaturas, permitiam que os seus habitantes passassem de um passeio para o outro sem molharem os pés.
E ao longo das ruas lá estão as tabernas, padarias, lojas, aquilo que hoje seriam os restaurantes, edifícios públicos, residências de pessoas ricas como a de Meneandro, única pela quantidade e qualidade do artesanato que continha, bordéis (foram encontrados 25) o teatro, os armazéns, os grandes espaços públicos onde os comerciantes discutiam sobre os negócios e eram expostas as estátuas dos deuses venerados como Apolo, mas também os Templos (haviam 3 dedicados a Apolo, Júpiter e Vénus e um 4º à deusa egípcia Ísis) as arenas, os banhos públicos, enfim, tudo o que era uma cidade daquele tempo.


Ressuscitada com tantos testemunhos a reprodução da vida do dia a dia daquelas pessoas pode hoje ser feita no pormenor desde como viviam, comiam e até como faziam sexo o que terá permitido à guia afirmar que os romanos eram bissexuais.

Os prostíbulos eram constituídos por uma série de quartos cuja mobília era apenas uma cama de pedra com um colchão por cima. À porta, uma simples cortina onde constava o preço e a especialidade da prostituta.

Estas, conhecidas na antiguidade por “lobas”, aguardavam os clientes à entrada vestindo uma toga curta e uma rede fina de fios dourados cobrindo os seios.

Os preços eram populares e correspondiam, nos bordéis ordinários ao preço equivalente a duas taças de vinho barato enquanto que, nos que se destinavam à elite romana, o preço poderia quadruplicar.

Uma das contribuições mais recentes para o entendimento desta memória foi a exposição que teve lugar no Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles de um conjunto de 250 de pinturas e estátuas eróticas recolhidas dos escombros da cidade de Pompeia e de outras três vizinhas que igualmente foram soterradas pelas cinzas do Vesúvio.

São peças de deuses, sátiros e ninfas protagonizando cenas de sexo e um conjunto de frescos que formam uma espécie de Kama Sutra romano.

Esta colecção, por influência da Igreja Católica, esteve sempre guardado numa “sala secreta” cujo acesso só era permitido aos estudiosos.

Diante de tudo isto que era desenterrado em Pompeia alguns chegaram a classificar a cidade como um antro de luxúria e de devassidão, uma espécie de Las Vegas do Império Romano. Esta ideia era reforçada pelas inscrições feitas nos muros da cidade com frases que poderiam estar nas portas das casas de banho de uma cidade moderna.

Mas esta conclusão é demasiado simplista e não corresponde à verdade de acordo com a opinião de reputados antropólogos. Os romanos não faziam sexo com mais frequência do que as pessoas de hoje, simplesmente atribuíam ao acto um carácter religioso e representavam-no na sua arte.

Para os romanos, a reprodução era um momento mágico, sagrado e os falos eram a imagem mais divulgada que se pode ver. Nas paredes, à entrada das casas como sinal de riqueza e prestígio do proprietário, no chão das ruas para indicar a direcção do bordel mais próximo, nos amuletos que se usavam ao pescoço para proteger, no meio das plantações para assegurar a fertilidade dos campos, nas candeias, penduradas à beira das camas, para assegurar ao casal bons fluidos adequados a uma noite de amor.

As romanas, na época do Império, gozavam de muito maior prestígio do que as mulheres contemporâneas de outras civilizações.

Enquanto que na Grécia, por exemplo, o sexo feminino vivia segregado as romanas podiam participar em banquetes, ter propriedades e gerir pequenos comércios e se não tinham direito a voto podiam participar nas campanhas e apoiar os seus candidatos.

Pompeia desfrutava de uma economia próspera com base no seu principal produto que era o vinho mas também a lã e objectos de bronze que trocavam por couro, âmbar e escravos.

Metade da sua população era constituída por crianças e a esperança de vida andava por volta dos 40 anos.

E o que faziam os habitantes de Pompeia num dia normal das suas vidas?

Além das termas e banhos públicos lotavam as tabernas cujos balcões se prolongavam ao longo da rua e nos quais os clientes apressados poderiam beber um copo de vinho acompanhado de uma salsicha ou de um doce quente.

A maioria dos moradores frequentava as 3 arenas da cidade a maior das quais tinha capacidade para 20.000 espectadores e onde assistiam a lutas de gladiadores o mais famoso dos quais, Spartacus, esteve aqui em instalações que nos foi possível visitar.

Mas todos eles gozavam de popularidade tal como hoje os desportistas tendo mesmo direito a adeptos organizados e em 59 D.C., durante uma luta entre dois gladiadores, gerou-se uma zaragata tão grande entre as claques opostas que o estádio esteve interdito durante 10 anos.

Dois quintos da cidade de Pompeia está agora a ser descoberta das cinzas mas com cuidados rigorosos que não foram tidos nos trabalhos anteriores havendo a preocupação de não retirar nada dos locais onde as coisas são encontradas para que a noção do conjunto daquela realidade histórica permaneça o mais possível intocável.

A explosão do Vesúvio constituiu um fenómeno de proporções difíceis de imaginar.

A nuvem resultante dessa explosão foi vista em Londres e o espectáculo foi observado de Roma a 200 km de distância. Pedras com 8 toneladas foram arremessadas a kms e uma montanha com mais de 3100 metros de altura de encostas recobertas de árvores que à curta distancia a que se encontrava de Pompeia constituía uma vista de grande beleza que hoje só podemos imaginar, ficou reduzida a um monte escuro, sem graça, com pouco mais de 1.000 metros.

A maioria das pessoas morreu sufocada pelo ácido clorídrico e outras agonizaram a um calor de quase 500 graus. De seguida, todas foram recobertas pelas cinzas molhadas que com o tempo secaram ajustando-se perfeitamente aos corpos de forma a registar as expressões faciais nos momentos derradeiros.

Depois dos processos de decomposição ficaram moldes ocos que preenchidos com gesso líquido trouxeram de novo para a actualidade as mais famosas imagens da cidade.

O historiador Plínio “O Jovem” que assistiu à distância e pôde sobreviver para contar escreveu:
“Era possível ouvir o lamento das mulheres, o choro das crianças, o grito dos homens. Alguns estavam tão aterrorizados que rezavam pela morte. Outros levantavam as mãos para os deuses e muitos desacreditaram da existência deles naquela noite interminável”.


A cidade permaneceu sepultada durante 1500 anos. Em 1594, o arquitecto Domenico Fontana descobriu por acaso as ruínas enquanto construía um canal. Na época, as pessoas não souberam dar real valor à descoberta; a exploração só começou em definitivo em 1748. A grande maioria da cidade já foi desenterrada, mas ainda há mais por vir.
O Vesúvio não é um vulcão extinto. Ele apenas está adormecido! Pode voltar a ser activo e, por isso, é monitorado.
Para evitar outra tragédia, o governo italiano implantou um plano de incentivo para ajudar locais a se mudarem (são 26 mil habitantes). O problema é que muitos resistem (e denunciam que o valor oferecido pelo governo não é o bastante para uma mudança digna), correndo o risco de viverem um espectáculo de horror como o de quase 2000 anos atrás. 

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