sábado, junho 20, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 3














O preceptor de Afonso Henriques suspirou:

- Discutiram. O conde exigiu que a rainha cedesse a Galiza a Dª Tereza, ameaçou lutar contra ela... Além disso, falou de uma relíquia, trazida da Terra Santa, que iria iluminar a luta contra os serracenos, e que só entregaria a um novo rei.

Nesse momento olhou de novo para Afonso Henriques: - O seu filho.

O desvario apoderara-se da rainha Urraca, que ameaçara matar o conde. Dias depois, tendo este recusado uma proposta de paz ou revelar onde escondera o artefacto sagrado, os efeitos da peçonha haviam-se começado a notar.

A morte por envenenamento fora lenta dando tempo a Dª Tereza para chamar Egas Moniz e o príncipe Afonso Henriques, e também Paio Soares, cumprindo os pedidos do moribundo conde.

O alferes agitou-se, engolindo em seco:

 - Ele falou convosco? – perguntou.

Depois de pedir a Egas que lhe guardasse a sua grande espada, que um dia teria de entregar ao filho, o conde Henrique apenas dirigira algumas palavras a este último, em francês, pois era nascido na Borgonha e nunca aprendera bem a língua do Condado de Portucalense.

Pediu ao menino que lutasse contra os mouros, defendesse as suas terras. No fim, falou em Jerusalém, no túmulo de Cristo... Não o compreendi, já estava a finar-se – contou Egas Moniz.

Observou Afonso Henriques, que permanecia sentado no colchão e de olhos muito abertos, mirando o corpo inerte do pai.

 - Pobre criança – murmurou.

A meio da tarde, perto de soçobrar, o conde perguntara pelo alferes.

- O que te queria ele -  questionou Egas.

Paio Soares ia responder, mas nesse momento a porta abriu-se e por ela entraram a rainha Dª Urraca e sua irmã, a condessa Dª Tereza.

Com os olhos brilhantes de uma curiosidade assaz suspeita, a primeira aproximou-se, e Egas Moniz vislumbrou um sorriso instantâneo de contentamento, que logo desapareceu, coberto por uma cara compungida, falsa mas solene.

 - Que alma sofredora. Desde que o meu pai o baniu de Toledo, nunca mais sossegou – sentenciou Dª Urraca.

Antes dela, Dª Tereza declarou:

- Tenho de o levar, será enterrado em Braga, era o seu desejo.

A rainha suspirou e depois perguntou a Paio Soares:

 - Haveis acompanhado o conde desde que voltou da Terra Santa?

Nervoso, o alferes bateu as pestanas e declarou que assim era.
A rainha quis saber se ele ouvira falar de uma relíquia trazida de Jerusalém, que o conde teria escondido.

Paio Soares, cada vez mais aflito, voltou a negar e então Dª Urraca avisou-o:

 - Cuidado alferes, a mentira tem a perna curta. Tal como a afronta.

Olhou de soslaio para o morto e depois deu meia volta, seguida de Dª Tereza. Ao ver o pequeno príncipe, perguntou à irmã:

- É o vosso aleijadinho?

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