A juventude é um estado de alma... |
Os meus amigos que visitam o Memórias Futuras e possuem uma certa idade já alguma vez disseram, com uma pontinha de saudosismo, “no
meu tempo é que era bom...”
Eu, por exemplo que me vejo ao espelho todos os
dias, independentemente dos meus 76 anos, continuo a pensar, lá no fundo do meu
íntimo, que velhos são os outros, os mesmos que eram velhos nos tempos em que
eu era rapaz, são sempre os mesmos...
Eles morreram, eu já sou velho mas não passa
nada... continua tudo como sempre, os velhos são os mesmos da minha juventude porque o nosso quadro mental insiste em não mudar o
cheep...
É tal a força desses tempos da juventude que têm
perdurado e dominado em pensamento toda a vida e na hora da minha morte, se eu ainda puder pensar, é dela
que me vou recordar.
Creio que a natureza preparou os homens e as
mulheres para serem jovens. O resto da vida vem por acréscimo, por arrasto, para assegurar a continuação das gerações numa espécie muito exigente, como resultado de uma estratégia de sobrevivência que tem em vista ajudar a criar a segunda geração, tal como na
sociedade dos elefantes em que os velhos são necessários para manter a
disciplina e ordem nos mais novos mantendo a sociedade coesa.
É frequente pessoas que foram pobres na sua juventude, e isso acontece a muito boa gente, porque houve uma evolução positiva nas últimas dezenas de anos e, não obstante, considerarem que o passado era melhor.
- Sabem porquê? – Porque quando desabafamos dessa maneira não pensamos, limitamo-nos a recordar a nossa juventude.
A nossa espécie, para conseguir vingar, teve de
superiorizar-se a todas as restantes num extraordinário “golpe de asa” que
passou por um cérebro capaz de aprender os ensinamentos dos mais velhos ao
longo de muitos anos.
Cada pessoa tem a sua juventude e muitas delas
foram vivências duras de recordações difíceis, mas mesmo quando isso aconteceu
são quase sempre lembradas como tendo sido melhores que o presente.
A minha infância foi um mar de rosas mas a
minha juventude, por causa do divórcio dos meus pais aos 12 anos de idade, foi de dificuldades onde, apesar de tudo, face aos malabarismos do meu pai e
à casa dos meus avós na aldeia, nunca me faltou nada do essencial e, acima de
tudo, sempre pude desfrutar daquelas inesquecíveis férias grandes de Verão, de liberdade no campo com umas sapatilhas nos pés e a companhia do rio Tejo.
Durante toda essa juventude de dificuldades
financeiras, aprendi o valor do dinheiro e a necessidade de que era preciso
estudar para me defender no futuro e compensar o meu pai pelas "dores de cabeça" que ele passava para poder arranjar dinheiro para me pagar os estudos.
Aprendi que as montras tentadoras das lojas não estavam ao meu alcance e quando deflagrou a sociedade de consumo vi nela uma enorme armadilha para a construção de uma falsa felicidade.
Atravessar toda a minha vida nessa disciplina
de gastos, gastando sempre menos do que recebia do meu ordenado de funcionário público, foi uma lição que retirei das dificuldades financeiras da minha
juventude, preciosa lição para estes tempos de crise...
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