terça-feira, junho 16, 2015

Choque de Religiões?











Sempre que em viagens de passeio fiquei em cidades islâmicas, o que sempre aconteceu nessas ocasiões foi ser acordado de madrugada pelo chamamento, através se potentes alti-falantes pela voz de um clérigo a alertar os fiéis para a oração.
Com toda a sinceridade, acho aquilo um abuso, um incómodo, um atentado ao meu direito de dormir a manhã descansado, mas os valores da minha cultura dizem-me que na casa dos outros devo aceitar e respeitar os seus hábitos quer sociais, quer religiosos, tanto mais que quando saí da minha terra para os visitar já sabia o que me esperava.
Da mesmo maneira que ao aceitar um convite para jantar em casa de certas famílias cristãs e eles tiverem o hábito de encomendar e agradecer a refeição ao Senhor antes de começarem a comer devo, respeitosamente, aguardar em silêncio o desenrolar da cerimónia.
Ou seja, nos seus países ou nas suas casas, os visitantes devem aceitar com respeito os hábitos de cada um como sinal de boa educação e, acima de tudo, de respeito pelos outros.
Este foi um dos valores que os meus pais e a minha sociedade me transmitiram, faz parte de mim, é indiscutível, mas se na minha cidade de Santarém, onde vivo, se instalasse uma mesquita que me acordasse todos os dias de madrugada para me mandar rezar, a mim, que ainda por cima sou ateu, não iria gostar mesmo nada...
Os cidadãos de países islâmicos do norte de África saem das terras onde, infelizmente, nem têm paz para poder viver, o que aconteceu também pelo contributo directo ou indirecto de países da Europa, e assentam arraiais, ao abrigo de leis da emigração, em países europeus, entre eles a França, transportando consigo, como é inevitável, os seus hábitos sociais e religiosos.
Aqui chegados, reivindicam o direito de viverem como viviam nos seus países , algo parecido como se eu, instalado nas suas cidades, mandasse desligar o alti-falante da mesquita para não ser incomodado no meu sono matinal e que faz parte dos meus hábitos.
A França vive situações deste género de muito difícil resolução pois em determinados bairros de Paris ou em certas cidades, como Marselha, com uma grande concentração de pessoas imigradas de países do Magreb, a descaracterização da sociedade francesa é quase total.
Se pessoas desses contingentes migratórios, da primeira ou segunda geração, especialmente estes, já nascidos em França e portanto seus naturais, irrompem pela Redacção de um jornal, no centro de Paris       e executam pessoas que fazem uns bonecos de que elas não gostam por ofenderem os seus princípios religiosos então... “o caldo começa a entornar-se”.
O Mar Mediterrâneo pode não ser mais que um simples rio a separar dois continentes mas o que acontece é que, na verdade, a religião islâmica estabelece muitas diferenças entre as pessoas que vivem de um e outro lado.
Maomé era um líder militar, ao contrário de Jesus que dava a outra face. Ele unificou tribos e impôs pela espada uma religião, a sua, com regras muito apertadas, preceitos religiosos absorventes em que um crente, para ser um bom fiel, tem a sua vida regulada sobre todos os aspectos nas 24 horas do dia.
A génese destas duas religiões explicam muita coisa.
Para piorar tudo, os preceitos da religião de Maomé ficaram escritos num livro e cada uma das facções religiosas ou grupos de crentes que se lhe seguiram, dá-lhes a sua interpretação, faz a sua leitura, à maneira de certos textos jurídicos que dizem tudo e o seu contrário.
Eduardo Lourenço, filósofo, pensador, que viveu a maior parte da sua vida em França onde acompanhou o aprofundamento das diferenças entre os naturais e várias gerações de muçulmanos diz que nos confrontos com o Islão “nunca vimos a Europa levar a melhor, antes se pode afirmar que a Europa sempre perdeu com o Islão”.
Actualmente, continua ele, “o que acontece de forma inédita é que nestes últimos anos a Europa ficou cercada e o que nos salva são as divisões no seio do próprio Islão, que foi sempre qualquer coisa de impenetrável e, portanto, a tornar-se numa grande sedução para muitos jovens que não encontram nesta Europa dos últimos anos grandes saídas para a vida.”

Neste momento, a situação é de ruptura com centenas de fugitivos de países como a Síria, a Líbia e o Iemen e outros, que depois de terem sobrevivido à travessia do Mediterrâneo reivindicam o direito de passarem da fronteira da Itália para a França invocando, principalmente, solidariedade.

As potencias ocidentais intervieram militarmente no Iraque, na Síria, na Líbia e as estruturas politico-militares que sustentavam essas sociedades desfizeram-se restando o caos e o vazio que está a ser ocupado pelo terror do denominado EI (Estado Islâmico) cuja finalidade é criar um conflito regional que sirva a visão apocalítica que tem da realidade.

Os países europeus não têm uma solução para este problema. Permitiram que a situação se cozinhasse em fogo lento, aplaudindo as "primaveras árabes" mas o que estava a nascer, na realidade, era o "inferno árabe".                                                                                                                                  

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