(Domingos Amaral)
Episódio Nº 3
O precept or de Afonso Henriques suspirou:
- Discutiram. O conde exigiu
que a rainha cedesse a Galiza a Dª Tereza, ameaçou lutar contra ela... Além
disso, falou de uma relíqui a,
trazida da Terra Santa, que iria iluminar a luta contra os serracenos, e que só
entregaria a um novo rei.
Nesse momento olhou de novo
para Afonso Henriques: - O seu filho.
O desvario apoderara-se da
rainha Urraca, que ameaçara matar o conde. Dias depois, tendo este recusado uma
proposta de paz ou revelar onde escondera o artefacto sagrado, os efeitos da
peçonha haviam-se começado a notar.
A morte por envenenamento
fora lenta dando tempo a Dª Tereza para chamar Egas Moniz e o príncipe Afonso
Henriques, e também Paio Soares, cumprindo os pedidos do moribundo conde.
O alferes agitou-se,
engolindo em seco:
- Ele falou convosco? – perguntou.
Depois de pedir a Egas que
lhe guardasse a sua grande espada, que um dia teria de entregar ao filho, o
conde Henrique apenas dirigira algumas palavras a este último, em francês, pois
era nascido na Borgonha e nunca aprendera bem a língua do Condado de
Portucalense.
Pediu ao menino que lutasse
contra os mouros, defendesse as suas terras. No fim, falou em Jerusalém, no
túmulo de Cristo... Não o compreendi, já estava a finar-se – contou Egas Moniz.
Observou Afonso Henriques,
que permanecia sentado no colchão e de olhos muito abertos, mirando o corpo
inerte do pai.
- Pobre criança – murmurou.
A meio da tarde, perto de
soçobrar, o conde perguntara pelo alferes.
- O que te queria ele - questionou Egas.
Paio Soares ia responder,
mas nesse momento a porta abriu-se e por ela entraram a rainha Dª Urraca e sua
irmã, a condessa Dª Tereza.
Com os olhos brilhantes de
uma curiosidade assaz suspeita, a primeira aproximou-se, e Egas Moniz
vislumbrou um sorriso instantâneo de contentamento, que logo desapareceu,
coberto por uma cara compungida, falsa mas solene.
- Que alma sofredora. Desde que o meu pai o
baniu de Toledo, nunca mais sossegou – sentenciou Dª Urraca.
Antes dela, Dª Tereza
declarou:
- Tenho de o levar, será
enterrado em Braga, era o seu desejo.
A rainha suspirou e depois
perguntou a Paio Soares:
- Haveis acompanhado o conde desde que voltou
da Terra Santa?
Nervoso, o alferes bateu as
pestanas e declarou que assim era.
A rainha qui s saber se ele ouvira falar de uma relíqui a trazida de Jerusalém, que o conde teria
escondido.
Paio Soares, cada vez mais
aflito, voltou a negar e então Dª Urraca avisou-o:
- Cuidado alferes, a mentira tem a perna
curta. Tal como a afronta.
Olhou de soslaio para o
morto e depois deu meia volta, seguida de Dª Tereza. Ao ver o pequeno príncipe,
perguntou à irmã:
- É o vosso aleijadinho?
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